Pat Buchanan
Em 1933, o Holodomor (a Grande Fome) estava ocorrendo na Ucrânia.
Depois que os “kulaks,” os fazendeiros independentes, haviam sido liquidados na coletivização forçada da agricultura soviética, uma fome genocida foi imposta sobre a Ucrânia através da apreensão de sua produção de alimentos.
O número de mortos foi estimado entre 2 a 9 milhões de pessoas.
Walter Duranty, jornalista do jornal New York Times, que chamou os relatórios sobre a fome de “propaganda maligna,” ganhou um prêmio Pulitzer por sua mentira.
Em novembro de 1933, durante o Holodomor, o maior esquerdista entre todos, o presidente Franklin Delano Roosevelt, convidou o ministro do Exterior Maxim Litvinov para receber, em nome de seu mestre Stálin e do seu regime assassino, um reconhecimento oficial dado pelo governo dos EUA.
Em 1 de agosto de 1991, apenas quatro meses antes da Ucrânia declarar a sua independência da Rússia, George H. W. Bush, advertiu a Assembleia Legislativa de Kiev:
“Os americanos não irão apoiar aqueles que buscam a independência com o objetivo de substituir uma tirania distante por um despotismo local. Eles não vão ajudar aqueles que promovem um nacionalismo suicida baseado em ódio étnico.”
Em resumo, a independência da Ucrânia nunca foi parte dos interesses dos Estados Unidos. De 1933 a 1991, nunca foi um interesse vital dos EUA. Bush pai era contra.
Quando, então, foi que o problema sobre qual é a bandeira que tremula sobre Donetsk ou Crimeia se tornou tão fundamental que os EUA armariam os ucranianos para combater os rebeldes apoiados pelos russos e considerariam dar uma garantia de guerra da OTAN para Kiev, potencialmente trazendo os EUA para uma guerra com uma Rússia armada com armas nucleares?
Desde Franklin Delano Roosevelt, os presidentes dos Estados Unidos sentiam que os EUA não poderiam permanecer isolados dos governantes da Rússia, que geograficamente é a maior nação do mundo.
Ike (Dwight David “Ike” Eisenhower) convidou Khrushchev (Nikita Sergeyevich Khrushchev) para uma turnê nos EUA, depois que ele havia esmagado de modo sangrento a Revolução Húngara. Depois de Khrushchev colocar mísseis em Cuba, JFK (John Fitzgerald Kennedy) foi logo pedindo um novo abrandamento das tensões da Guerra Fria em discurso na Universidade Americana.
Algumas semanas depois que os exércitos dos países do Pacto de Varsóvia esmagaram a Primavera de Praga (liberalização política na Tchecoslováquia) em agosto de 1968 e LBJ (Lyndon Baines Johnson) já estava buscando um encontro com o primeiro-ministro russo Alexei Kosygin.
Após criticar fortemente Moscou sobre a derrubada do voo 007 da empresa Korean Air Lines por um míssil soviético, em 1983, o velho guerreiro da Guerra Fria, Ronald Reagan, estava buscando uma reunião de cúpula.
O que estou querendo dizer: Todos os presidentes desde FDR (Franklin Delano Roosevelt) até George H. W. Bush, mesmo depois de conflitos com Moscou que foram muito mais graves do que o embate atual sobre a Ucrânia, procuraram voltar a buscar reuniões pessoais com os homens no Kremlin.
Seja o que for que pensamos dos ditadores soviéticos que bloquearam Berlim, escravizaram a Europa Oriental, colocaram foguetes em Cuba e armaram os árabes para atacar Israel; Ike, JFK, LBJ, Nixon, Ford, Carter, Reagan e Bush pai, todos eles buscaram reuniões pessoais com os governantes da Rússia.
Evitar uma guerra catastrófica exigia reuniões pessoais.
Como, então, podemos explicar o clamor da elite da política externa atual dos EUA para enfrentar, isolar e incapacitar a Rússia, e fazer de Putin um leproso político e moral com quem estadistas honrosos nunca consigam negociar?
O que foi que Putin fez que rivaliza com a fome imposta na Ucrânia que matou milhões, ou com o massacre dos rebeldes húngaros ou com o aniquilamento da Tchecoslováquia pelos membros do Pacto de Varsóvia?
Na Ucrânia, Putin respondeu a um golpe de Estado apoiado pelos EUA, o qual derrubou um aliado político da Rússia que havia sido democraticamente eleito, com um ataque sem derramamento de sangue da Crimeia pró-Rússia, onde Moscou tem atracado a sua frota do Mar Negro desde o século 18. Isso é rotina geopolítica de Grande Potência.
E apesar de Putin colocar um exército na fronteira da Ucrânia, ele não ordenou uma invasão ou ocupação de Luhansk ou Donetsk. Será que isso realmente tem a aparência de uma campanha militar para remontar o Império Russo dos Romanov ou o Império Soviético de Stálin, que alcançou até o Elba?
Quanto à derrubada do avião da Malásia, Putin não ordenou isso. O senador John Cornyn disse que os serviços de inteligência dos EUA ainda não apresentaram nenhuma evidência que ligue o míssil disparado com a Rússia.
As interceptações dos serviços de Inteligência parecem indicar que os rebeldes ucranianos achavam que tinham atingido um avião de transporte militar Antonov.
No entanto, hoje, a principal voz de política externa do Partido Republicano, o senador John McCain, chama a Casa Branca de Obama de “covarde” por não armar os ucranianos para combater os separatistas apoiados pelos russos.
Mas suponha que Putin responda à chegada de armas americanas em Kiev ocupando o leste da Ucrânia. O que os EUA fariam então?
John Bolton (ex-embaixador dos EUA na ONU) tem a resposta: Traga a Ucrânia para a OTAN.
Tradução: Os EUA e a OTAN devem fazer guerra com a Rússia, se necessário, por causa de Luhansk, Donetsk e a Crimeia, embora nenhum presidente dos EUA já tivesse achado que valia a pena uma guerra com a Rússia por causa da Ucrânia.
O que motiva Putin parece simples e compreensível. Ele quer o respeito devido a uma potência mundial. Ele se vê como protetor dos russos deixados para trás nas vizinhanças da Rússia. Ele adora fazer política de Grande Potência. A história está cheia de tais homens.
Ele tem dado permissão para que aviões militares americanos sobrevoem a Rússia para ir ao Afeganistão. Ele coopera na P5+1 sobre o Irã (esforços diplomáticos de 5 países que são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha, sobre o Programa Nuclear Iraniano). Ele ajudou os EUA a livrar a Síria de armas químicas. Ele lança astronautas americanos em órbita, colabora na guerra contra o terrorismo e discorda dos americanos na questão da Crimeia e na Síria.
Mas o que é que está motivando os americanos que estão procurando todas as oportunidades para reiniciar a Guerra Fria?
Não seria um desejo desesperado de aparecer uma vez mais como um líder igual foi “Churchill”, uma vez mais como um herói, uma vez mais relevante, como eles mesmos se viam durante a Guerra Fria, que já terminou há muito tempo?
Quem é que está sendo o verdadeiro problema aí?
Pat Buchanan é colunista do WND e foi assessor do presidente Ronald Reagan.
Traduzido por mim do artigo do WND: Is Putin worse than Stalin?
Fonte: www.juliosevero.com