A oração do “Pai Nosso” ensinada por Jesus é profunda em muitos aspectos, mas não quero tratar especificamente dela aqui. Este meu post é para desmistificar uma informação errada dada em muitos púlpitos, ou por mera ignorância ou por uso de engano e mentira.
Eventualmente ouço de alguns pregadores que Jesus inovou ao usar a expressão “Pai Nosso” como se nunca antes tivesse sido usada para se dirigir ao SENHOR por alguém de Israel … realmente Jesus É inigualável, afinal sendo quem É, isso não poderia ser diferente! Entretanto, alguns pregadores afirmam que Deus nunca foi chamado de Pai no Antigo Testamento até vir Jesus; na verdade estes que assim o dizem acabam testemunhando contra eles mesmos afirmando assim que não conhecem a própria Bíblia que usam para pregar, visto que está escrito tanto no plural ( nosso Pai ), quanto no singular ( meu Pai ) …
“A ternura do Teu coração e as Tuas misericórdias se detêm para comigo! Mas Tu És nosso Pai ( אָבִ֔ינוּ ‘avinu ), ainda que Abraão não nos conhece, e Israel não nos reconhece; Tu, ó SENHOR, És nosso Pai ( אָבִ֔ינוּ ‘avinu ); nosso Redentor é o Teu nome desde a antiguidade.” (Isaías 63:15b,16)
“Mas agora, ó SENHOR, Tu És nosso Pai ( אָבִ֣ינוּ ‘avinu ), nós somos o barro, e Tu, o nosso Oleiro; e todos nós, obra das Tuas mãos.” (Isaías 64:8)
“Não é fato que agora mesmo tu Me invocas, dizendo: Pai meu, tu És o amigo da minha mocidade? … Mas eu a mim me perguntava: como te porei entre os filhos e te darei a terra desejável, a mais formosa herança das nações? E respondi: Pai Me chamarás e de Mim não te desviarás.” (Jeremias 3:4,19)
Há ainda muitos outros exemplos como estes acima citados, assim como também nos textos antigos conhecidos e nos pergaminhos do Mar Morto. Estes pergaminhos e textos antigos escritos antes de Cristo mostram que a famosa expressão “Pai Nosso”, em oração, não era inovação naquele tempo, prova disso também é o registro no Talmude ( assim como em outros pergaminhos antigos ) do uso dessa mesma expressão em orações entre os judeus; tanto antes de Cristo, como durante o tempo de Cristo e também depois de Cristo entre os judeus ortodoxos.
Um exemplo disso é a oração “Avinu Malkeinu” cujo trecho está compartilhado na imagem deste post ( a tradução na imagem foi automática pelo Google por isso a qualidade não tão boa da tradução ) … Avinu Malkeinu ( em hebraico : אָבִינוּ מַלְכֵּנוּ ; “Pai Nosso, Rei Nosso” ) é uma oração judaica recitada durante os cultos judaicos nas Festas de Rosh Hashaná ( Trombetas ) e Yom Kippur ( Expiação ), bem como nos Dez Dias de Arrependimento de Rosh Hashaná até o Yom Kippur. Na tradição asquenazita, essa oração é recitada em todos os dias de jejum; na tradição sefardita, apenas porque é recitada nos Dez Dias de Arrependimento, ela não ocorre nos dias de jejum de Yom Kipur e no Jejum de Gedalias. Perceba que a expressão nessa oração “אָבִינוּ Avinu” ( “Pai nosso ou nosso Pai” ) é similar ao texto de Isaías 63:16 citado anteriormente, o que por si demonstra ser uma expressão conhecida pelo menos 600 anos antes de Cristo.
Joseph H. Hertz (falecido em 1946), rabino chefe do Império Britânico, descreveu a oração “Avinu Malkeinu” como: “a mais antiga e comovente de todas as litanias do Ano Judaico”. Ela faz uso de dois cognatos para Deus que aparecem separadamente na Bíblia; “Pai Nosso” (Isaías 63:16) e “Rei Nosso” (Isaías 33:22). Para ilustrar melhor a citação do Rabino, seguem os textos referidos abaixo:
“Mas Tu És nosso Pai, ainda que Abraão não nos conhece, e Israel não nos reconhece; Tu, ó SENHOR, És nosso Pai; nosso Redentor é o Teu nome desde a antiguidade.” (Isaías 63:16)
“Porque o SENHOR É o nosso juiz, o SENHOR É o nosso legislador, o SENHOR É o nosso Rei; Ele nos salvará.” (Isaías 33:22)
Por favor, entenda … eu não quero de forma alguma diminuir a importância e a profundidade da oração do “Pai Nosso” que nos foi ensinada pelo nosso Senhor, até porque ninguém como Ele, até aquele momento, poderia dizer essas palavras com tamanha propriedade e autoridade, as quais felizmente nos foram também outorgadas posteriormente, por meio de adoção pelo SENHOR através da Nova Aliança em Cristo.
Mas isso apenas mostra que certas afirmações que muitos fazem em púlpitos precisam possuir melhor precisão e serem profundamente estudadas à luz das Escrituras ( pelo menos ), assim como também é recomendável que se faça estudos por meio da própria história e cultura do povo de Israel para sermos os mais verdadeiros e precisos que nos for possível sem fazer uso de engano ou de “frases de efeito” para alcançar determinados objetivos. As Escrituras são verdadeiras e poderosas por si, não há necessidade de subterfúgios ou mentiras para se alcançar o seu objetivo.
Espero ter colaborado para aumentar o conhecimento e diminuir a ignorância nesse aspecto.
Que o “Nosso Pai, Nosso Rei” lhe abençoe! 🙏❤️
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** Caso deseje ouvir essa bela e antiga oração “Avinu Malkeinu“, você pode assistir a este vídeo no YouTube onde ela está traduzida e é maravilhosamente cantada por Barbra Streisand …
A narrativa comprimida e um tanto obscura de Gênesis 9:20-27 tem sido um quebra-cabeça exegético desde a antiguidade. A dispersão da narrativa, com sua difícil característica e sugestões sutis de transgressão sexual, deixaram gerações de leitores e estudiosos achando que há mais na história do que o narrador deixou explícito. Como muitos apontaram, os debates interpretativos geralmente giram em torno de duas questões inter-relacionadas:
(1) a natureza da ofensa de Cam ( afinal, por que o fato de Cam “ver” a nudez de Noé mereceria uma maldição? ) e …
(2) a justificativa para o castigo de Canaã ( se Cam era o autor, por que então apenas Canaã, um dos quatro filhos de Cam, é que foi amaldiçoado? ).
Os contornos básicos da história (Gênesis 9:20-27) são bem conhecidos. Após o dilúvio, Noé planta uma vinha, bebe seu vinho, fica bêbado e se descobre em uma tenda (v. 21). Cam, identificado como o pai de Canaã, vê a nudez de seu pai ( no hebraico: וַיַּ֗רְא חָ֚ם אֲבִ֣י כְנַ֔עַן אֵ֖ת עֶרְוַ֣ת אָבִ֑יו ) e conta o fato aos seus irmãos do lado de fora (v. 22). Sem e Jafé pegam uma capa e entram na tenda de costas. Com os olhos desviados, eles cobrem o pai (v. 23). Quando Noé acorda, ele toma conhecimento do que Cam “fez com ele” ( no hebraico: עָ֥שָׂה־ל֖וֹ, v. 24). Ele então abençoa Sem e Jafé, mas amaldiçoa o filho mais novo de Cam, Canaã (vv. 25-27).
Os exegetas, desde a antiguidade, formularam algumas teorias para ação de Cam e a maldição de Canaã, as mais comuns são: voyeurismo, castração ou incesto paterno. Esta última explicação parece estar desfrutando de um renascimento de popularidade em alguns estudos recentes. Porém, existe uma quarta explicação possível para a ação de Cam: incesto materno; o que explica simultaneamente a gravidade da ofensa de Cam e a justificativa para a maldição de Canaã, que é fruto da união ilícita.
Para entender os argumentos dessa teoria é preciso primeiro revisar as explicações tradicionais para a ofensa de Cam, identificando as suas fraquezas. Em seguida, veremos a base exegética para a teoria do incesto materno. Em particular, veremos que os argumentos para a interpretação atualmente popular da ação de Cam como incesto paterno é mais adequada para apoiar a teoria do incesto materno.
As visões tradicionais
Voyeurismo
A visão de que a ofensa de Cam era voyeurismo – que ele não fez mais nada do que contemplar o seu pai nu – teve amplo apoio tanto na antiguidade quanto na modernidade. A força dessa posição é o seu conservadorismo: ela se recusa a ver qualquer coisa no texto que não seja explícita. No entanto, em certo sentido, o voyeurismo é uma explicação inexistente, pois falha em elucidar a gravidade da ofensa de Cam ou a razão da maldição de Canaã. Também exige que o intérprete assuma a existência de um tabu contra a visão acidental de se observar um pai nu que, de outra forma, não é atestado na literatura bíblica ou antiga do Oriente Médio. O acadêmico Donald J. Wold observa: “Os estudiosos que aceitam a visão literal (…) devem defender um costume sobre o qual nada sabemos”.
Alguns defensores dessa visão se contentam em aceitar as características desagradáveis da narrativa de Gênesis 9:20-27 como inexplicáveis e/ou arbitrárias. No entanto, aqueles exegetas que, através do trabalho de acadêmicos como Robert Alter, Michael Fishbane e outros, que têm passado a apreciar a arte literária e a sutileza dos autores bíblicos e o significado da intertextualidade bíblica dificilmente achará essa posição satisfatória. Há um reconhecimento crescente de que a narrativa do pentateuco raramente é descuidada ou arbitrária e possui ecos intertextuais ( a serem examinados a seguir ) e que raramente são coincidentes.
Castração
A visão rabínica tradicional de que Cam castrou Noé surgiu como uma tentativa de abordar as inadequações da interpretação voyeurística. Uma discussão clássica da visão é encontrada no Talmude em Sanhedrin 70a ( transcrito a seguir com minha tradução ):
E Noé despertou do seu vinho e soube o que seu filho mais novo lhe havia feito. [ Com relação ao último verso ] Rav e Samuel [ diferem ], um mantendo que ele o castrou, enquanto o outro diz que ele abusou sexualmente dele. Aquele que afirma que o castrou, [ raciocina assim: ] Desde que o amaldiçoou por seu quarto filho, ele deve tê-lo ferido em relação a um quarto filho. Mas quem diz que o abusou sexualmente faz uma analogia entre “e viu” escrito duas vezes. Aqui está escrito: E Cam, pai de Canaã, viu a nudez de seu pai; enquanto em outro lugar está escrito, e quando Siquém, filho do heveu Hamor, a viu [ ele a tomou, deitou-se com ela e a humilhou ] ( Gênesis 34:2). Isso indica que o termo “ver” denota uma relação sexual. Agora, na visão de que ele o emasculou [ castrou ], é certo que ele o amaldiçoou por seu quarto filho; mas, na opinião de que ele o sodomizou, por que ele amaldiçoou seu quarto filho? Ele deveria ter amaldiçoado diretamente a Cam.
Aqui vemos os sábios lutando com as duas questões do texto identificadas acima: a gravidade do pecado de Cam e a maldição de Canaã. Rav conclui que Cam deve ter castrado Noé. A favor da visão de Rav, pode-se citar exemplos da mitologia do Oriente Médio ( embora nenhum da Bíblia ) de um filho castrando o seu pai como parte de um esforço para usurpar a sua autoridade. Sugere uma possível motivação para o pecado de Cam e também fornece uma justificativa, embora complexa, para a maldição de Canaã: Noé amaldiçoa o quarto filho de Cam, já que Cam privou Noé de ter um quarto filho. O que falta, no entanto, é qualquer sugestão lexical no texto de Gênesis 9:20-27 que sugira castração.
Incesto paterno
A visão alternativa de Samuel em Sanhedrin 70a – a de que Cam abusou sexualmente de Noé – está desfrutando de um surpreendente ressurgimento contemporâneo, obtendo o apoio de vários acadêmicos que representam abordagens teológicas e metodológicas divergentes, mas que estão unidos pela convicção de que o autor literário de Gênesis transmite algo mais em Gênesis 9:20-27 do que uma simples leitura “voyeurista” que a passagem revela. Uma das defesas mais profundas dessa posição é a de Robert Gagnon em sua obra publicada “The Bible and Homosexual Practice”, mas outros defensores incluem Anthony Phillips, Devorah Steinmetz, Martti Nissinen, Donald J. W. E. Forrest, Ellen van Wolde e Susan Niditch que são simpáticas a idéia, se não até comprometidas com essa visão.
Como apontaram Hermann Gunkel, Gagnon e muitos outros, a maneira como o texto descreve Noé como percebendo “o que seu filho mais novo havia feito com ele” sugere alguma ação mais substancial do que a visão passiva.Ela sugere um ato ou ação de que Noé foi o destinatário ou vítima. De fato, acontece que a frase usada para descrever a transgressão de Cam – “ver a nudez do pai” – é uma expressão idiomática para uma relação sexual. Levítico 20:17 iguala as expressões idiomáticas “ver a nudez” e “descobrir a nudez“:
“Se um homem tomar a sua irmã, filha de seu pai ou filha de sua mãe, e vir a nudez dela, e ela vir a dele, torpeza é; portanto, serão eliminados na presença dos filhos do seu povo; descobriu a nudez de sua irmã; levará sobre si a sua iniqüidade.” (Levítico 20:17)
A frase “descobrir a nudez“, por sua vez, é a expressão usual para a relação sexual no Código de Santidade registrado no Pentateuco:
“Nenhum homem se chegará a qualquer parenta da sua carne, para lhe descobrir a nudez. Eu sou o SENHOR.” (Levítico 18:6)
A mesma linguagem ocorre nas descrições de promiscuidade sexual e violência sexual em Ezequiel 16:36-37; 22:10; 23:10,18,29. Assim, de uma perspectiva intertextual, a descrição do ato de Cam como “ver a nudez de seu pai” implica mais do que uma “visão” literal.
Além do uso da frase “ver a nudez” no hebraico, existem outros lexemes carregados eroticamente em Gênesis 9:20-27 que sugerem uma situação de transgressão sexual. O vinho, por exemplo, está intimamente ligado à sexualidade na literatura bíblica e antiga do Oriente Médio. Significativamente, a única outra referência à embriaguez em Gênesis também ocorre no contexto do incesto entre pais e filhos: Gênesis 19:30-38, no relato da relação de Ló com suas filhas como a origem de Moabe e Amom. O Cântico dos Cânticos está repleto de imagens de vinho como um símbolo da sexualidade e – surpreendentemente – a vinha como um local para fazer amor. O consumo de vinho funciona como um prelúdio para a relação sexual no livro de Cântico dos Cânticos (8:2) e nos tratos de Davi com Urias, o heteu (2 Samuel 11). Urias se recusa a ir para casa, onde ele “beberia vinho e deitaria com sua esposa” (2 Samuel 11:11), então Davi o embebeda na esperança de que ele retorne para a esposa e tenha relações com ela.
Além da vinha e do vinho, existe a palavra usada para Noé despir-se ou “descobrir-se” ( וַיִּתְגַּ֖ל ). Esta raiz é usada extensivamente em Levítico 18 e 20 e em várias passagens de Ezequiel, geralmente em combinação para designar intercurso sexual ilícito ( geralmente incestuoso ), e também nos dois versículos de Deuteronômio que condenam o incesto entre pais e filhos (Dt 22:30 e 27:20). Normalmente, o despir-se de Noé é pensado apenas como sendo resultado de sua embriaguez, mas os indivíduos normalmente não se despem simplesmente porque estão bêbados. Noé “se descobrindo” ( se despindo ) na tenda certamente carrega conotações eróticas. O acadêmico Steinmetz comenta: “‘ver’ a nudez é mais do que ver, ‘descobrir’ é mais do que descobrir.”
Quando Gênesis 9:20-27 é entendido como um caso de incesto entre pai e filho, de repente se tornam aparentes e perceptíveis as ligações literárias com outros relatos em Gênesis e no resto do Pentateuco. Por exemplo, vários críticos narrativos sugeriram que Gênesis 9:20-27 está intimamente ligado a Gênesis 6:1-4, a história da relação sexual dos “filhos de Deus” com as “filhas dos homens”. Um relato introduz a narrativa do dilúvio e o outro relato a conclui; Gênesis 5:32 continua em Gênesis 9:28-29, formando um incluso em torno das duas histórias. Quando Gênesis 9:22 é entendido como incesto paterno, fica bem claro que as duas histórias são unidas pelo tema das relações sexuais ilícitas.
Da mesma forma, os estudiosos Niditch, Steinmetz, Kunin e muitos outros veem ligações temáticas entre Gênesis 9:20-27 e Gênesis 19:30-38, com a história das filhas de Ló e a procriação de Moabe e Amom. As semelhanças entre os dois relatos são numerosos: na sequência de um julgamento divino calamitoso, instigado pela maldade dos homens – especialmente a maldade sexual (conforme Gênesis 6:4; 19:5), que destrói a terra ou grande parte dela – um patriarca idoso está bêbado, facilitando a relação entre pais e filhos, dando origem a um ou mais inimigos tradicionais de Israel (Canaã, Moabe e Amom). Os paralelos dificilmente parecem coincidentes. Steinmetz ressalta que “o paralelo entre a história de Ló e a história da vinha confirma a implicação de uma violação sexual de Noé por seu filho“.
Muitos estudiosos observaram uma relação entre Gênesis 9:20-27 e Levítico, capítulos 18 e 20. Levítico 18 e 20 estão intimamente ligados, o capítulo 20 especifica as penalidades pelos pecados descritos no capítulo 18. Ambos os capítulos estão ligados a Gênesis 9:20-27 pelas palavras, expressões e frases no hebraico “descobrir“, “nudez do pai” e “ver nudez“. Além disso, Levítico 18 abre com um aviso para não imitar as práticas dos habitantes de Canaã ou do Egito, os dois descendentes mais proeminentes de Cam (v. 3, cf. Gênesis 10:6). Vários comentaristas entendem a introdução de Levítico 18 (vv. 1-5) como referindo-se à violação de Noé por Cam, argumentando que ambos os capítulos 18 e 20 são uma reflexão, em termos legais, sobre Gênesis 9:20-27 ou que Gênesis 9:20-27 é uma narrativa etiológica baseada no relato de Levítico 18:1-8.
Uma situação semelhante existe em relação a Deuteronômio 22:30:
“Nenhum homem tomará sua madrasta e não profanará o leito de seu pai.” (Deuteronômio 22:30)
O acadêmico Anthony Phillips (“Uncovering the Father’s Skirt”, 250) , argumenta:
Deuteronômio 22:30 é uma deliberação intencional do deuteronomista e faz parte de seu material anti-cananeu. Foi acrescentado no topo da lista de relações sexuais proibidas em Lv 18:7-23 que os cananeus, antigos habitantes da terra, se comprometeram (Lv 18:24-30) porque nenhum relacionamento era mais repugnante para os israelitas do que aquele associado a Cam, pai de Canaã.
Phillips considera o pecado de Cam em Gênesis 9:20-27 como incesto paterno e argumenta que Deuteronômio 22:30 deve ser entendido literalmente, como se referindo às relações sexuais com o pai. Além de esclarecer as ligações entre Gênesis 9:20-27 e outros textos pentateucais relacionados, os defensores da teoria do incesto paterno apontam que sua visão oferece uma possível motivação para a ação de Cam. Humilhando o seu pai, Cam esperava usurpar a autoridade de seu pai e deslocar seus irmãos mais velhos na hierarquia familiar. Martti Nissinen (“Homoeroticism in the Biblical World”, 53), observa que a história “não fala da orientação homossexual de Cam, mas de sua fome de poder“. Isso explica porque Cam prontamente informou aos seus irmãos do que havia feito (Gênesis 9:22b).
Uma objeção óbvia à visão do incesto paterno é que a ação dos irmãos no v. 23 indica que a nudez de Noé era literal; assim, Cam “ver” no v. 22 deve ser encarado literalmente (como voyeurismo), em vez de idiomático (como relação sexual). Mas a objeção não é conclusiva. Robert A. J. Gagnon (“The Bible and Homosexual Practice”, 67) comenta a importância do v. 23:
As ações dos irmãos em “cobrir a nudez do pai” e se esforçar muito para não olhar para o pai são compatíveis com a interpretação de “ver a nudez do outro” como relação sexual. As ações dos irmãos jogam no significado mais amplo da frase. Não apenas os irmãos não “viram a nudez de seu pai” no sentido de ter relações sexuais com ele, mas também não ousaram “ver a nudez de seu pai” em um sentido literal. Onde o ato de Cam era extremamente mau, o gesto dos irmãos era extremamente piedoso e nobre.
Da mesma forma, Devorah Steinmetz (“Vineyard, Farm, and Garden: The Drunkenness of Noah in the Context of Primeval History”), reconhece que o v. 23 “apóia a idéia de que a violação sexual tem implicações mais amplas do que qualquer ato físico que possa estar envolvido“, no entanto, não considera que a ação de Sem e Jafé “negue a implicação da imoralidade sexual nesse processo da história”.
Para resumir, a interpretação da ação de Cam como incesto paterno é apoiada pelo significado idiomático da frase “ver a nudez do pai” e os tons eróticos do texto. Tem o valor heurístico de esclarecer e mostrar relações intertextuais entre Gênesis 9:20-27 e Gênesis 6:1-4; 19:30-38; Levítico 18; 20; e Deuteronômio 22:30. Também fornece uma possível explicação para a motivação de Cam. No entanto, não aborda a lógica da maldição de Canaã.
Os argumentos que os estudiosos acadêmicos organizaram em favor da teoria do incesto paterno são substantivos. As imagens eróticas do texto, o significado idiomático de “ver a nudez”, os paralelos com outros textos pentateucais e a natureza da ação de Cam como uma peça de poder político-familiar parece apoiar a suposição de que Cam cometeu um ato incestuoso. Manter em face dessa evidência que Cam apenas olhou para Noé é dar ouvidos surdos às nuances literárias da narrativa. No que se segue, no entanto, será demonstrado que em quase todos os casos, esses argumentos para o incesto paterno são mais adequados para argumentar sobre o incesto materno.
A visão do incesto materno
Começamos com o significado idiomático da frase em hebraico “ver a nudez do pai” (v. 22). Os proponentes da teoria do incesto paterno estão corretos para equiparar essa expressão no hebraico com “descobrir a nudez” em Levítico 20:17, entendendo ambos como eufemismos para a relação sexual. Contudo, pode-se levar esse insight válido a um passo adiante, reconhecendo que em todos os textos relevantes,essa expressão está associada à atividade heterossexual, e “a nudez do pai” na verdade se refere “à nudez da mãe“. Por exemplo, em Levítico 18:7,8, a “nudez do seu pai” é definida como “a nudez de sua mãe“:
“Não descobrirás a nudez de teu pai e de tua mãe; ela é tua mãe; não lhe descobrirás a nudez. Não descobrirás a nudez da mulher de teu pai; é nudez de teu pai.” (Levítico 18:7,8)
Da mesma forma, Levítico 18:14,16; 20:11,30 21 descrevem a nudez de uma mulher como a nudez de seu marido. A mesma lógica está em ação em Deuteronômio 22:30 e 27:20, que descreve a relação com a esposa do pai como “descobrindo a nudez do pai“.
Pelo contrário, os dois versículos no Pentateuco que condenam as relações homossexuais (Levítico 18:22 e 20:13) usam o verbo שׂכב ( shakab ), e não גלה ( galah ) como em Gênesis 9:21-23. Nenhuma combinação dos termos é encontrada associada a relações homossexuais em qualquer lugar da Bíblia.
Portanto, a frase em hebraico “ver a nudez do pai” em Gênesis 9:22 é um eufemismo para relações sexuais de fato, mas relações heterossexuais em vez de homossexuais. Se levarmos em conta a nuance do idioma bíblico, a afirmação de que Cam “viu a nudez de seu pai” implica relações com a esposa de Noé, presumivelmente a mãe de Cam. Isso é sustentado pelo fato de que as imagens da vinha e do vinho estão associadas apenas à relação heterossexual na Bíblia, seja na história de Ló e suas filhas (Gênesis 19:30-38), Davi-Urias-Batseba (2 Sam 11), ou o Cântico dos Cânticos (Cânticos 1:2,4; 2:4; 4:10; 5:1; 7:9; 8:2). Por exemplo, o autor de Cânticos canta relações entre homens e mulheres quando ele (ou ela) exclama: “seus beijos são como o melhor vinho” (7:9) e “vamos sair cedo para as vinhas. … ali dar-te-ei o meu amor” (7:12).
É salutar lembrar que em Gênesis 9:1-17, no relato imediatamente antes da narrativa em discussão, Noé e seus filhos recebem duas vezes o comando para “ser fecundo e multiplicar” (9:1,7). Gênesis 9:19 (“deles toda a terra foi povoada“) sugere que os filhos cumpriram esse comando e Gênesis 9:18,22 enfatizam o papel de Cam como progenitor de Canaã. Portanto, não é irracional interpretar as ações de Noé e Cam em Gênesis 9:20-22 no contexto de atividade procriativa, mesmo que imperfeita ou distorcida, Noé bebeu e despiu-se em um esforço para procriar; Cam interveio e conseguiu.
Especificamente, se a ação de Cam é entendida como incesto materno, torna-se possível explicar a origem de Canaã como fruto dessa união. Esse insight ilumina repentinamente dois aspectos do texto deixados sem resposta pelos teóricos do incesto paterno: por que Canaã é amaldiçoado e por que Cam é repetidamente identificado como “o pai de Canaã”?! Canaã é amaldiçoado porque sua origem foi um ato vil e de tabu por parte de seu pai. Cam é repetidamente, e aparentemente de modo supérfluo, identificado como “o pai de Canaã” (vv. 18 e 22) porque o narrador deseja sinalizar ao leitor que essa narrativa explica como Cam se tornou “o pai de Canaã”. Ellen van Wolde, (“Stories of the Beginning: Genesis 1-11 and Other Creation Stories”, 146), observa:
O texto é aberto … Cam era pai de Canaã (9:18). É impressionante que Cam seja nomeado pai no exato momento em que é apresentado como filho. Mais tarde, na transgressão de Cam, acontece exatamente a mesma coisa: “Cam, o pai de Canan, viu a nudez de seu pai” (9:22). Parece um tanto estúpido. … Evidentemente, o texto quer colocar toda a ênfase na paternidade de Cam, ou melhor, pelo fato de ele ser o pai de Canaã.
A repetição não é estúpida, no entanto, se o relato está explicando como Cam tornou-se pai de Canaã.
Uma vez que a ofensa de Cam seja entendida como heterossexual e procriadora (de Canaã), os elos que os teóricos do incesto paterno reconhecem entre Gênesis 9:20-27 e Gênesis 6:1-4; 19:30-38; Levítico, capítulos 18 e 20; Deuteronômio 22:30 e 27:20 são esclarecidos e fortalecidos. Todas essas outras passagens dizem respeito a relações heterossexuais.
Como mencionado acima, os estudiosos observam corretamente uma polêmica Camítica e anti-cananita nas leis de Santidade do Pentateuco proibindo o incesto (Levítico 18; Deuteronômio 22:30; 27:20), mas as categorias de incesto listadas são associados com as nações Camíticas de Canaã e do Egito vinculada com a esposa do pai (Levítico 18:6,7), que também é assunto de Deuteronômio 22:30 e 27:20; um vínculo lógico entre essas leis e Gênesis 9:20-27 pode estar presente se o pecado de Cam for um incesto materno.
Há uma justificativa por trás da atribuição das origens de Canaã e Moabe/Amom a diferentes formas de incesto (filho-mãe versus filha-pai). As origens dos cananeus, para as quais as tradições israelitas freqüentemente dirigem o antagonismo mais profundo, enquanto Moabe e Amom, com quem o antagonismo foi um pouco menor, têm origem em transgressões menos graves. As relações entre pai e filha, embora certamente transgressivas, eram menos graves na antiga sociedade israelense e do Oriente Médio do que as relações entre filho e mãe. Apesar de que ambos foram proibidos (Levítico 18:7,8,17), a mãe ameaçava abertamente a estrutura de autoridade patriarcal da família ou do clã. F. W. Basset (“Noah’s Nakedness,” 236) observa: “Um filho que mantém relações sexuais com sua mãe ou madrasta comete um pecado rebelde contra o seu pai, uma vez que a posse da esposa do homem também é vista como um esforço para suplantar o próprio homem”.
Assim, Nissinen e Gagnon podem estar corretos ao ver o ato sexual transgressivo de Cam como uma tentativa de usurpar a autoridade patriarcal de Noé. No antigo oriente há atestados históricos abundantes de que dormir com a própria esposa do pai era visto como um meio de usurpação de autoridade.
Absalão e seu ato infame de possuir publicamente as concubinas de seu pai (2 Samuel 16:20-23), as relações de Rubens com Bila (Gênesis 35:22; 49:3,4), a aquisição de Davi das concubinas de Saul (2 Samuel 12:8), de Adonias que tenta adquirir a esposa de Davi, Abisague (1 Reis 2:13-25); são todos exemplos notáveis de um filho tentando derrubar seu pai por meio de relações com o(s) consorte(s) paterno(s). Ezequiel repreende seus contemporâneos por cometer esse pecado (Ezequiel 22:10).
Quanto à literatura antiga do Oriente Médio, existe o mito de Baal-Hadad, que castra El e toma a esposa de El, Asherah, como sua em um esforço para adquirir a autoridade real de seu pai; e de um conto sumério semelhante no qual o deus do vento Enlil – o filho do deus do céu An e da deusa da terra Ki – separa seus pais e foge com sua mãe, substituindo An como chefe do panteão sumério. Um paralelo grego óbvio para a usurpação da posição do pai através (entre outras coisas) da mãe é o mito de Édipo.
Colocar o incesto materno de Cam na estrutura mais ampla do antigo conceito do Oriente Médio de suplantar um homem (ou mais exatamente, um pai) dormindo com suas esposas valida o instinto de Nissinen e Gagnon de que a ação de Cam não era primariamente uma luxúria ou uma malevolência caprichosa, mas uma peça de poder político-familiar, uma tentativa de adquirir a autoridade de seu pai e contornar os direitos de seus irmãos mais velhos, a quem ele imediatamente informa sobre o que fez (v. 22b).
Até agora, vimos que a visão do incesto materno, em comparação com a teoria do incesto paterno, leva mais em conta a nuance do idioma hebraico que reconhece o erotismo heterossexual de certos termos no texto, oferece uma justificativa para a maldição de Canaã; o que esclarece e fortalece os vínculos temáticos entre Gênesis 9:20-27 e outras passagens pentateucais obviamente relacionadas e fornece um melhor relato da motivação e do modus operandi de Cam, apoiados por análogos bíblicos e antigos do Oriente Médio.
Resta explicar como exatamente a história deve ser lida se o pecado de Cam for incesto materno. Talvez da seguinte maneira: Noé fica bêbado e tira as suas vestes em “sua tenda” em preparação para a relação sexual, mas é incapacitado por sua embriaguez (v. 21). Cam entra e “vê a nudez de seu pai”, isto é, se relaciona com a esposa de seu pai (v. 22a, uma expressão idiomática para a esposa de Noé que é análogo de Levítico 18:7,8). Ele sai e informa aos seus irmãos de seu domínio do poder familiar (v. 22b), talvez produzindo uma peça de roupa como prova de sua reivindicação. Os irmãos, por sua vez, agem com excessivo cuidado paternal, deferência e piedade em devolver “o vestuário” ao pai humilhado, evitando não apenas a “visão figurativa da nudez do pai” (isto é, o incesto materno), mas também o literal. Após o evento, Noé amaldiçoa o produto da união ilícita de Cam, a saber, Canaã, e abençoa Sem e Jafé por sua piedade.
A mesma objeção pode ser levantada contra essa leitura que foi levantada contra a teoria do incesto paterno, a saber, a ação dos irmãos no v. 23 indica que a nudez de Noé deve ser considerada literal e não idiomática no v. 22. A ação dos irmãos se baseia no sentido mais amplo da expressão “ver a nudez”. Não apenas eles “não vêem a nudez do pai” no sentido de terem relações sexuais com a esposa; eles também abstêm-se de ver sua nudez literal e, ao cobri-lo com uma roupa, restauram para ele uma medida da maldade danificada pela tentativa de usurpação de Cam.
Também foi levantada a objeção de que os versículos 24 e 25 implicam que Noé proferiu a maldição sobre Canaã imediatamente, antes dos nove meses necessários para ele nascer de acordo com a teoria do incesto materno. Mas o narrador pode simplesmente ter compactado a cronologia neste momento, como em qualquer outro lugar. Afinal, Gênesis 5:32 (“Depois que Noé tinha quinhentos anos, Noé se tornou pai de Sem, Cam e Jafé”) não deve ser entendido como se a esposa de Noé tivesse trigêmeos logo após seu quinquagésimo aniversário, visto que a diferença de idades entre o mais velho e o mais novo são de mais de dois anos, no mínimo, como pode ser observado no relato do aniversário de cem anos de Sem (Gênesis 11:10), dois anos após o Dilúvio que ocorreu quando Noé tinha seiscentos anos (Gênesis 7:6).
No entanto, parece que, se a teoria do incesto materno é correta, o texto foi elidido ou compactado. O público antigo pode ter conhecido todos os detalhes da história pela tradição e, portanto, não exigiria uma narrativa mais explícita, ou a narrativa pode ter sido editada com um tom eufemístico, em deferência à reputação do patriarca e da matriarca. De qualquer forma, dadas as complexidades da transmissão dessas tradições na antiguidade, não é difícil imaginar que houve supressão ou compressão narrativa.
Conclusão
Na revisão das várias opções interpretativas para Gênesis 9:20-27 foi observado que a posição voyeurista, que entende a ação de Cam como nada mais do que olhar, falha em explicar a gravidade do pecado de Cam e a maldição de Canaã. A visão de castração sofre com a falta de suporte textual. A atualmente popular interpretação do incesto paterno elucida grande parte do caso exceto a maldição de Canaã, mas em quase todos os casos as evidências reunidas para essa visão realmente se adequam melhor à teoria do incesto materno.
As forças heurísticas da interpretação do incesto materno são múltiplas: explica (1) a gravidade do pecado de Cam, (2) a justificativa para a maldição de Canaã em vez de Cam, (3) a motivação de Cam para cometer sua ofensa, (4) a repetição textual de “Cam, pai de Canaã” e (5) a linguagem carregada sexualmente da passagem. Além disso, é fácil encontrar análogos bíblicos e antigos do Oriente Médio para o pecado de Cam; e as passagens relacionadas do Pentateuco se encaixam de maneira também mais elegante nessa interpretação.
* Artigo adaptado do “Journal of Biblical Literature”, JBL 124/1 (2005) 25-40
Quando I Samuel 17:50 descreve o confronto entre Davi e Golias, no qual relata que Davi prevaleceu sobre o filisteu “com uma funda e uma pedra, e feriu o filisteu e o matou, mas não havia espada na mão de Davi“, isso sugere que Davi não estaria munido de nada além de um “brinquedo de menino”. Entretanto, essa é uma interpretação sumamente enganosa. Em mãos adequadamente treinadas, a funda ou atiradeira revela ter sido uma das armas mais mortíferas de todas.
Uma atiradeira do comprimento do braço do atirador duplica a velocidade do projétil, fazendo com que a velocidade deste, ao deixar a funda, seja de quase cem metros por segundo, o que já é consideravelmente maior que a velocidade da flecha de um arco longo, que atinge apenas cerca de sessenta metros por segundo.
Tendo recebido um treinamento intensivo desde a infância, não há razão para crer que um fundeiro profissional não pudesse superar com bastante facilidade os cem metros por segundo e, quem sabe, até começar a se aproximar da velocidade inicial de um disparo de pistola calibre 45: cerca de 150 metros por segundo. E mais, o projétil liso de uma funda tem um alcance muito maior que o da flecha, com uma diferença de quase meio quilômetro, porque as penas da flecha produzem muita resistência ao avanço. O moderno recorde mundial de distância para uma pedra lançada com uma funda foi alcançado em 1981 por Larry Bray, que conseguiu atingir 437 metros e, em retrospectiva, considerou que poderia ter superado os seiscentos metros, com uma atiradeira melhor e com projéteis de chumbo.
Sempre se julgou que o ponto fraco da funda como arma era sua falta intrínseca de precisão, bem como a impossibilidade de as pedras perfurarem armaduras. Mas a descoberta arqueológica dos projéteis de Hamoukar, na atual Síria, contradisse essas duas crenças. Essa descoberta apresenta resquícios do embate brutal entre exércitos na antiga Mesopotâmia, onde foram encontrados vários projéteis.
O formato pontiagudo destes projéteis nos diz duas coisas: que eles eram capazes de perfurar armaduras e que os fundeiros deviam ter uma técnica para dispara-los com um giro, como uma bala de fuzil, a fim de mantê-los na trajetória certa durante o voo até o alvo. A precisão dos fundeiros devia equiparar-se facilmente à dos benjaminitas canhotos mencionados em Juizes 20:16, “cada um [ dos quais ] era capaz de atirar pedras à distância, mirando em um fio de cabelo e não errar“. Mais tarde ainda, em sua obra “História de Roma”, Tito Lívio relatou que os fundibulários de Aegium, Patrae e Dymae, “tendo sido treinados a atirar a longas distâncias através de arcos de circunferência moderada, eram capazes de ferir não apenas a cabeça dos inimigos, mas qualquer parte do rosto em que mirassem”.
Em vista dessas informações, pode-se perceber que Davi estava muito bem armado e preparado para derrotar o gigante Golias, portando não um simples “brinquedo” como muitos imaginam, mas uma arma com o poder de lançar um projétil, no caso uma pedra lisa, com a potência quase equivalente a de uma bala de uma arma de calibre 45 dos dias atuais. Considerando o relato do embate e a precisão do “tiro” de Davi, Golias com todo o seu tamanho tornou-se um alvo fácil, além disso, Davi tinha o apoio do Altíssimo, o qual foi fundamental para o desfecho relatado nas Escrituras.
Que o SENHOR lhe dê suporte e lhe proporcione também a vitória em suas batalhas! 🙏❤️
“E o Verbo se fez carne e tabernaculou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória, glória como do unigênito do Pai.” (João 1:14)
“Ele vos será santuário ( Tabernáculo ); mas será pedra de tropeço e rocha de ofensa às duas casas de Israel { Efraim e Judá }, laço e armadilha aos moradores de Jerusalém.” (Isaías 8:14)
Para muitos das duas casas de Israel Jesus foi ( e ainda é ) pedra de tropeço e rocha de ofensa como havia sido profetizado por Isaías centenas de anos antes, entretanto, Jesus é o Tabernáculo do SENHOR que efetivamente tabernaculou conosco e que virá novamente, pois …
“um menino nos nasceu, um Filho se nos deu; o governo está sobre os Seus ombros; e o Seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o Seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto.” (Isaías 9:6,7)
Jesus no madeiro, crucificado em Jerusalém em uma cruz, simbolicamente constituída de dois pedaços de madeira, efetivamente iniciou em Si o processo que une as duas casas de Israel ( Efraim e Judá ), um processo que alcançará a sua completude em Sua segunda vinda, processo esse já simbolizado anteriormente pelo profeta Ezequiel quando escreveu …
“Tu, pois, ó filho do homem, toma um pedaço de madeira e escreve nele: Para Judá e para os filhos de Israel, seus companheiros; depois, toma outro pedaço de madeira e escreve nele: Para José, pedaço de madeira de Efraim, e para toda a casa de Israel, seus companheiros. Ajunta-os um ao outro, faze deles um só pedaço, para que se tornem apenas um na tua mão.” (Ezequiel 37:16,17)
Esse processo também foi referido pelos profetas Isaías e Zacarias quando profetizaram sobre o futuro das duas casas de Israel no Reino do SENHOR, cujos acontecimentos e sinais citados por Isaías e Zacarias vem se avolumando de forma visível e palpável pelo mundo desde os eventos do século passado envolvendo tanto Israel quanto a Igreja …
“Naquele dia, o Senhor tornará a estender a mão para resgatar o restante do Seu povo … Afastar-se-á a inveja de Efraim, e os adversários de Judá serão eliminados; Efraim não invejará a Judá, e Judá não será hostil a Efraim.” (Isaías 11:11,13)
“Fortalecerei a casa de Judá, e salvarei a casa de José, e fá-los-ei voltar, porque Me compadeço deles; e serão como se Eu não os tivera rejeitado, porque Eu Sou o SENHOR, seu Deus, e os ouvirei. Os de Efraim serão como um valente, e o seu coração se alegrará como pelo vinho; seus filhos o verão e se alegrarão; o seu coração se regozijará no SENHOR. Eu lhes assobiarei e os ajuntarei, porque os tenho remido; multiplicar-se-ão como antes se tinham multiplicado. Ainda que os espalhei por entre os povos, eles se lembram de Mim em lugares remotos; viverão com seus filhos e voltarão.” (Zacarias 10:6-9)
Simbolicamente a cruz, entre as suas muitas e muitas simbologias e significados, também representa a junção desses dois pedaços de madeira referenciados por Ezequiel … um processo que aponta para um dos sentidos da obra do Messias, pois. em Cristo Jesus está o início, o meio e o fim de todas as coisas, nEle tudo converge e ganha o seu verdadeiro e completo sentido … porque …
“Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque Ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu, na Sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em Si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade. E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; porque, por Ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Efésios 2:13-20)
“… dEle, e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Romanos 11:36)
Qual o significado profundo escondido na Serpente de Bronze feita por Moisés?! Veja o relato das Escrituras …
“Disse o SENHOR a Moisés: Faze uma serpente abrasadora ( שׁרפּ saraph ), põe-na sobre uma haste ( נס nec … algo levantado, estandarte, sinal, haste de sinalização, insígnia, bandeira ), e será que todo mordido que a olhar viverá. Fez Moisés uma serpente ( נחשׂ nachash ) de bronze e a pôs sobre uma haste; sendo alguém mordido por alguma serpente, se olhava para a de bronze ( נחשׂת n@chosheth ), sarava ( חיי chayay ).” (Números 21:8,9)
A palavra hebraica para bronze é “n@chosheth“ ( נחשת ). Bronze nas Escrituras simboliza o juízo de Deus, por isso todos os elementos do pátio do Tabernáculo eram de bronze, visto que no pátio era o local onde os sacrifícios eram realizados e o juízo sobre o pecado era aplicado.
Agora, veja que interessante … a palavra hebraica para serpente é “nachash” ( נחש ) … observe também a letra hebraica Tav( ת ) que é comumente conhecida pela sua antiga representação … uma cruz (“✝️”)! Não por acaso, ao se adicionar uma letra Tav ao final da palavra para serpente, ela passa a ser “n@chosheth” ( נחשת ), que significa bronze … ou seja, sabemos que a serpente simboliza o pecado pela sua tipologia bíblica, portanto, pela sua terminologia o bronze é uma representação da serpente aplicada a uma cruz … dessa forma o juízo de Deus resolve a questão do pecado ( serpente ), crucificando-o!!!
Isso fica ainda mais interessante quando se percebe que a palavra hebraica para serpente ( נחש “nachash” ) possui um vínculo muito interessante com outra palavra hebraica muito conhecida e de profundo significado … Messias … ( משׂיח “mashiyach” ). Ambas as palavras possuem no hebraico o mesmo valor … 358 … נחש “nachash” vale ( 300 + 8 + 50 ) e משׂיח “mashiyach” vale ( 8 + 10 + 300 + 40 ).
Esse vínculo é significativo quando observado à luz de todo o simbolismo que se percebe nesse texto da serpente de bronze de Números 21. O SENHOR Deus está, de uma maneira sutil, apontando que o Messias seria feito pecado e com isso teria de ser levantado e crucificado, assumindo em Si o juízo do pecado representado pela serpente … por isso em Números 21 Moisés é instruído por Deus para fazer uma serpente de bronze … simbolizando no texto o que o próprio Deus faria posteriormente por meio de Cristo … Assim como Moisés resolve o problema do pecado com a serpente de bronze levantada na haste, tudo isso simbolizava e apontava para Deus fazendo do Messias pecado e aplicando sobre Ele o juízo em uma cruz!
Quando a cruz ( ou o Tav ) é afixada na serpente, ela se torna bronze … Isto é, a cruz forma o metal que simboliza o juízo de Deus que é realizado e a sua consequente libertação por meio da justiça que é feita. No texto de Números, tudo o que se exigia dos israelitas para serem libertos do “veneno” da serpente ( pecado ) e viverem era apenas olhar para a serpente de metal … um simples ato de fé! Por isso, quando olhamos para Cristo, o Messias, como o nosso Salvador, nós somos libertos do pecado e do juízo e somos feitos justiça de Deus … não foi por acaso que da Cruz o Messias bradou: “está consumado”!!!
Por isso está escrito …
“AquEle que não conheceu pecado ( Jesus ), Ele ( Deus ) O fez pecado por nós; para que, nEle, fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21)
“E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nEle crê tenha a vida eterna. … Quem nEle crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” (João 3:14,15,18)
Creia você também no Messias e no que Ele fez por você e você terá a vida eterna! Que o SENHOR lhe abençoe! 🙏❤️
Os Pergaminhos do Mar Morto ( também conhecidos como os Pergaminhos das Cavernas de Qumran ) são antigos manuscritos judaicos religiosos, principalmente hebraicos, encontrados a partir de 1947 ao longo de 11 Cavernas em Qumran, na Cisjordânia, perto do Mar Morto e os seus muitos pergaminhos têm um grande significado histórico, religioso e lingüístico porque incluem o segundo mais antigo manuscrito sobrevivente conhecido de obras mais tarde incluídas no cânon da Bíblia, junto com manuscritos deuterocanônicos e extra-bíblicos que preservam evidências da diversidade do pensamento religioso no tempo de Jesus, visto que grande parte dos pergaminhos são datados entre o segundo e o primeiro séculos antes de Cristo.
Aqui neste artigo quero tratar em particular dos Manuscritos do Mar Morto 4Q540 e 4Q541 ( vide imagem acima e pode ser visto aqui ) que referem-se à primeira e segunda cópias de um manuscrito encontrado na caverna 4 de Qumran ( por isso o prefixo 4Q nestes manuscritos ), que são conhecidos também como Apócrifo de Levi. Eles estão escritos em aramaico e são indicados pelos sobrescritos “a” e “b”. Estes dois manuscritos são datados em 100 aC. O manuscrito aborda o assunto que também é encontrado na antiga obra em grego conhecida como “Testamento de Levi“. O texto diz respeito a um sacerdote futuro ao tempo de Levi e Arão que seria muito importante e que teria papéis particulares envolto em muito sofrimento, possivelmente sendo morto. Esse papel de sacerdote que sofreria pelo povo, descrito nos pergaminhos, remete ao papel de Jesus como o Messias devido as suas muitas similaridades entre as profecias do pergaminho, escrito ainda 100 anos antes da Primeira Vinda de Cristo, e os fatos que envolveram a vida, morte e ressurreição de Jesus.
Em particular o pergaminho 4Q541 impacta significativamente sobre a questão do entendimento de quem seria o Servo Sofredor descrito em Isaías 53 e também do Servo em Isaías 42, quer o papel sacerdotal incluísse ou não o sofrimento pelo bem dos outros. O autor do pergaminho ( alguns estudiosos o atribuem a Arão ) usa uma linguagem muito similar às passagens do Servo do livro de Isaías e isso parece apoiar o entendimento de que haveria um “sacerdote escatológico” ( lembre aqui que o texto é antes de Cristo, então essa escatologia refere-se à primeira vinda de Cristo do ponto de vista do judeu que vivia naquele tempo ); e esse sacerdote sofreria muito, possivelmente um sofrimento que envolvesse a morte, e essa morte traria benefícios jubilosos.
Essa evidência do “Servo Sofredor” que pode ser percebida no manuscrito 4Q541 é consistente para se entender, por exemplo, as palavras da interpretação do evangelho de Marcos à luz de Isaías. Marcos apresenta Jesus como alguém cuja vocação desde o princípio é tanto sacerdotal como sacrificial, envolvendo a morte. No batismo de Jesus, o vocabulário de Marcos de ter os céus abertos ( rasgados ) pode ser entendida como uma antecipação deliberada do rasgar do véu do Templo no momento da morte de Jesus ( Mc 15:38 ), o que é um eco do que está escrito no Testamento de Levi 10:3 … “E lidareis sem lei para junto com Israel, assim Ele não suportará Jerusalém por causa da sua maldade; mas o véu do templo deverá ser fendido ( aberto ), de modo a não cobrir a sua vergonha“.
Dessa forma a vocação de Jesus para ser o “Servo Sofredor” ( Is 53; Is 42; Mc 1:11 ), denota a Sua vocação para a morte sacrificial, porém a Sua morte concederá acesso ao Santo dos Santos, onde apenas o Sumo Sacerdote poderia adentrar uma vez por ano. As ligações entre o pergaminho 4Q541, a figura sacerdotal do Testamento de Levi e o Servo Sofredor de Isaías são muitas, o que mostra que muitos dos judeus no tempo de Jesus tinham os elementos necessários e testemunhais proféticos para compreenderem o papel do Messias para a remissão de Israel; e o fato de os líderes Levitas da época não o reconhecerem como tal, aumenta sobre os mesmos o “peso” de não compreenderem o tempo e a época em que viviam, sendo assim, diante de tantos elementos que conhecemos agora não é surpresa alguma as palavras de Jesus aos mesmos quando disse …
“Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu e, entretanto, não sabeis discernir esta época ( καιρος kairos )?” (Lucas 12:56)
Isso nos leva a refletir se hoje os “sacerdotes” de nossa época atual também não cometem o mesmo erro novamente quando estamos às vésperas da Segunda Vinda de Cristo, à exemplo dos sacerdotes no tempo da Primeira Vinda. Afinal, temos ainda mais elementos proféticos em enorme abundância para discernir o tempo e a época em que vivemos e, agora diante dos muitos manuscritos antigos descobertos, se percebe também que os tinham os judeus no tempo de Cristo, visto o que muitos desses pergaminhos antigos nos mostram, tal como o 4Q541 aqui citado.
O nono fragmento do pergaminho 4Q541, apresenta muitos paralelos com o Testamento de Levi, que ressaltam o papel da figura messiânica como um sacerdote que ensina com muita propriedade as palavras do SENHOR, mas que é objeto de escárnio e de violência. Por exemplo, o 4Q541 9 I,2 menciona “Sua sabedoria” e “Ele fará expiação“. O 4Q541 9 I,3 menciona “Sua palavra“, “Seu ensinamento“. O 4Q541 9 I,5-7 menciona “eles falarão muitas palavras contra Ele“, “eles inventarão fábulas contra Ele” e “a violência será o seu cenário“. Você poderá perceber essas ligações aqui em alguns destes textos traduzidos de alguns dos fragmentos destes pergaminhos …
“… palavras … e de acordo com a vontade de … para mim. Mais uma vez ele escreveu … eu falei deles em parábolas … estava perto de mim. Portanto, estava longe longe de mim … A visão será profunda … a fruta …” (Coluna 1, Fragmento 2 )
“coisas profundas … aqueles que não entendem. Ele escreveu … e ele acalmou o grande mar … Então os livros da sabedoria serão abertos … por sua palavra …” ( Coluna 1, Fragmento 6 )
“Deus … Você receberá o aflito … abençoará seus holocaustos e Você estabelecerá para eles um alicerce de Sua paz … seu espírito, e você se regozijará em seu Deus. Agora Eu estou falando com você em parábolas … regozije-se. Eis que os sábios compreenderão as visões e compreenderão os profundos mistérios, e é por isso que falo em parábolas. O grego … [ não temente a Deus ] nunca entenderá. Mas o conhecimento da sabedoria virá até você, pois você recebeu … você irá adquirir … Persiga a sabedoria e continue a buscá-la. Deixe ela se tornar uma parte de você. Eis que lhe alegrarás e lhes dará um lugar.” ( Coluna 2 )
“… Sua sabedoria será grande. Ele fará expiação por todos os filhos de Sua geração. Ele será enviado a todos os filhos de Sua geração. Sua palavra será como a palavra do céu, e Seu ensino será de acordo com a vontade de Deus. Seu eterno sol vai brilhar. O fogo será aceso em todos os cantos da terra. Vai brilhar na escuridão. Então a escuridão desaparecerá da terra e a escuridão profunda da terra seca. Eles falarão muitas palavras contra Ele. Haverá inúmeras mentiras. Eles vão inventar histórias [ fábulas ] sobre Ele. Eles dirão coisas vergonhosas sobre Ele. Ele derrotará Sua geração má e haverá grande ira. Quando Ele surgir, haverá falsidade e violência, e o povo se desviará em Sua terra e será confundido.” ( coluna 4 )
Em particular o fragmento 24 ( coluna 6 ) do pergaminho 4Q541 provou ser intrigante para muitos estudiosos. Como um todo, o pergaminho pertence claramente ao gênero testamentário, e muitos ( incluindo o autor ) o consideraram parte da literatura associada ao nome de Levi; ou uma parte do chamado “Levítico Aramaico”, de alguma forma ligada aos precursores semitas do Testamento de Levi. Das seis linhas do fragmento, as três primeiras são virtualmente ilegíveis. Entretanto, pode-se ler as linhas 4-6 do pergaminho da seguinte forma:
Sua tradução é um tanto complexa e envolve algumas linhas de compreensão, entre elas, uma tradução seria a seguinte ( acréscimos meus em colchetes ):
“Deus corrigirá todos os erros [ pecados ] … Ele revelará e julgará os pecados … Aprenda completamente porque Jonas chorou. Não destruirá os fracos pelo desperdício ou pela crucificação … Não deixe o prego tocá-lo. Então você aumentará para o teu pai [ Levi ] um nome de alegria e para todos os teus irmãos [ levitas ] um alicerce firme, vais compreender e regozijar-te na luz eterna e você não será inimigo de Deus.“
Não deixa de ser tanto surpreendente quanto misterioso ler “Não deixe o prego tocá-lo [ ou aproximar-se dele ]” para um leitor no tempo de Jesus, visto que esse manuscrito foi escrito quase 100 anos antes de Cristo, mas para alguém atento aos muitos textos e profecias da época, haja visto a quantidade deles nos pergaminhos do Mar Morto, não seria difícil compreender o papel de Jesus em seu tempo indo para a crucificação, onde foi então pregado na cruz por mãos e pés! Não por acaso, os muitos sinais realizados por Jesus e os eventos que sucederam a Sua morte e ressurreição testemunharam que sem dúvida Ele é o Messias previsto nas Escrituras e até mesmo em muitos textos e profecias não canônicas do tempo de Jesus. Que dizer então para nós que temos hoje tantos e tantos testemunhos provenientes das Escrituras e de outros textos que mostram isso e que, não por acaso, também nos foram descortinados ainda novos elementos a partir de 1947 ( ano em que o Estado Judeu renasceu por meio da ONU em novembro ) que evidenciam tudo isso com ainda mais força e intensidade.
Assim como os israelitas que viviam no tempo de Cristo tinham muitos textos que apontavam para a Primeira Vinda do Messias com riqueza de detalhes para que esses mesmos textos servissem de testemunhas contra eles, pois não apenas os sinais que Jesus realizava mostravam quem Ele era, mas também as profecias escritas em diversos textos da época que Ele cumpria também serviam de testemunha, assim acredito que o é hoje, onde temos também vários textos e sinais que apontam que vivemos à época da Segunda Vinda de Cristo e às vésperas de um tempo único de mudanças, mas assim como grande parte dos sacerdotes da época, os levitas de seu tempo, foram negligentes com os textos e sinais da Primeira Vinda de Cristo, assim grande parte dos “sacerdotes” de nosso tempo o são no que se refere a Segunda Vinda de Cristo. Que não sejamos nós também chamados de “Hipócritas” por Cristo como o foram os primeiros!
A cada dia que se passa parecem sumir dos púlpitos as mensagens referentes a Segunda Vinda de Cristo e não são poucos os “sacerdotes” de nosso tempo que fogem das questões escatológicas ou de livros das Escrituras que tratam desse tema por alegações tolas de que são textos complexos ou misteriosos demais … bobagem, para isso temos o Espírito Santo em nós; para nos auxiliar a descortinar aquilo que se esconde por detrás do véu, como é o significado do Apocalipse.
Os sacerdotes do tempo de Jesus foram instruídos com antecedência a não deixarem o prego se aproximar do “Servo Sofredor” para que aos levitas daquele tempo tivessem recebido um bom nome e não fossem feitos inimigos de Deus, entretanto, como mostra a história estes não seguiram a instrução e foram muitos colocados junto aos inimigos de Deus naquele tempo …; da mesma forma em nosso tempo há muitos avisos contra os que dormem e sobre o risco da apostasia no tempo da Segunda Vinda, porém, que desta vez os alertas e as instruções possam encontrar ouvidos não surdos, mas atentos e vigilantes!
Que o SENHOR lhe abençoe, desperte e você seja encontrado vigilante!
O livro de Cântico dos Cânticos, devido a sua natureza e linguagem, é bem pouco explorado em estudos, sermões e até mesmo em artigos de teologia. Não é comum ver grupos de estudo nas igrejas ou seminários fazendo análises ou aulas demoradas sobre este livro. Entretanto, quando lemos a importante e enfática advertência do apóstolo Pedro registrada em 2 Pedro 1:20 que diz: “sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular interpretação“, nós entendemos que as Escrituras possuem muitas camadas de revelação. Portanto, em relação ao conteúdo do livro de Cântico dos Cânticos, assim também o é das mais variadas formas e aqui eu vou fazer uma breve análise sobre um de seus aspectos, dentro de suas múltiplas camadas de revelação, enfocando o seu vínculo e simbologia que tipifica a união do SENHOR com o Seu povo, de Cristo com a Sua Igreja.
Primeiro é importante entender que, quando o SENHOR disse: “E Me farão um santuário, para que Eu possa habitar ( שׂכנּ “shakan” ) no meio ( תוךְ “tavek” ) deles” (Êxodo 25:8), no Sinai o SENHOR já definiu de uma forma cifrada o Seu profundo e extenso propósito, pois os termos usados para “habitar no meio” em hebraico são שׂכנּ “shakan” e תוךְ “tavek“, respectivamente, que denotam também pelos seus muitos significados “fazer morada dentro” de cada um, tal como ocorre em nós hoje por meio da Nova Aliança onde Espírito do SENHOR habita em cada um de nós.
É importante entender que o SENHOR não deseja simples e unicamente que O obedeçam, o que Ele busca em cada um de nós é algo muito além disso, o SENHOR deseja se relacionar de forma íntima com cada um de nós … obedecer é apenas um dos muitos aspectos de um relacionamento profundo. Em vista disso, não é por acaso que a palavra que o SENHOR escolheu no texto citado de Êxodo é שׂכנּ “shakan“, pois ela vem da raiz שׂכב “shakab” que significa “deitar, no sentido de se ter relações sexuais“, ou seja, o SENHOR expressa em Êxodo que o Seu intuito não é simplesmente habitar entre a Sua criação, mas de ter uma relação de tal maneira íntima com cada um de nós que, por tipologia, é comparável ao relacionamento sexual entre um casal, ou seja, o maior nível de intimidade possível onde dois se tornam um ( vide Gênesis 2:24 ). É por essa razão que a tipologia do casamento de Deus com Israel é tão recorrente nas Escrituras ( vide Jeremias 31:32 ), assim como o seu reflexo no Novo Testamento por meio do casamento de Cristo com a Igreja ( vide Apocalipse 19:7-9 ). E também por isso a linguagem visceral observada em Cântico dos Cânticos se aplica tão adequadamente a essa representação, como poderá ver nesse exemplo a seguir …
“O meu amado é para mim um saquitel de mirra, posto entre os meus seios. Como um racimo de flores de hena nas vinhas de En-Gedi, é para mim o meu amado. Esposo: Eis que és formosa, ó querida minha, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas. Esposa: Como és formoso, amado meu, como és amável! O nosso leito é de viçosas folhas, as traves da nossa casa são de cedro, e os seus caibros, de cipreste” (Cântico dos Cânticos 1:13-17)
A união com Deus por meio de Cristo é a grande promessa e o propósito culminante de toda a Bíblia ( vide o meu artigo anterior sobre esse tema, aqui ). Mas a que devemos comparar esta união?! Deus apareceu a Moisés em uma chama de fogo na sarça ardente e conduziu Israel através do deserto por uma coluna de fogo. Ele acendeu as almas de Seu povo com línguas de fogo no Pentecostes ( Atos 2:3 ) e apareceu ao Apóstolo João com olhos como chamas de fogo ( Apocalipse 1:14 ). Não há absolutamente nada desapaixonado sobre Deus na Bíblia. Não há limites para o amor ardente que Ele tem por nossas almas, como Ele provou com absoluto e indescritível amor ao dar o Seu Filho na Cruz. Em termos naturais, o Cântico dos Cânticos é um romance desenfreado e explicitamente erótico entre o rei Salomão e a sua noiva, repleto de gritos de alegria e deleite sensual.
A teologia reformada em algumas de suas correntes, devido ao seu método por vezes deficiente de interpretação, centrado muitas vezes apenas na literalidade dos textos, acaba por não enxergar toda a revelação que o Cântico dos Cânticos possui e os seus vínculos com os demais livros da Bíblia, em particular com Apocalipse. Pois o livro declara o amor de Deus de um modo que poucos homens ou mulheres poderiam deixar de apreciar porque toca, com imagens físicas viscerais, o mais intenso e universal de todos os nossos desejos – dar e receber amor.
Deus escolheu esta imagem para evocar os mais profundos sentimentos que Ele mesmo colocou em nós quando nos criou “à imagem de Deus … macho e fêmea” (Gênesis 1:27). No livro de Cântico dos Cânticos, Deus Se revela como o Amante de nossas almas e nos conduz como o nosso Amado Pastor aos “altos” da Escritura por meio de analogias, alegorias, metáforas e tipologias, mostrando-nos o real caminho para o cumprimento do primeiro e maior mandamento: “Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Deuteronômio 6:5). É para isso que nós fomos criados … o SENHOR deve ser o amor consumidor de nossos corações, porque este é o propósito consumado de nossa criação.
O título do livro “Cântico dos Cânticos” vem de seu primeiro verso … “Cântico dos cânticos de Salomão” (Cântico dos Cânticos 1:1) … e sua construção e forma expressam a sua excelência superior como a melhor de todas as canções. Construções semelhantes são usadas em títulos como “Rei dos reis e Senhor dos senhores” para denotar a suprema soberania de Cristo ( vide Apocalipse 19:16 ) e “Santo dos Santos” para denotar a parte mais sagrada do Templo. Este último aparece freqüentemente nas descrições do Canto Divino, sendo o mais antigo do primeiro século quando Rabi Akiva defendeu a sua inclusão no cânon, dizendo:
“O universo inteiro é indigno do dia em que o Cântico dos Cânticos foi dado a Israel. Porque todos os escritos são santos, mas o Cântico dos Cânticos é o Santo dos Santos.“
Dezoito séculos depois, Charles Haddon Spurgeon, o “príncipe dos pregadores” na Inglaterra do século XIX, usou a mesma linguagem em seu sermão “Um Feixe de Mirra” no qual ele explicou que …
“assim como no Templo um véu bloqueava a entrada para o Santo dos Santos, assim há um véu sobre os olhos de todos que se aproximam da Canção Divina despreparados, seja por meio de imaturidade espiritual ou por meio de descrença.“
Não por acaso, há um vínculo entre o livro de Cântico dos Cânticos com o livro de Apocalipse, pois Apocalipse trata dos eventos que levam a consumação final do casamento de Cristo com a Sua Igreja e você pode perceber termos comuns que ecoam em trechos similares e comparáveis, como nesses exemplos abaixo:
“CÂNTICO DOS CÂNTICOS de Salomão. Esposa: Beija-me com os beijos de tua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho. Suave é o aroma dos teus ungüentos, como ungüento derramado é o teu NOME; por isso, as VIRGENS te amam. LEVE-ME COM VOCÊ! Vamos depressa!” (Cântico dos Cânticos 1:1-4a)
“Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com Ele cento e quarenta e quatro mil, tendo na fronte escrito o Seu NOME e o NOME de Seu Pai. Ouvi uma voz do céu como voz de muitas águas, como voz de grande trovão; também a voz que ouvi era como de harpistas quando tangem a sua harpa. Entoavam NOVO CÂNTICO diante do trono, diante dos quatro seres viventes e dos anciãos. E ninguém pôde aprender o CÂNTICO, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra. São estes os que não se macularam com mulheres, porque são VIRGENS. São eles os SEGUIDORES DO CORDEIRO POR ONDE QUER QUE VÁ.” (Apocalipse 14:1-4a)
“Esposa: Eu dormia, mas o meu coração velava; eis a VOZ DO MEU AMADO, que está BATENDO: Esposo: ABRE-ME, minha irmã, querida minha, pomba minha, imaculada minha” (Cântico dos Cânticos 5:2a)
“Eis que estou à porta e BATO; se alguém ouvir a MINHA VOZ e ABRIR a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, Comigo.” (Apocalipse 14:1-4a)
“O MEU AMADO É MEU, E EU SOU DELE; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios.” (Cântico dos Cânticos 2:16)
“O vencedor herdará estas coisas, e EU LHE SEREI DEUS, E ELE ME SERÁ FILHO.” (Apocalipse 14:1-4a)
Eu poderia acrescentar muitos outros paralelos e similaridades, tais como os selos, as juras de amor, o casamento, entre outros, mas acredito que o meu ponto já está devidamente colocado.
Enfim, o livro de Cântico dos Cânticos possui muita riqueza para nos ensinar, desde os nossos relacionamentos conjugais até o nosso relacionamento com o SENHOR e isso em grande profundidade, além de vários outros aspectos proféticos e simbólicos que estão cifrados em todo o texto. Espero que você olhe para esse livro agora com outros olhos … olhos atentos, curiosos e de discernimento diante dos textos.