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Por que estão destruindo carros de luxo nas ruas de Berlim

Por: Ubiratan Leal

 

O que? Na última semana, 28 carros foram destruídos nas ruas de Berlim. Dois Mercedes e dois BMWs foram queimados, enquanto os demais foram vandalizados. Um dia depois, outros 20 veículos foram atacados. A quantidade de automóveis destruídos em 24 horas chamou a atenção, mas ver carros queimados na rua se tornou estranhamente comum na capital alemã, em uma prática que já misturou protesto social com oportunismo de vândalos.

Bandeja de papel alumínio e carvão

Klaus-Jürgen Rattay era um dos milhares de jovens da Berlim Ocidental que, insatisfeitos com o aumento de preços dos imóveis na cidade, passaram a ocupar edifícios abandonados. Em setembro de 1981, a polícia berlinense fez uma ação coletiva de desocupação desses imóveis, muitos deles indústrias desativadas. Protestos se espalharam pela cidade e, durante uma investida dos policiais, Rattay foi fatalmente atropelado por um ônibus. Tinha 18 anos.

Mais de 34 anos depois, seu nome volta a aparecer com força nos debates sobre moradia em Berlim, já uma cidade unificada. Na semana do Carnaval, 48 veículos (28 no sábado e outros 20 no domingo) foram destruídos pelo grupo de extrema-esquerda Comando da Bicicleta da Social Democracia Popular, que assumiu a autoria em uma carta assinada (veja aqui, em alemão) pelo Comando Klaus-Jürgen Rattay. Protestavam contra a gentrificação de diversos bairros da cidade, que está se tornando inacessível a uma parcela cada vez maior da população. Um ataque violento, mas que está longe de ser inesperado pelas autoridades berlinenses.

No início do ano, o grupo havia prometido destruir € 1 milhão em propriedade privada a cada tentativa da polícia de desocupar algum imóvel invadido por sem-teto ou manifestantes. Entre 19 e 24 de janeiro, as autoridades realizaram diversas operações desse tipo, prendendo mais de cem pessoas. Então, era questão de tempo para aparecerem carros incendiados ou vandalizados. E o Comando atingiu seu objetivo, pois o prejuízo causado no Carnaval foi estimado em € 1,1 milhão.

A região atingida no sábado foi em torno da Potsdamer Platz, uma das mais importantes da cidade. Nos últimos anos, os imóveis da região valorizaram quase 500%, com o metro quadrado chegando a € 5,5 mil. O ataque do domingo ocorreu no bairro de Neukölln.

Para entender o ataque da última semana, é importante ressaltar que não se trata de uma prática incomum na relação entre manifestantes antigentrificação e as autoridades na capital alemã. Desde 2008, são mais de 200 veículos incendiados por ano. Só em 2011 foram 403. De acordo com a própria polícia, nem todos os casos têm motivação política. Para as autoridades, vândalos com diversas motivações se aproveitam da onda criada por manifestantes para atear fogo em mais automóveis e aumentar o caos.

 

Mapa indicado cada caso de carro incendiado em Berlim nos últimos anos (ver mapa completo em www.brennende-autos.de)

Mapa indicado cada caso de carro incendiado em Berlim nos últimos anos (ver mapa completo em Brennende-autos.de)

A natureza desses ataques dificulta seu combate. Os ativistas agem na madrugada, colocando bandejas de papel alumínio com carvão embebido em combustível sob os veículos. O carro demora alguns minutos a pegar fogo em relação ao momento em que o fogo é aceso. Isso dá ao incendiário tempo de sobra para deixar o local e ficar virtualmente impossível de ser identificado. Até porque a Alemanha é reticente em adotar a vigilância eletrônica nas ruas com a mesma intensidade de Reino Unido e Estados Unidos.

De qualquer forma, esses “protestos” estão longe de atingir seu objetivo. A opinião pública é favorável a medidas que controlem os altos e baixos do mercado imobiliário, mas tem sido pouco receptivas aos incêndios de carros em bairros nobres.

Fonte: Por que estão destruindo carros de luxo nas ruas de Berlim – Outra Cidade

Árabes de Israel: Uma História de Traição

por Khaled Abu Toameh

 

  • Nas duas décadas passadas, líderes e representantes eleitos da comunidade árabe-israelense se empenharam, com mais ardor, em favor dos palestinos da Cisjordânia e Faixa de Gaza do que em favor de seus eleitores israelenses.
  • Esses parlamentares concorreram em eleições com a promessa de trabalharem para melhorar as condições de vida dos árabes-israelenses e conquistar plena igualdade em todos os setores da sociedade. Entretanto, eles dedicam tempo e energia preciosos em prol de palestinos que não são cidadãos de Israel. Competem entre si para alcançar a projeção de provocador mais odiento contra seu próprio país.
  • Essas provocações tornam mais difíceis aos formandos universitários árabes a encontrarem empregos tanto no setor privado quanto no setor público israelenses.
  • Os maiores prejudicados são os cidadãos árabes de Israel, que foram lembrados mais uma vez, que seus representantes eleitos se interessam muito mais pelos palestinos não-israelenses do que por eles.

O alvoroço em torno de um encontro recente de três membros árabes-israelenses do Knesset (parlamento) com famílias dos palestinos que perpetraram ataques contra israelenses não constitui apenas a traição de seu país, Israel. Constitui também a traição de seus próprios eleitores: 1,5 milhões de cidadãos árabes de Israel.

Os membros do Knesset Haneen Zoabi, Basel Ghattas e Jamal Zahalka conseguiram atingir vários objetivos de uma só vez com esse encontro polêmico. Com toda certeza provocaram a ira de muitos judeus israelenses. Provavelmente também desrespeitaram o juramento que fizeram ao tomarem posse no parlamento: “Eu prometo obedecer ao Estado de Israel e suas leis e também prometo cumprir honestamente minhas obrigações no Knesset”.

Uma coisa porém eles, sem dúvida, levaram a termo, trabalhar contra os interesses dos árabes-israelenses.

Zoabi, Ghattas e Zahalka se encontraram com famílias palestinas que não são cidadãs israelenses e que portanto não votam em candidatos para o Knesset. Assim sendo, nenhuma dessas famílias votou nos três membros do Knesset ou no partido Lista Árabe Unida, do qual esses parlamentarem são membros. É óbvio que, como acontece em um governo democrático, qualquer membro do Knesset é livre para se encontrar com qualquer palestino da Cisjordânia, Faixa de Gaza ou Jerusalém.

Vale a pena frisar que não são todos os membros árabes do Knesset que estão envolvidos em retóricas incendiárias e ações polêmicas contra Israel. No entanto, há boas razões para se acreditar que alguns membros árabes do Knesset incorrem deliberadamente em determinadas ações e retóricas com o único propósito de enfurecer, não apenas o establishment israelense, mas também o povo judeu.

Esse encontro foi o último de uma série de atitudes de membros árabes do Knesset que causaram enorme dano às relações entre árabes e israelenses dentro de Israel. Tais atitudes tiveram um efeito expressivo: dano colossal aos esforços dos cidadãos árabes em prol da plena igualdade.

Nas duas décadas passadas, líderes e representantes da comunidade árabe se empenharam, com mais ardor, em favor dos palestinos da Cisjordânia e Faixa de Gaza do que em favor de seus eleitores israelenses.

Esses parlamentares concorreram em eleições com a promessa de trabalharem para melhorar as condições de vida dos eleitores árabes-israelenses e conquistar plena igualdade em todos os setores da sociedade. Entretanto, eles dedicam tempo e energia preciosos em prol de palestinos que não são cidadãos de Israel. Seu tempo disponível é gasto em competições para alcançar a projeção de provocador mais odiento contra seu próprio país.

Em vez de atuarem contra os interesses dos palestinos, fazendo de conta que são membros de um parlamento palestino e não do Knesset, eles poderiam atuar em cenários alternativos. Esses membros árabes do Knesset poderiam servir de ponte entre Israel e os palestinos que vivem sob a jurisdição do Hamas na Faixa de Gaza e da Autoridade Palestina na Cisjordânia.

Decisões como a de embarcar em um navio da flotilha de “ajuda” em direção à Faixa de Gaza, que mais representou furar os olhos de Israel do que ajudar os palestinos, movem a população israelense contra a população árabe-israelense, que por sua vez passa a ser vista como “quinta coluna” e “inimiga interna”.

Essas provocações tornam mais difíceis aos formandos universitários árabes a encontrarem empregos tanto no setor privado quanto no setor público israelenses. As ações e a retórica desses membros do Knesset garantiram a continuidade do hiato entre árabes e judeus dentro de Israel.

Graças a certos membros árabes do Knesset, muitos judeus não veem mais nenhuma diferença entre o cidadão árabe leal a Israel, e o palestino radical da Faixa de Gaza ou da Cisjordânia que procura destruir Israel.

É claro que membros árabes do Knesset têm o direito de criticar as políticas e as ações do governo israelense. Tais críticas devem ser proferidas do pódio do Knesset e não de Ramala, Gaza ou a bordo de um navio repleto de ativistas e inimigos de Israel.

Só para deixar claro: isso não é uma reivindicação para proibir membros árabes do Knesset de se encontrarem com seus irmãos palestinos da Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém. Melhor dizendo, é um chamamento aos membros do Knesset para que avaliem cuidadosamente seus objetivos e o tom em que são proferidos.

O recente encontro em pauta teve início com um minuto de silêncio em homenagem a determinados mortos, ou seja: os algozes palestinos que assassinaram e feriram várias pessoas. Judeus israelenses provavelmente terão sensações especiais em relação a esse tipo de abertura do encontro.

Membros árabes-israelenses do Knesset Jamal Zahalka, Haneen Zoabi e Basel Ghattas (no centro da mesa, diante da câmera) em um encontro recente com familiares de terroristas que atacaram e assassinaram israelenses. O encontro teve início com um minuto de silêncio em homenagem aos algozes mortos. (imagem: Palestinian Media Watch)

As coisas podiam ser bem diferentes. Os membros árabes do Knesset poderiam ter usado o encontro para emitir um chamamento pedindo o fim da atual onda de esfaqueamentos, atropelamentos e tiroteios que começou em outubro de 2015. Eles bem que poderiam ter exigido que líderes, facções e veículos de mídia palestinos parassem com a lavagem cerebral de garotas e rapazes que os exortam a matarem judeus, qualquer judeu.

As famílias palestinas que se encontraram com os três membros árabes do Knesset não têm nada a perder. Nem as outras famílias de palestinos que vivem na Cisjordânia e Faixa de Gaza. Para eles, esses membros do Knesset estão provavelmente fazendo mais, representando-os, do que a Autoridade Palestina ou o Hamas.

Os maiores prejudicados são os cidadãos árabes de Israel, que foram lembrados mais uma vez, que seus representantes eleitos se interessam muito mais pelos palestinos não-israelenses do que por eles.

Até agora, somente as vozes de meia dúzia de gatos pingados árabes tiveram a coragem de criticar seus representantes no Knesset. Entrementes, são exatamente esses cidadãos que devem punir esses inúteis membros do Knesset e não o governo israelense ou uma comissão parlamentar ou um tribunal. Com toda certeza o poder está em suas mãos.

Se a maioria dos árabes-israelenses continuar indecisa, permitindo que seus líderes façam o que bem entenderem, os membros árabes do Knesset não os conduzirão a lugar algum.

Fonte: Árabes de Israel: Uma História de Traição

Mais evidências de que uma sociedade sem dinheiro físico está vindo rapidamente

MUITO IMPORTANTE: Mais coisas estão acontecendo mostrando que o desejo de uma sociedade global sem dinheiro físico está no topo da lista de desejos da elite mundial … e querem isso rápido!!!!

Com os bancos centrais perdendo credibilidade, a próxima grande questão é, quando será que os legisladores dos bancos centrais ao redor do mundo “tirarão o véu” para uma sociedade sem dinheiro físico, que é uma condição necessária e suficiente para um regime global de taxas de juros negativas?!

Nos últimos dias temos visto editoriais por ambos veículos importantes da mídia econômica global, Bloomberg e Financial Times, pedindo a proibição do dinheiro físico ( veja o editorial da Bloomberg traduzido aqui: http://dcvcorp.com.br/?p=2441 e o do Financial Times aqui: http://dcvcorp.com.br/?p=1917 ), mas o desenvolvimento recente mais perturbador para uma sociedade sem dinheiro físico veio num slide em uma apresentação do banco Morgan Stanley, onde Huw van Steenis, assinalou o seguinte, tradução minha (vide a imagem abaixo):

“ Nós devemos nos mover rapidamente para uma economia sem dinheiro físico para que possamos introduzir taxas de juros negativas abaixo de 1%”, criador de políticas ‘O que eu aprendi em Davos’ ”

… e Huw van Steenis acrescentou isso:

“Um dos comentários mais surpreendentes deste ano veio de uma sessão fechada na FinTech onde eu estava sentado ao lado de alguém dos círculos políticos que argumentou que devemos avançar rapidamente para uma economia sem dinheiro para que pudéssemos apresentar taxas negativas bem abaixo de 1% – à medida em que estavam preocupados que a estagnação secular de Larry Summers estava realmente ocorrendo e que ficariam presos com taxas negativas por uma década na Europa. Eles sentiram que a queda abaixo de 1,5% iria fazer os depositantes começarem a acumular notas, levando a ainda mais complexidades para a política monetária.”

Considere este fato o mais recente e o mais alto alerta sobre o caminho para uma servidão a partir do dinheiro digital.

Foto de Dionei Vieira.

Fonte: Dionei Vieira – MUITO IMPORTANTE: Mais coisas estão acontecendo…

A Islamização da França em 2015

por Soeren Kern

  • Segundo estimativas, 40.000 automóveis são queimados todos os anos na França, uma destruição frequentemente atribuída a gangues muçulmanas rivais. Todos os dias mais de 80 carros são queimados.
  • O diretor da Grande Mesquita de Paris, Dalil Boubakeur, sugeriu que o número de mesquitas na França seja dobrado nos próximos dois anos. Boubakeur ressaltou que 2.200 mesquitas “não são suficientes” para os “sete milhões de muçulmanos que vivem na França”. Ele preconizou que igrejas ociosas sejam transformadas em mesquitas.
  • O Primeiro Ministro Manuel Valls revelou em abril que mais de 1.550 cidadãos franceses ou residentes na França estão envolvidos em redes terroristas na Síria e no Iraque.
  • “Não podemos conversar sobre assuntos que polarizam opiniões? Se você falar sobre imigração, você é xenófobo. Se você falar sobre segurança, você é fascista. Se você falar sobre o Islã, você é islamófobo”. — Henri Guaino, Parlamentar.
  • “Aqueles que repudiam o comportamento ilegal dos fundamentalistas estão mais propensos a serem processados do que os próprios fundamentalistas que se comportam de maneira ilegal”. — Marine Le Pen, líder do partido Frente Nacional.

O número de muçulmanos na França chegou a 6,5 milhões de pessoas em 2015, ou seja, cerca de 10% de uma população de 66 milhões. Em termos reais, a França conta com a maior população muçulmana da União Européia, seguida pela Alemanha.

Embora a lei francesa proíba a coleta de estatísticas oficiais sobre raça ou religião de seus cidadãos, a estimativa baseia-se em diversos estudos que tentam calcular o número de pessoas na França cujas origens sejam provenientes de países de maioria muçulmana.

Segue uma revisão cronológica dos artigos mais importantes a respeito do crescimento do islamismo na França em 2015.

JANEIRO

1º de Janeiro, o ministro do interior anunciou a estatística mais aguardada do ano: um total de 940 automóveis e caminhões foram incendiados na França na Passagem do Ano Novo, uma redução de 12% em relação aos 1.067 veículos queimados durante o ritual anual do mesmo feriado em 2014. O incêndio de automóveis, comuns em toda a França, são frequentemente atribuídos a gangues muçulmanas rivais, que competem entre si para constatar qual delas atrairá os holofotes da mídia por ter causado a maior destruição. Segundo estimativas, 40.000 automóveis são queimados todos os anos na França.

3 de janeiro. Um muçulmano de 23 anos na cidade de Metz tentou estrangular um policial gritando “Allahu Akbar”! (“Alá é grande!”). O ataque aconteceu em uma delegacia de polícia depois que o homem, que foi preso por ter roubado uma bolsa, pediu ao policial que lhe trouxesse um copo d’água. Quando o policial abriu a porta da cela, o homem pulou em cima dele. O policial foi salvo por um colega que viu a cena em um vídeo de câmera de segurança.

De 7 a 9 de janeiro. Uma série de ataques jihadistas em Paris causou a morte de 17 pessoas. O primeiro desta série de ataques, que foi também o que causou o maior número de mortos, ocorreu em 7 de janeiro quando os radicais islâmicos, naturais da França, Chérif e Saïd Kouachi atacaram a redação da revista Charlie Hebdo a tiros matando oito funcionários, dois policiais, duas outras pessoas, além de ferir mais 11. Em 8 de janeiro, Amedy Coulibaly, o terceiro terrorista que participou dos ataques, abateu a tiros a policial Clarissa Jean-Philippe em Montrouge, um subúrbio de Paris. Em 9 de janeiro, Coulibaly entrou no supermercado kasherHyperCacher em Paris, assassinou quatro pessoas e tomou vários reféns. Coulibaly foi morto quando a polícia invadiu o supermercado. Sua cúmplice, Hayat Boumeddiene, a “mulher mais procurada” da França, continua foragida, acredita-se que ela tenha fugido para a Síria.

Em janeiro último, Amedy Coulibaly (esquerda) assassinou uma policial e quatro judeus em Paris, antes de ser morto a tiros pela polícia. Direita: socorristas levando uma vítima ferida no ataque perpetrado por terroristas islamistas que atiraram em centenas de pessoas que assistiam um concerto, matando 90 delas, no teatro Bataclan em Paris em 13 de novembro de 2015.

18 de janeiro. Uma pesquisa de opinião realizada pelo Institut français d’opinion publique (IFOP), publicada pelo Journal du Dimanche, revelou que 42% dos franceses são contrários à publicação de caricaturas do Profeta Maomé, como aquelas publicadas pelo Charlie Hebdo, indicando, além disso, que acreditam que deveria haver “certos limites em relação à liberdade de expressão online e nas redes sociais”. A grande maioria (81%) dos entrevistados disse que era a favor de cancelar a nacionalidade francesa dos cidadãos de dupla nacionalidade que cometeram atos de terrorismo em solo francês. Mais de dois terços (68%) disseram que cidadãos franceses “suspeitos de terem lutado em países ou regiões controladas por grupos terroristas”, deveriam ser impedidos de retornar ao país.

20 janeiro. o Primeiro Ministro Manuel Valls ressaltou que ataques terroristas expõem um “apartheid territorial, social e étnico” que está atormentando a França. Em um discurso considerado uma das mais expressivas denúncias já proferidas por uma figura de governo contra a sociedade francesa, Valls afirmou que era urgente a necessidade de se combater a discriminação, especialmente nos subúrbios empobrecidos onde residem muitos imigrantes muçulmanos. Ele ressaltou que apesar de anos de esforços do governo para melhorar as condições dos bairros carentes, muitas pessoas foram relegadas a morarem em guetos. Ele acrescentou:

“Faz parte da miséria social a discriminação diária, porque alguém não tem o sobrenome certo, a cor da pele certa ou porque é do sexo feminino. Não estou procurando desculpas, mas temos que encarar a realidade do nosso país”.

21 de janeiro. Valls anunciou um programa de €736 milhões (US$835 milhões) para incrementar as defesas antiterrorismo diante da rápida expansão da ameaça jihadista. Ele disse que o governo irá contratar e treinar 2.680 novos juízes especializados em antiterrorismo, agentes de segurança, policiais, aparelhos de escuta eletrônica e analistas no decorrer dos próximos três anos. O governo também irá desembolsar €480 milhões em novos armamentos e equipamentos de proteção para a polícia. A iniciativa abrange o aprimoramento na presença online baseado em um novo Website do governo chamado “Stop Djihadisme“.

27 de janeiro. A polícia deteve cinco suspeitos de serem jihadistas, com idades entre 26 e 44 anos, em batidas policiais em Lunel, uma pequena cidade na costa do Mediterrâneo. Pelo menos dez, podendo chegar a 20 o número de pessoas da cidade, cuja população é de apenas 25.000 habitantes, que viajaram para a Síria e para o Iraque para lutarem ao lado do Estado Islâmico.

28 de janeiro. Uma pesquisa de opinião realizada pela Ipsos/Sopra-Steria para o jornal Le Monde e Europe 1 Radio constatou que 53% dos cidadãos franceses acreditam que o país está “em guerra” e 51% sentem que o Islã é “incompatível” com os valores da sociedade francesa.

Também em janeiro, trabalhos artísticos retratando sapatos de mulheres sobre tapetes de reza muçulmana foram retirados da exposição no bairro Clichy-la-Garenne de Paris, depois que a Federação das Associações Islâmicas de Clichy alertou que as ilustrações poderiam provocar “incidentes irresponsáveis, impossíveis de serem controlados”. O trabalho artístico realizado pela artista francesa/argelina Zoulikha Bouabdellah, tinha em sua composição sapatos de salto alto posicionados na parte central dos tapetes de reza em sombras azuis, brancas e vermelhas, simbolizando a bandeira francesa. Ela disse que não considerava seu trabalho blasfemante, mas a curadora Christine Ollier ressaltou que a obra será retirada para “evitar polêmicas”. O ato de autocensura recebeu críticas de outros artistas, que salientaram que a liberdade de expressão estava sendo debilitada.

FEVEREIRO

5 de fevereiro. Um professor da única escola religiosa muçulmana financiada pelo estado pediu demissão, alegando que a Averroès Lycée (escola de ensino médio) em Lille era uma incubadora de “antissemitismo, sectarismo e islamismo insidioso”. Em um artigo publicado pelo jornal Libération, a professora de filosofia Sofiane Zitouni ressalta:

“A realidade é que a escola Averroès Lycée é um território muçulmano financiado pelo estado. Ela promove uma visão do Islã que nada mais é do que islamismo. E o faz clandestinamente e às escondidas para continuar recebendo financiamento do estado”.

O diretor da escola, Hassan Oufker, disse que irá processar Zitouni, de descendência argelina, por difamação.

12 de fevereiro. A União dos Democratas Muçulmanos Franceses (L’Union des démocrates musulmans Français, UDMF), um partido político muçulmano recém formado, declarou que começou a botar em campo candidatos nas eleições locais de oito cidades da França. O fundador da UDMF Najib Azergui assinalou que seu grupo deseja dar a sua contribuição à comunidade muçulmana do país: promovendo financiamento islâmico, promovendo o uso do idioma árabe em escolas francesas, trabalhando no sentido de cancelar a proibição em vigor na França do uso do véu nas escolas e lutando contra a “perigosa estigmatização que equipara o Islã ao terrorismo”.

15 de fevereiro. O governo anunciou uma série de medidas destinadas a reprimir o Islã radical que está sendo disseminado nas mesquitas, incluindo a proibição de apoio financeiro de países como o Qatar e a Arábia Saudita. Os muçulmanos franceses são contrários à medida. Karim Bouamrane, um político socialista verbalizou:

“Se países estrangeiros estão se intrometendo a ponto de apoiar mesquitas financeiramente, é porque o governo francês não irá financiá-las. Os muçulmanos não podem correr o risco de recusar dinheiro de fora, porque o governo francês não irá alocar fundos para que os muçulmanos construam mesquitas”.

Bouamrane ressalta que a lei francesa de 1905, que separa o estado da igreja, deve ser alterada para que seja permitido ao estado francês providenciar suporte financeiro ao culto muçulmano.

16 de fevereiro. Nacer Bendrer, um cidadão francês de 26 anos, foi extraditado para a Bélgica pelo papel desempenhado no ataque jihadista cometido em maio de 2014 contra o museu judaico em Bruxelas. Ele é suspeito de ajudar seu compatriota Mehdi Nemmouche, 29, de realizar o ataque no qual quatro pessoas foram assassinadas. Ao ser detido nos arredores de Marselha, Bendrer tinha em seu poder um fuzil automático do tipo Kalashnikov, duas pistolas automáticas e uma escopeta. Consta que Bendrer e Nemmouche se encontraram na prisão em Salon-de-Provence no sul da França entre 2008 e 2010.

23 de fevereiro. Pela primeira vez na história as autoridades francesas confiscaram os passaportes e carteiras de identidade de seis cidadãos franceses que estavam, supostamente, planejando viajar para a Síria com o objetivo de se juntarem ao Estado Islâmico. O governo afirmou que poderia confiscar passaportes de pelo menos mais 40.

25 de fevereiro. O Ministro do Interior Bernard Cazeneuve divulgou um plano para “reformar” a fé muçulmana com o objetivo de adaptá-la aos “valores da República Francesa”. Isso, segundo ele, seria realizado por meio de uma nova “Fundação Islâmica” dedicada a conduzir “pesquisas revigorantes”, para instar uma forma de Islã que “transmita a mensagem de paz, tolerância e respeito”. Entre outras medidas o governo irá criar um novo foro para: promover o diálogo com a comunidade muçulmana, aprimorar o treinamento de pregadores muçulmanos, combater a radicalização em prisões francesas e regulamentar as escolas muçulmanas.

MARÇO

3 de março. O Primeiro Ministro Manuel Valls anunciou que o estado irá dobrar o número de cursos universitários sobre o Islã, em um esforço para evitar que países estrangeiros financiem e influenciem o treinamento de imãs franceses. Valls disse que deseja que mais imãs e capelães nas prisões, que receberam treinamento no exterior, “passem por um treinamento na França para falarem francês fluentemente e entenderem o conceito do secularismo”. Há atualmente seis universidades na França que oferecem cursos de teologia e estudos islâmicos. Valls disse que ele queria dobrar o número para 12 e que os cursos seriam gratuitos.

6 de março. Mohamed Khattabi, o imã “progressista” da Mesquita Aicha em Montpellier, assinalou que o egoísmo faz parte da “natureza das mulheres”. Khattabi, marroquino/canadense que residiu na França por mais de 20 anos, que alega “promover um Islã de coexistência dentro da sociedade francesa”, ressaltou:

“Não importa o quanto de bom você fizer a uma mulher, ela o negará. O egoísmo dela a conduz a negá-lo. Isso vale para todas as mulheres, sejam elas ocidentais, árabes, muçulmanas, judias ou cristãs. Assim é a natureza das mulheres.

“Se uma mulher conseguir controlar sua natureza e reconhecer (a verdade)… Alá concederá a ela uma posição mais alta no paraíso. Contudo, se ela sucumbir à sua natureza e se recusar a aceitar os direitos do homem ou ainda, a bondade que o homem conceder a ela, então estará fadada ao (inferno)”…

8 de março. O Primeiro Ministro Manuel Valls alertou que poderá chegar a 10.000 o número de europeus que estarão participando ativamente da jihad no Iraque e na Síria no final de 2015:

“Hoje já há 3.000 europeus no Iraque e na Síria. Quando se faz uma projeção para alguns meses, se descobre que poderia haver 5.000 antes da chegada do verão e 10.000 antes do final do ano. Vocês se dão conta da ameaça que isso representa”?

16 de março. O Ministério do Interior bloqueou cinco Websites islamistas que, segundo ele, estavam promovendo o terrorismo. Um dos sites bloqueados pertencia ao al-Hayat Media Center, braço encarregado da propaganda do Estado Islâmico. O Ministro do Interior Bernard Cazeneuve ressaltou: “eu faço uma distinção entre liberdade de expressão e disseminação de mensagens que ajudam a enaltecer o terrorismo”. “Essas mensagens de ódio são um crime”. Mas o Comissário de Direitos Humanos da Comissão Européia, Nils Muižnieks, criticou a medida porque ela foi executada sem a supervisão judicial: “limitar os direitos humanos para combater o terrorismo é um grave equívoco, além de ser uma medida ineficaz que pode até ajudar a causa dos terroristas”.

17 de março. O Ministro do Interior Bernard Cazeneuve revelou que o governo interrompeu o pagamento de benefícios de assistência social a 290 jihadistas franceses que estão lutando ao lado do grupo terrorista Estado Islâmico. Ele afirmou que as agências responsáveis pela distribuição dos pagamentos de assistência social estavam sendo notificadas, imediatamente após a confirmação de que um cidadão francês tenha deixado o país para lutar no exterior.

19 de março. O Primeiro Ministro Manuel Valls apresentou um novo projeto de lei que permitirá aos serviços de inteligência monitorar e coletar dados de emails e telefonia de qualquer suspeito de ser terrorista. “São dispositivos legais, não ferramentas de exceção, nem vigilância generalizada dos cidadãos. “Não haverá um Patriot Act francês”, segundo ele, ao se referir à legislação americana que leva o mesmo nome. “Não pode haver zonas sem lei no espaço digital. Nem sempre é possível prever a ameaça, os serviços especializados necessitam ter o poder de agir com rapidez”.

ABRIL

4 de abril. O diretor da Grande Mesquita de Paris, Dalil Boubakeur, sugeriu que o número de mesquitas na França seja dobrado nos próximos dois anos. Discursando perante uma assembléia das Organizações Islâmicas Francesas no subúrbio Le Bourget de Paris, Boubakeur ressaltou que 2.200 mesquitas “não eram suficientes” para os “sete milhões de muçulmanos que vivem na França”. Ele preconizou que igrejas ociosas sejam transformadas em mesquitas.

7 de abril. O Secretário de Estado para a Reforma do Estado, Thierry Mandon, alegou que a falta de locais “decentes” de culto para os muçulmanos franceses, era parcialmente a razão de alguns deles abraçarem o Islã radical. Ele ressaltou:

“Não há mesquitas suficientes na França. Ainda há muitas cidades onde a fé muçulmana é praticada em condições consideradas não decentes. Somos obrigados a reconhecer que há locais de culto muçulmano sem condições satisfatórias. Se fossem decentes, abertas em vez de subterrâneas e escondidas, seria melhor”.

8 de abril. Hackers alegando pertencerem ao Estado Islâmico atacaram a rede de TV francesa TV5Monde, deixando-a fora do ar no mundo inteiro. A rede transmite em mais de 200 países. “Não temos mais condições de fazer transmissões em nenhum de nossos canais. O diretor geral da transmissora Yves Bigot salientou: não temos mais o controle sobre nossos Websites e sites de redes sociais e, em todos eles o Estado Islâmico está assumindo a responsabilidade”. Os hackers acusam o Presidente François Hollande de ter cometido “um erro imperdoável” ao se juntar à coalizão militar liderada pelos Estados Unidos, realizando ataques aéreos contra as posições do ISIS no Iraque e na Síria.

13 de abril. O Primeiro Ministro Manuel Valls revelou que mais de 1.550 cidadãos franceses ou residentes na França estão envolvidos em redes terroristas na Síria e no Iraque. Esse número praticamente triplicou desde janeiro de 2014.

13 de abril. Uma pesquisa de opinião encomendada pelo Website de notícias Atlantico revelouque cerca de dois terços (63%) dos cidadãos franceses são a favor de restringir as liberdades civis para combater o terrorismo. Somente 33% disseram que eram contrários de terem suas liberdades reduzidas, ainda que essa percentagem tenha aumentado significativamente entre os entrevistados mais jovens.

15 de abril. Um muçulmano de 21 anos destruiu mais de 200 lápides em um cemitério católico em Saint-Roch de Castres, uma cidade perto de Toulouse. A polícia enviou o homem a um hospital porque ele estava “delirando e incapaz de se comunicar”.

22 de abril. A polícia francesa deteve Sid Ahmed Ghlam, um estudante argelino cursando ciência da computação, de 24 anos, suspeito de planejar atacar igrejas cristãs em Villejuif, um subúrbio ao sul de Paris. Ele foi detido, ao que parece, por ter acidentalmente atirado em si mesmo. A polícia encontrou em seu carro e em sua casa três fuzis automáticos Kalashnikov, pistolas, munição e coletes à prova de balas, bem como documentos ligados a al-Qaeda e ao Estado Islâmico. A polícia revelou que Ghlam manifestou desejo de se juntar ao Estado Islâmico na Síria.

21 de abril. Um estudo realizado pelo Observatório da Religião no Local de Trabalho (Observatoire du fait religieux en entreprise, OFRE) e pelo Randstad Institute revelou que 23% dos administradores na França estavam se defrontando corriqueiramente com problemas religiosos no local de trabalho, um salto dos 12% observados em 2014. O Presidente do OFRE Lionel Honoré ressaltou que a tensão religiosa se intensificou a partir de janeiro, porque os muçulmanos que se sentem estigmatizados em virtude dos ataques jihadistas em Paris, estavam se tornando mais assertivos em relação as suas convicções.

MAIO

5 de maio. Sébastien Jallamion, um policial de 43 anos de idade de Lyon, foi suspenso do trabalho e multado em €5.000 (US$5.400) depois de ter condenado a morte do francês Hervé Gourdel, que foi decapitado por jihadistas na Argélia em setembro de 2014. Jallamion deu a seguinte explicação:

“Estou sendo acusado de ter criado em setembro de 2014 uma página anônima no Facebook, que mostrava imagens e diversos comentários polêmicos,discriminatórios e injuriosos, de natureza xenofóbica ou anti-islâmica. Para ilustrar, havia um retrato do Califa al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico, com uma viseira na testa. Essa publicação foi exibida na minha presença perante a comissão disciplinar juntamente com a seguinte acusação: você não se envergonha de estigmatizar um imã dessa maneira? Meu advogado pode confirmar isso… A punição ao que parece é de caráter político. Não consigo ver outra explicação.

“Nossos valores fundamentais, aqueles pelos quais muitos de nossos ancestrais deram a própria vida estão se deteriorando e agora é hora de nos indignarmos diante daquilo em que o nosso país está se transformando. Esta não é a França, país do Iluminismo que em seus dias de glória brilhou sobre toda a Europa e além. Temos que lutar para preservar nossos valores, é uma questão de sobrevivência”.

11 de maio. Sarah K., uma menina muçulmana francesa de 15 anos, de descendência argelina, que tinha sido proibida duas vezes de entrar em sala de aula por usar uma saia preta comprida, foi autorizada a retornar à escola usando uma saia do mesmo tipo. Maryse Dubois, a diretora da escola Léo-Lagrange na cidade de Charleville-Mézières, tinha dito que considerava a saia comprida um flagrante símbolo religioso e uma violação das leis seculares da França. A mãe de Sarah disse que Dubois voltou atrás depois que a notícia do incidente se viralizou pelas redes sociais.

27 de maio. Os líderes de uma pequena mesquita em Oullins, um subúrbio de Lyons, fizeram história jurídica ao fazer uso de uma lei francesa de 1905, que separa a igreja do estado, para impedir um salafista de radicalizar membros da mesquita. A lei dispõe de uma cláusula que garante o direito ao culto e postula sanções contra qualquer um que obstrua o serviço religioso. Um tribunal de Lyons considerou Faouzi Saïdi, 51, culpado por se comportar obstrutivamente ao censurar o imã da mesquita e manter rezas paralelas. Saidi, que foi multado em €1.500 (US$1.640), salientou que seu único crime foi “ser tagarela”. E acrescenta: “não entendo porque fui condenado. Eu pratico o Islã conforme manda o rito”.

JUNHO

4 de junho. O partido de oposição do ex-presidente Nicolas Sarkozy, de cara nova, agora com o nome de “Os Republicanos”, manteve uma reunião sobre a questão do “Islã na França ou Islã da França”, como parte de uma mesa redonda sobre a “crise de valores” na França. Sarkozy ressaltou: “a pergunta não é saber o que a República pode fazer pelo Islã e sim o que o Islã pode fazer para se tornar o Islã da França”.

Grupos muçulmanos criticaram a reunião. “Nós não podemos participar de uma iniciativa como esta que estigmatiza os muçulmanos”, ressaltou Abdallah Zekri, presidente do Observatório Nacional da Islamofobia. O organizador do encontro, o Parlamentar Henri Guaino, discorda: “não podemos conversar sobre assuntos que polarizam opiniões? Se você falar sobre imigração, você é xenófobo. Se você falar sobre segurança, você é fascista. Se você falar sobre o Islã, você é islamófobo”.

6 de junho. O Primeiro Ministro Manuel Valls revelou que mais de 850 cidadãos franceses ou residentes na França viajaram para lutar na Síria e no Iraque. Mais de 470 ainda estão lá e acredita-se que 110 foram mortos em combate.

7 de junho. O Ministro do Interior Bernard Cazeneuve revelou que 113 cidadãos franceses ou residentes na França morreram como jihadistas nos campos de batalha do Oriente Médio. Há 130 processos judiciais em andamento concernentes a 650 indivíduos relacionados ao terrorismo e 60 indivíduos foram proibidos de deixar o país.

7 de junho. Mais de dez membros do Forsane Alizza (Cavaleiros do Orgulho), um grupo formado para defender muçulmanos da “islamofobia”, foram a julgamento em Paris por suspeita de estarem planejando ataques terroristas. O grupo, formado em agosto de 2010 por Mohamed Achamlane, um franco/tunisiano de 37 anos, que se autodenomina “Emir”, postou uma mensagem em seu Website exigindo que as forças francesas deixem todos os países de maioria muçulmana. A mensagem dizia o seguinte: “se nossas exigências forem ignoradas, iremos considerar que o governo está em guerra contra os muçulmanos”. No tribunal, Achamlane enfatizou: “não há Islã radical ou moderado. Há somente Islã autêntico”.

15 de junho. O Primeiro Ministro Manuel Valls assinalou em uma conferência, com duração de meio dia, sobre as relações com a comunidade muçulmana que o “Islã está aqui para ficar”. Ele também ressaltou que não há ligação entre Islã e extremismo. “Temos que dizer que isso tudo não é o Islã”, afirmou Valls: “o discurso de incitamento ao ódio, o antissemitismo que se esconde atrás do antissionismo e o ódio contra Israel, os autoproclamados imãs em nossos bairros e em nossas prisões que promovem a violência e o terrorismo”. Na conferência não se debateu a radicalização porque o tema foi considerado muito delicado.

23 de junho. Um tribunal em Paris rejeitou um caso apresentado por uma mãe que queria processar o governo francês por este não ter impedido seu filho adolescente de sair do país para se juntar aos jihadistas na Síria. O menino tinha 16 anos quando deixou a cidade francesa de Nice em dezembro de 2013, juntamente com três outros, ele pegou um avião para a Turquia e atravessou por terra a fronteira com a Síria. Sua mãe, identificada apenas como Nadine A., sustentou que a polícia do aeroporto de Nice deveria ter impedido o menino de embarcar porque ele tinha apenas uma passagem de ida e estava sem bagagens. O tribunal decidiu que os policiais do aeroporto não podem ser responsabilizados, rejeitando a demanda de €110.000 (US$120.000) de indenização.

28 de junho. O Primeiro Ministro Manuel Valls revelou ao canal iTele que há entre 10.000 e 15.000 salafistas na França e que 1.800 pessoas tinham algum tipo de “ligação” com a causa islamista. Ele salientou que o Ocidente estava engajado em uma “guerra contra o terrorismo”, acrescentando: “não podemos perder esta guerra porque ela é fundamentalmente a guerra das civilizações. É a nossa sociedade que está em jogo, é a nossa civilização que estamos defendendo”.

29 de junho. O Ministro do Interior Bernard Cazeneuve revelou nos últimos três anos a França deportou 40 imãs por “pregarem o ódio”: “desde o início do ano analisamos 22 casos, e cerca de 10 imãs e pregadores do ódio foram expulsos”.

29 de junho. Yassin Salhi de 35 anos, pai de três filhos, confessou ter decapitado seu patrão e de tentar explodir uma indústria química perto de Lyon. A cabeça decapitada foi encontrada pendurada em uma cerca da fábrica, ao lado de duas bandeiras com as inscrições muçulmanas de profissão-de-fé. Salhi, é motorista de caminhão, natural da França, cujos pais são de descendência marroquina e argelina. Antes de ser detido, Salhi tirou uma foto de si mesmo segurando a cabeça decapitada e enviou a imagem a um jihadista francês que se encontra lutando ao lado Estado Islâmico na Síria. A esposa de Salhi assinalou: “nós somos muçulmanos comuns. Respeitamos o Ramadã”.

Também em junho, em Bordeaux, a mercearia De L’Orient à L’Occidental, cujos proprietários se converteram recentemente ao Islã, cancelaram a “separação de gênero”, depois de enfrentarem uma avalanche de criticas. Na esperança de garantir que homens e mulheres não entrassem em contato dentro da mercearia, os proprietários tentaram proibir as mulheres de fazerem compras às segundas, terças, quartas e sextas, e proibir os homens às quintas, sábados e domingos.

JULHO

8 de julho. A revista semanal Valeurs Actuelles, lançou uma petição em todo território nacional intitulada: “não toque em minha igreja!”, depois que o diretor da Grande Mesquita de Paris, Dalil Boubakeur, vocalizou que igrejas ociosas na França deveriam ser transformadas em mesquitas. A revista apontou para uma pesquisa de opinião realizada pelo Ifop que revelava que cerca de sete em cada dez entrevistados (67%) responderam que eram contrários a transformação de igrejas francesas em mesquitas.

10 de julho. Mohamed Achamlane, 37, o líder franco/tunisiano de um grupo banido chamado Forsane Alizza (Cavaleiros do Orgulho), foi sentenciado a nove anos de prisão, acusado de atos terroristas, depois que batidas policiais encontraram armas e uma lista de alvos judaicos em seus arquivos pessoais. O grupo, criado em 2010 com o suposto objetivo de barrar a disseminação da “islamofobia”, foi banido pelo governo em março de 2012 depois que propaganda jihadista apareceu em seu Website.

14 de julho. Cerca de 130 carros foram queimados em Paris para marcar o Dia da Bastilha, o dia nacional da França. Mais de 80 carros são queimados todos os dias na França, na maioria dos casos por jovens muçulmanos.

15 de julho. As autoridades francesas abortaram uma conspiração jihadista para decapitar um militar de alta patente das forças armadas francesas em Port-Vendre, uma base militar perto de Perpignan e postar o vídeo da decapitação na Internet. A polícia antiterrorista deteve três homens, incluindo Djibril A., ex-marinheiro da Marinha Francesa.

22 de julho. Uma mulher de 21 anos de idade chamada Angelique Sloss foi atacada por arruaceiras muçulmanas depois que a viram tomando banho de sol com duas amigas em Parc Léo-Lagrange em Reims. As mulheres a acusaram de “imoralidade” por expor demasiadamente o corpo em lugar público.

AGOSTO

13 de agosto. Um tribunal em Dijon manteve a decisão de Gilles Platret, prefeito de Chalon-sur-Saône, de parar de oferecer alternativas para a carne de porco em lanchonetes das escolas. A decisão foi bem recebida por Platret como a “primeira vitória do secularismo”. A medida foi condenada por grupos muçulmanos. Abdallah Zekri do Conselho Francês da Fé Muçulmana (Conseil français du culte musulman, CFCM) ressaltou:

“Só posso condenar a decisão do prefeito, que não foi tomada para restaurar a paz social nas escolas além de criar indignação na comunidade muçulmana. Todos os muçulmanos respeitam o secularismo. Os muçulmanos nunca pleitearam refeições halal nas cantinas”.

16 de agosto. O prefeito francês Yves Jégo deu entrada com uma petição para que fosse introduzida uma nova lei, exigindo que todas as escolas públicas francesas ofereçam uma opção vegetariana em suas lanchonetes. A iniciativa tem como objetivo ajudar estudantes que não podem ingerir carne de porco por motivos religiosos. Jégo salientou que a questão do cardápio do almoço nas escolas é uma “fonte de discórdia sem sentido, que tem como alvo na realidade, na maioria das vezes, a comunidade muçulmana que “desafia a nossa capacidade de conviver em harmonia uma realidade”. Mais de 150.000 pessoas assinaram a petição.

21 de agosto. Ayoub El-Khazzani, um marroquino de 26 anos de idade, foi detido após embarcar em um trem-bala de Amsterdã a Paris com 554 passageiros a bordo e abrir fogo com um fuzil Kalashnikov. Ele foi imobilizado com a ajuda de três americanos e um britânico. Mais tarde veio à tona que El-Khazzani tinha lutado ao lado do ISIS na Síria e que já era conhecido por pelo menos quatro agências de inteligência.

SETEMBRO

6 de setembro. Marine Le Pen, líder do Partido Frente Nacional, acusou a Alemanha de explorar a crise dos migrantes no afã de reduzir salários. Discursando para uma platéia de correligionários em Marselha, ela ressaltou:

“A Alemanha provavelmente acredita que sua população está moribunda e está procurando reduzir salários e continuar recrutando escravos por meio da imigração em massa. A Alemanha não quer apenas comandar nossa economia, ela também quer nos forçar a aceitar centenas de milhares de candidatos a asilo”.

7 de setembro. O Presidente François Hollande assinalou que a França irá abrigar 24.000 migrantes nos próximos dois anos. “É a obrigação da França. O direito a asilo é parte integrante do nosso corpo e alma. Nossa história demanda essa responsabilidade”.

8 de setembro. O Primeiro Ministro Manuel Valls censurou dois prefeitos franceses que disseram que abrigariam somente refugiados cristãos. “Não é possível selecionar refugiados com base na religião”, afirmou Valls. “O direito a asilo é um direito universal”. O prefeito de Roanne, Yves Nicolin, ressaltou que aceitará abrigar somente cristãos, para ter “certeza de que não são terroristas disfarçados”. O prefeito de Belfort, Damien Meslot, salientou que ele iria considerar abrigar somente famílias do Iraque e da Síria pelo fato “delas serem as mais perseguidas”.

22 de setembro. Eric Zemmour, um escritor francês e jornalista político, foi absolvido da acusação de incitamento ao ódio racial. Zemmour estava sendo processado por comparar gangues de estrangeiros aos invasores bárbaros que se seguiram após a queda do Império Romano. Em uma transmissão de rádio de 2014, ele ressaltou:

“Os normandos, hunos, árabes, as grandes invasões após a queda de Roma agora foram substituídas por gangues de chechenos, ciganos, kosovares, magrebinos e africanos que roubam, atacam e saqueiam. Somente sociedades homogêneas como a do Japão, que por muito tempo disseram não para a imigração em massa e que protegeram suas barreiras naturais, escaparam dessa violência das ruas”.

Promotores solicitaram que ele fosse multado em €5.000 (US$5.400) e que a emissora de rádio RTL fosse multada em €3.000 por postar a transmissão em seu site na Internet. O tribunal, contudo, declarou: “por mais chocantes e excessivas que essas palavras possam parecer, elas se referiam apenas a uma fração das comunidades e não a elas como um todo”.

27 de setembro. Mohamed Chebourou, um extremista islâmico francês/argelino de 27 anos, fugiu depois que lhe foi concedido uma breve licença da prisão de Meaux-Chauconin em Seine-et-Marne, na zona leste de Paris. Ele estava cumprindo uma pena de sete anos por assalto e não deveria ser liberado até 2019. Mais tarde ele foi detido na Argélia. A Ministra da Justiça da França Christiane Taubira foi pressionada a explicar como a um extremista islâmico poderia ter sido concedida uma licença temporária da prisão.

OUTUBRO

12 de outubro. Um estudante muçulmano de 15 anos de idade foi detido após gritar “Allahu Akbar”! (“Deus é grande”!) e atirar com uma espingarda de ar comprimido em uma das mãos de seu professor de física em uma escola em Châlons-en-Champagne. O menino disse que queria morrer como mártir.

20 de outubro. Marine Le Pen, líder do partido Frente Nacional, foi a julgamento sob acusação de incitamento ao ódio religioso, após comparar as rezas de rua dos muçulmanos com a ocupação nazista. Em um comício de campanha em Lyon em 2010, ela declarou:

“Peço desculpas, mas me dirijo àqueles que realmente gostam de falar sobre a Segunda Guerra Mundial, ao falarmos de ocupação, podíamos falar sobre as (rezas de rua), porque são claramente uma ocupação de território.

“É uma ocupação de parte do território, de bairros onde são aplicadas as leis da religião, é de fato uma ocupação. Não há tanques, não há soldados, mas mesmo assim é uma ocupação, uma ocupação que oprime as pessoas”.

Le Pen disse ser vítima de “perseguição judicial”. Ela acrescentou:

“É um escândalo que uma líder política possa ser processada por expressar suas opiniões. Aqueles que repudiam o comportamento ilegal dos fundamentalistas estão mais propensos a serem processados do que os próprios fundamentalistas que se comportam de maneira ilegal”.

29 de outubro. A polícia antiterrorista abortou uma conspiração jihadista que tinha como objetivo atacar a principal base da Marinha Francesa em Toulon. Os policiais detiveram Hakim Marnissi, de 25 anos, natural de Toulon, que estava sendo monitorado desde 2014, quando ele começou a publicar posts de propaganda do ISIS em sua página no Facebook. A polícia acredita que Marnissi foi radicalizado por Mustapha Mojeddem, um jihadista francês, também de Toulon, que está lutando ao lado do ISIS na Síria.

NOVEMBRO

13 de novembro. Uma série de ataques jihadistas coordenados, em Paris e no bairro Saint-Denis, ao norte da capital francesa, deixou 130 mortos e mais de 360 feridos. Três homens bomba desfecharam um ataque nas proximidades do Stade de France (estádio de futebol) em Saint-Denis, seguido por ataques suicidas e tiroteios em massa contra cafeterias, restaurantes e uma sala de concertos em Paris.

14 de novembro. Em um pronunciamento à nação, transmitido pela TV, o Presidente François Hollande responsabilizou o Estado Islâmico pelos ataques em Paris. Discursando do Palácio de Eliseu, Hollande ressaltou:

“É um ato de guerra cometido por um exército terrorista, um exército jihadista, Daesh (sigla do Estado Islâmico), contra a França. É um ato de guerra que foi preparado, organizado e planejado no exterior, com cúmplices que estão dentro deste país”.

14 de novembro. Ahmad Almohammad, um dos jihadistas que detonou explosivos amarrados ao corpo no Stade de France, o alvo escolhido para ser atacado por três homens-bomba durante uma partida de futebol entre as seleções francesa e alemã em 13 novembro, tinha se passado por um candidato a asilo para que pudesse ingressar na União Européia. Ele entrou na União Européia com um passaporte sírio falsificado. Veio à tona que foram dadas boas-vindas a ele quando desembarcou no litoral da ilha grega de Leros em 3 de outubro, por voluntários da organização humanitária internacional Médecins Sans Frontières (Médicos sem Fronteiras).

16 de novembro. Em um raro pronunciamento em uma sessão conjunta do parlamento, o Presidente François Hollande alertou: “estamos em guerra contra o terrorismo jihadista que ameaça o mundo inteiro”.

17 de novembro. Trinta muçulmanos, todos nativos de Bangladesh, residentes em Paris, se concentraram para protestar contra os ataques jihadistas de 13 de novembro. Estima-se que o número de muçulmanos em Paris chegue a 1,7 milhões de pessoas. Mohammad Hassan, um dos manifestantes ressaltou:

“Os muçulmanos não estão se fazendo ouvir. É importante que isto seja feito porque há muçulmanos temerosos em se exporem e falarem a verdade. Cerca de 5% dos muçulmanos apóiam os terroristas. O restante precisa se manifestar abertamente. Eu gostaria muito que mais muçulmanos se juntassem a nós”.

18 de novembro. A polícia realizou uma batida policial em um apartamento em Saint-Denis, uma comunidade de um subúrbio localizado ao norte de Paris, após ter recebido uma pista de que Abdelhamid Abaaoud, o arquiteto dos ataques em Paris, poderia estar naquele local. Duas pessoas foram mortas, incluindo Hasna Aitboulahcen, uma mulher suspeita que detonou um colete com explosivos. Oito pessoas foram detidas.

18 de novembro. Um professor judeu foi esfaqueado em Marselha por três elementos que alegavam serem seguidores do Estado Islâmico. Três homens em lambretas se aproximaram do professor na rua antes de lhe mostrar uma foto de Mohamed Merah, um jihadista que assassinou sete pessoas em uma série de ataques no sul da França em 2012. Em seguida esfaquearam o professor no braço e na perna.

24 de novembro. Anouar Kbibech, presidente do Conselho Francês da Fé Muçulmana (Conseil Français du Culte Musulman, CFCM), conclamou os imãs da França a obterem licenças para que possam realizar sermões, como meio de “combater a radicalização”. A certificação garantirá que os imãs “promoverão um Islã aberto e tolerante” e que “respeitarão as leis da República”. Essa “capacitação” poderá ser “cancelada” se necessário.

30 de novembro. A última edição da revista do ISIS no idioma francês, a Dar al-Islamconclamou seus partidários na França a assassinarem professores que promovem o secularismo nas escolas francesas. “É portanto uma obrigação combater e matar esses inimigos de Alá,” segundo a revista (p.17).

DEZEMBRO

2 de dezembro. O Secretário Geral da Central Geral dos Trabalhadores – CGT da Air France Philippe Martinez, revelou que a organização expulsou cerca de 500 membros suspeitos de serem extremistas islâmicos.

2 de dezembro. O Ministro do Interior Bernard Cazeneuve anunciou o fechamento de uma mesquita em Lagny-sur-Marne, zona leste de Paris, sob a alegação de que ela estava disseminando radicalismo islâmico e fazendo recrutamento para o ISIS. Foi a terceira mesquita fechada em uma semana tendo como base o extremismo.

13 de dezembro. Cerca de 70 funcionários dos dois principais aeroportos de Paris tiveram suas licenças de trabalho cassadas após ser constatado que eram extremistas islâmicos. Os assim chamados crachás vermelhos são emitidos a funcionários, incluindo técnicos de manutenção de aeronaves, encarregados de bagagens e fiscais de passaporte, que trabalham em áreas de segurança dos aeroportos de Roissy-Charles de Gaulle e Orly.

15 de dezembro. Marine Le Pen, líder do partido Frente Nacional, foi absolvida da acusação de incitamento ao ódio após comparar as rezas de rua dos muçulmanos com a ocupação nazista. O juiz presidente declarou que, embora os comentários de Le Pen fossem “chocantes”, eles estão protegidos “como parte integrante da liberdade de expressão”.

16 de dezembro. Entre 800 e 1.000 migrantes tentaram invadir o Eurotúnel perto da cidade portuária francesa de Calais na tentativa de alcançar a Grã-Bretanha. A polícia, que usou gás lacrimogêneo para dispersar a multidão, declarou que o número de pessoas que tentava atravessar o canal em um único dia era “sem precedentes”. Aproximadamente 4.500 migrantes da África, Ásia e Oriente Médio vivem em condições sub-humanas em um campo improvisado em Calais conhecido como “Floresta”.

31 de dezembro. Em seu tradicional pronunciamento pela Passagem do Ano Novo, o Presidente François Hollande alertou que a França pode estar sujeita a mais ataques jihadistas em 2016:

“Acabamos de passar por um ano terrível. Começando com os ataques covardes contra a redação da revista Charlie Hebdo e ao supermercado kasher Hypercacher, depois os sangrentos ataques em Montrouge, Villejuif, Saint-Quentin Fallavier, depois o trem de Thalys, terminando com os hediondos atos de guerra em Saint-Denis e Paris… O terrorismo não acabou na França. A ameaça continua. E está no nível mais alto”.

Fonte: A Islamização da França em 2015

BOMBA: Tragam O Futuro Sem Dinheiro [Papel-Moeda] – Editorial da Bloomberg

Meu Comentário: eu tenho regularmente escrito e acompanhado toda essa movimentação em torno da idéia de uma sociedade sem dinheiro físico, afinal estou bem ciente de como funciona o dinheiro digital (eletrônico) até porque sou da área de TI e atuo em desenvolvimento de software há um bom tempo. Mas minhas preocupações com esse movimento estão longe da questão técnica sobre o dinheiro digital, o verdadeiro problema é político, pois a moeda eletrônica abre uma grande porta para um autoritarismo jamais imaginado, onde o governo por fim poderá controlar tudo, tendo em vista que todo movimento financeiro poderia ser rastreado e controlado por ele. Sendo assim, literalmente, ninguém poderia vender ou comprar qualquer coisa sem a aquiescência do governo. É claro que uma proposta desse tipo virá desprezando esse risco e o colocando como algo irrelevante, buscando apenas evidenciar todas as vantagens de tal sistema, e vantagens essas que realmente existem, mas os riscos são por demais altíssimos, tendo em vista o caráter dos governantes nas últimas décadas. Esse artigo traduzido do recente editorial da Bloomberg apenas evidencia o quanto isso está crescendo e como pode estar se aproximando um sistema financeiro totalmente controlado em nível global e que poderá mudar tudo o que conhecemos. A China está, com o forte apoio do FMI, trabalhando em sua moeda digital para substituir o dinheiro físico, e as implicações disso são tremendas, ainda mais num governo socialista como é o Chinês. Mas a China não é a única a seguir essa tendência, há vários outros governos como poderá ver no artigo e o fato do FMI apoiar a idéia torna tudo ainda mais perigoso. O futuro que se desenha é tecnologicamente maravilhoso, mas igualmente perigoso no sentido político-social e pode desencadear um período de trevas como nunca visto antes na história do mundo.
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<p>Just ones and zeroes.</p> Photographer: PARK JI-HWAN/AFP/Getty Images

O dinheiro físico funcionou bem por 4.000 anos ou mais. Nesses dias, porém, as notas e as moedas cada vez mais parecem antiquadas: elas são sujas e perigosas, pesadas e caras, antiquadas e muito analógicas.

Sentindo essa insatisfação, os empresários introduziram centenas de moedas digitais nos últimos anos, das quais o bitcoin é apenas a mais famosa. Agora os governos querem entrar nesse meio: O Banco Popular da China diz que pretende emitir uma moeda digital própria. Os bancos centrais no Equador, nas Filipinas, no Reino Unido e Canadá estão ponderando idéias semelhantes. Pelo menos uma empresa surgiu para ajudá-los com isso.

Muito disso depende dos detalhes, é claro. Mas esta é uma tendência bem-vinda. Em teoria, a proposta de legalização do dinheiro digital poderia combinar a criatividade das moedas virtuais privadas com a estabilidade de um governo para as apoiar.

O mais óbvio, um sistema desse tipo iria tornar o movimento do dinheiro mais fácil. Devidamente concebidos, uma moeda fiduciária digital poderia ser movimentada facilmente entre as redes de pagamento de outras forma incompatíveis, tornando as transações mais rápidas e mais baratas. Seria de uso particular para os pobres, que poderiam pagar contas ou aceitar pagamentos on-line sem a necessidade de uma conta bancária, ou de fazerem remessas sem serem enganados.

Para os governos e os seus contribuintes, as potenciais vantagens são abundantes. A emissão da moeda digital seria mais barata do que a impressão de notas e a cunhagem de moedas. Isso pode melhorar os indicadores estatísticos, tais como inflação e o produto interno bruto. Operações rastreáveis ​​poderiam ajudar a inibir o financiamento do terrorismo, a lavagem de dinheiro, fraude, evasão fiscal e a corrupção.

O efeito de maior alcance pode ser sobre a política monetária. Durante grande parte da década passada, os bancos centrais do mundo rico têm sido dificultados pelo que os economistas chamam de o limite inferior ao zero, ou a incapacidade de impor taxas de juros significativamente negativas. A persistente baixa demanda e o alto desemprego podem, por vezes, exigirem que as taxas de juros sejam empurradas abaixo de zero – mas por que manter o dinheiro em um depósito cujo valor continua encolhendo quando você pode guardar o dinheiro em vez disso? Com taxas próximas de zero, esse enigma levou os decisores políticos a métodos novos e imprevisíveis para estimular a economia, como a grande escala de compra de títulos.

Uma proposta de legalização do dinheiro digital poderia resolver este problema. Suponha que o banco central cobrasse dos bancos que lidam com ele por uma taxa para aceitar o papel moeda. Dessa forma, ele poderia definir uma taxa de câmbio entre a moeda eletrônica e o dinheiro em papel – e através do aumento da taxa, isso que faria com que o papel-moeda se depreciasse em relação ao padrão eletrônico. Isso eliminaria o incentivo para guardar o dinheiro ao invés de se usar o dinheiro digital, permitindo que o banco central empurrasse a taxa de juros abaixo do zero e, assim, estimular o consumo e o investimento. Seria um grande passo em direção a não se utilizar mais o dinheiro físico completamente.

A proposta da legalização do dinheiro digital não é isenta de risco. Uma política que impulsiona para baixo o valor do papel-moeda seria objeto de resistência política e – para dizer o mínimo – exigiria alguma explicação. Isso pode atrasar a inovação privada em moedas digitais. A segurança será uma preocupação permanente. Pagamentos sem dinheiro físico também tendem a exacerbar a propensão humana para gastar mais. E você não tem que ser paranóico para se preocupar com o rastreamento de sua vida financeira pelo “Big Brother” [leia-se, o governo].

Os governos devem estar atentos a estes problemas – porque a chave para levar as pessoas a adotarem um sistema do tipo é a confiança. Uma regra de que o histórico das transações de uma pessoa podem ser acessadas apenas com uma ordem judicial, por exemplo, pode aliviar as preocupações sobre a privacidade. Harmonizar os regulamentos internacionais poderiam encorajar as empresas a manterem isso em tentativa. E uma campanha eficaz para explicar essa nova tendência seria indispensável.

Se os políticos forem sábios e participarem de tudo isso, eles acabariam conseguindo convencer o público de uma surpreendente verdade sobre o dinheiro físico: as pessoas ficarão melhores sem ele.

Fonte: Bring On the Cashless Future

Plano da Alemanha para a Deportação de Migrantes: “Farsa Política”

por Soeren Kern

  • O canal de TV N24 revelou que chega a 50% o total do número de “candidatos a asilo” que desapareceram e que seu paradeiro é desconhecido. Provavelmente são migrantes econômicos e de outra natureza que procuram fugir da deportação, se ou quando seus pedidos de asilo forem rejeitados.
  • Dezenas de milhares de migrantes destruíram seus passaportes e demais documentos de identidade antes de entrarem na Alemanha. Pode levar anos até que as autoridades alemãs consigam descobrir as verdadeiras identidades dessas pessoas e seus países de origem.
  • Mesmo que a Alemanha envie de volta essas pessoas aos países onde elas primeiro entraram na União Européia (normalmente Grécia, Hungria ou Itália), estando a Europa sem fronteiras, esses migrantes poderão facilmente voltar para a Alemanha.
  • As autoridades alemãs estão minimizando o fato dos migrantes desrespeitarem a lei, aparentemente para evitar alimentar sentimentos anti-imigração.
  • Os migrantes continuam chegando a Alemanha a um ritmo de cerca de 2.000 pessoas por dia.
  • “Oito a dez milhões de migrantes estão a caminho”. – Ministro do Desenvolvimento Gerd Müller.

 

Após três meses de lutas internas, o governo de coalizão da Alemanha anunciou novas medidas destinadas a facilitar a deportação de migrantes condenados por cometerem crimes.

As medidas emergiram em resposta à indignação dos eleitores frente aos abusos sexuais cometidos por migrantes contra centenas de mulheres na cidade de Colônia e outras cidades alemãs na Passagem do Ano Novo e às supostas investidas, tanto por parte do governo quanto pela mídia noticiosa em acobertar os crimes.

Conhecido como Pacote de Asilo II (Asylpaket II), o projeto de lei foi anunciado pelo gabinete em 28 de janeiro e deve ser aprovado pelo Bundestag, a Câmara Baixa do parlamento alemão, para que possa entrar em vigor.

O aspecto central do plano consiste em aumentar o número de centros de recepção para migrantes dos atuais dois para cinco. Ao que tudo indica, os centros irão acelerar os pedidos de asilo legítimos apresentados por aqueles que têm condições de provar que estão fugindo das zonas de conflito.

Os centros também irão incrementar os esforços para rejeitar pedidos fraudulentos apresentados por migrantes econômicos que estão se passando por candidatos a asilo. O objetivo declarado é o de poder, com o tempo, deportar aqueles que ingressaram sob falsas pretensões.

Além disso, o plano irá introduzir um período de espera de dois anos para que os refugiados legítimos possam trazer membros da família para a Alemanha. Serão feitas exceções àqueles que puderem provar que seus familiares estão sendo “insistente e pessoalmente perseguidos”.

O governo também ressaltou que tentará limitar a migração de países do norte da África, declarando a Argélia, o Marrocos e a Tunísia como os assim chamados países seguros, onde não há conflitos armados ou ameaças de violência, perseguição ou tortura. Essas medidas farão com que seja praticamente impossível aprovar pedidos de asilo de candidatos daqueles países.

Críticos contrários ao plano dizem que se trata mais de uma farsa política do que algo concreto e que não aliviará quase nada a crise migratória da Alemanha.

Primeiro, a Alemanha desconhece o paradeiro de centenas de milhares de migrantes que entraram no país em 2015. O canal de notícias N24 informou que chega a 50% a proporção de “candidatos a asilo” que desapareceram, ninguém sabe onde eles se encontram. Provavelmente são migrantes econômicos e de outra natureza que procuram fugir da deportação, se ou quando seus pedidos de asilo forem rejeitados. O jornal Saarbrücker Zeitung revelou que chega a 30% a proporção de migrantes abrigados nos estados orientais da Alemanha: Brandemburgo, Thuringia e Saxony-Anhalt que “simplesmente desapareceram”. Paralelamente, as autoridades alemãs estimam que centenas de milhares de migrantes entraram no país sem que fossem registrados, cujo paradeiro é desconhecido.

Segundo, dezenas de milhares de migrantes destruíram seus passaportes e demais documentos de identidade antes de entrarem na Alemanha. Pode levar anos até que as autoridades alemãs consigam descobrir as verdadeiras identidades dessas pessoas e seus países de origem. Isso irá complicar, e postergar, muitas deportações. Mesmo que a Alemanha envie de volta essas pessoas aos países onde elas primeiro entraram na União Européia (normalmente Grécia, Hungria ou Itália), estando a Europa sem fronteiras, esses migrantes poderão facilmente voltar para a Alemanha.

Terceiro, não é fácil ultrapassar os obstáculos legais da Alemanha no que se refere à deportação. As leis alemãs rezam que migrantes que cometeram crimes só poderão ser deportados se forem sentenciados a penas de no mínimo três anos de prisão. Na prática, isso raramente acontece em se tratando de pequenos delitos. O governo está cogitando alterar o Artigo 60 da Lei sobre a Residência de Estrangeiros (Aufenthaltsgesetz), para que seja possível deportar migrantes sentenciados a penas de um ano de prisão. Mas ainda que os migrantes sejam sentenciados por cometerem crimes, eles não podem ser deportados para países que o governo da Alemanha considera “inseguros”. Além disso, os migrantes não podem ser deportados para países onde correm o risco de serem condenados à pena de morte.

Para muitos críticos, a impressão é que o sistema judicial alemão está incapacitado, em nome de correção política. Muito embora os migrantes estejam alimentando uma torrente de crimes violentos em cidades espalhadas por toda a Alemanha, as autoridades alemãs estão menosprezando o desrespeito à lei, aparentemente para evitar botar mais lenha na fogueira do sentimento anti-imigração.

Um documento confidencial da polícia, vazado para o jornal Rheinischen Post revelou que em 2014 um número recorde de 38.000 candidatos a asilo na Alemanha foi acusado de cometer crimes no país. Analistas acreditam que esse número, que se traduz em mais de 100 crimes por dia, seja apenas uma fração do número verdadeiro: muitos crimes não vêm a público.

Em Hamburgo a polícia está travando uma batalha perdida contra ladrões de bolsas. Mais de 20.000 bolsas, cerca de 55 por dia, são roubadas a cada ano. Segundo Norman Großmann, diretor do gabinete do inspetor da polícia federal de Hamburgo, 90% das bolsas são roubadas por jovens do sexo masculino com idades entre 20 e 30 anos oriundos do norte da África e dos Bálcãs.

Em um novo best-seller sobre o fracasso do multiculturalismo na Alemanha, Tania Kambouri, uma policial alemã descreve a deterioração do sistema judicial alemão e como os juízes alemães relutam em punir migrantes, inclusive os criminosos contumazes.

Quarto, a decisão do governo alemão em negar pedidos de asilo apresentados por migrantes da Argélia, Marrocos e Tunísia terá, na prática, um efeito muito limitado. De um milhão de migrantes que entraram na Alemanha em 2015, acredita-se que menos de 20.000 vieram daqueles três países.

Enquanto isso, uma nova pesquisa de opinião publicada pela revista Focus revela que quase a metade da população alemã quer que a Chanceler Angela Merkel renuncie por conta da sua política de portas abertas para a imigração: Em 2015 esta política permitiu a entrada no país de mais de um milhão de migrantes da África, Ásia e Oriente Médio.

Não obstante, Merkel continua tenazmente se recusando a implantar a única política que poderia evitar que a crise migratória se deteriore ainda mais: o fechamento das fronteiras alemãs para impedir a entrada de migrantes.

Malgrado a neve, gelo e temperaturas abaixo de zero em muitas regiões da Europa, os migrantes continuam vindo para a Alemanha a um ritmo de cerca de 2.000 pessoas por dia. Mais de 54.500 pessoas chegaram à Europa em janeiro de 2016, incluindo 50.668 que se dirigiram através da Grécia, de acordo com a Agência para Refugiados das Nações Unidas (UNHCR).

O FMI – Fundo Monetário Internacional estima que 1,3 milhões de candidatos a asilo entrarão na União Européia anualmente em 2016 e 2017.

Em uma entrevista concedida em 9 de janeiro ao jornal Bild, o Ministro do Desenvolvimento Gerd Müller alertou que os maiores fluxos de refugiados ainda estão por vir. Ele ressaltou que apenas 10% dos migrantes que estão fugindo do caos que assola o Iraque e a Síria conseguiram chegar à Europa até agora: “oito a dez milhões de migrantes estão a caminho”.

Paralelamente, aos alemães poderão ser negadas as isenções de visto para os Estados Unidos pelo fato dos agentes de segurança dos EUA estarem cada vez mais alarmados com a proliferação de passaportes falsos que poderiam ser usados por terroristas. De acordo com uma matéria da revista Politico:

“Na esteira dos atentados de Paris, o Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos ficou tão preocupado com as implicações em relação a triagem de visitantes, que determinou a data limite de 1º de fevereiro para que a França, Bélgica, Alemanha, Itália e Grécia corrijam as “brechas críticas” ou percam o benefício do Programa de Isenção de Visto dos Estados Unidos. O programa permite que cerca de 20 milhões de pessoas de 38 países, em sua maioria da Europa, entrem nos Estados Unidos para negócios ou turismo sem a necessidade de visto”.

Esquerda: Uma nova pesquisa de opinião revela que quase a metade da população alemã quer que a Chanceler Angela Merkel renuncie por conta da sua política de portas abertas para a imigração. Direita: A Interpol dispõe de informações sobre 250.000 passaportes sírios e iraquianos perdidos ou roubados, incluindo passaportes em branco.

De acordo com a revista Politico, nos últimos cinco anos o número de passaportes perdidos ou roubados na UE dobrou. O número de passaportes falsos do Oriente Médio também é motivo de crescente preocupação. A Interpol dispõe de informações sobre 250.000 passaportes sírios e iraquianos perdidos ou roubados, incluindo passaportes em branco.

Fonte: Plano da Alemanha para a Deportação de Migrantes: “Farsa Política”

Um Smorgasbord de Antissemitismo Sueco

por Nima Gholam Ali Pour

  • A Suécia é um país onde o uso do termo “imigração em massa” normalmente é criticado simplesmente por soar racista. Somente o antissemitismo não é criticado. Na Suécia todas as outras formas de racismo, até mesmo aquelas que alguns dizem poderiam ser consideradas racistas, são criticadas, e de maneira implacável.
  • Em 2015 a TV4, um dos veículos de mídia mais importantes da Suécia, descreveu o antissemitismo simplesmente como uma “diferença de opinião”.
  • “O que é história para nós não é a história de outros. … Quando temos outros estudantes que estudaram em outros livros de história, não há razão para discutirmos fatos contra fatos”. — A administração de uma escola para adultos, ao repreender um professor que disse que o Holocausto realmente aconteceu.
  • “Os judeus estão fazendo uma campanha contra mim”. — Ministra das Relações Exteriores da Suécia Margot Wallström.
  • Há menos de 20.000 judeus na Suécia, mais de 20.000 sírios receberam o status de asilados somente em 2014. É por este motivo que pouquíssimos políticos, ávidos para conquistar os votos dos imigrantes, falam sobre o antissemitismo árabe.

Uma manifestação contra o racismo estava marcada para o dia 9 de novembro na cidade de Umeå, Suécia, para lembrar a Noite dos Cristais (a noite de 1938 em que 400 judeus foram assassinados na Alemanha e 30.000 judeus do sexo masculino foram enviados a campos de concentração). Só que havia um pequeno detalhe: os judeus da Umeå não foram convidados para a manifestação. A razão disto, de acordo com Jan Hägglund, um dos organizadores do evento, é que a manifestação poderia causar “mal estar ou provocar uma situação de insegurança para eles”.

O caminho para este cenário surrealista, em que uma manifestação contra o racismo na Suécia para lembrar a Noite dos Cristais poderia ser entendida pelos judeus como uma ameaça, vem tomando forma há muito tempo. A manifestação tinha certa importância. As pessoas por trás dela não eram extremistas. Quatro dos oito partidos do parlamento sueco participaram da organização do evento.

Essa manifestação antiracista e os estranhos incidentes que ocorreram em volta dela são frutos de um processo que, lamentavelmente, estão se avolumando há muito tempo na Suécia. Um novo tipo de antissemitismo sueco está ganhando força e a cidade de Malmö é o carro-chefe.

Em janeiro de 2009, uma demonstração pró-Israel em Malmö foi atacada por árabes que gritavam “f****-se judeus”. Os policiais não foram capazes de proteger os manifestantes pró-Israel dos ovos e garrafas arremessados contra eles. O evento teve que ser temporariamente interrompido quando os árabes começaram a lançar fogos de artifício contra os manifestantes pró-Israel.

Janeiro de 2009: uma turba de árabes em Malmö arremessa garrafas, ovos e bombas de fumaça contra uma demonstração pacífica de judeus. A polícia ordena aos judeus, que tinham permissão para a realização do comício, que se dirigissem para uma viela.

Em 2010, foi a primeira vez, mas não a última, que a sinagoga de Malmö foi atacada. Naquele mesmo ano o Centro Simon Wiesenthal alertava os judeus a não visitarem a cidade de Malmö, “devido a hostilidade contra os cidadãos judeus.

Hoje Malmö é uma cidade conhecida pelo seu antissemitismo e caracterizada por ele. Os judeus de Malmö não podem mostrar publicamente que são judeus sem que sejam molestados. Muitas famílias que lá residiam há séculos, abandonaram a cidade. Em outubro de 2015 dois membros do parlamento sueco participaram de uma manifestação pró-palestina em Malmö, onde as pessoas gritavam palavras de ordem antissemitas e enalteciam os ataques com facas perpetrados pelos palestinos contra judeus israelenses.

A razão pela qual um país como a Suécia ter, de repente, sido assolada por um antissemitismo extremo é em grande parte graças à imigração do Oriente Médio. O mundo árabe e muçulmano e, desde 1979 também a República Islâmica do Irã, que vem ameaçando repetidamente os judeus com genocídio, continua a demonizá-los na mídia estatal. O mundo árabe e muçulmano querem provavelmente, em parte, justificar seu conflito com Israel. E também em parte porque muitos membros do establishment e cidadãos desses países provavelmente acreditam nessas teorias da conspiração antissemitas, calunias repetidas todo santo dia na mídia e nas mesquitas.

Muitos dos recém-chegados continuam mantendo seu background do Oriente Médio mesmo depois de terem estabelecido residência na Suécia. Muitos, principalmente aqueles que se estabeleceram em regiões predominantemente de imigrantes como Rosengård em Malmö, assistem com frequência a mídia árabe, que transmite ininterruptamente mensagens antissemitas.

Ao mesmo tempo, membros dessa população são convidados a votarem nas eleições suecas, de modo que os partidos suecos dão atenção ao voto árabe. Essa mesura é meramente uma questão de logística. Há menos de 20.000 judeus na Suécia, mais de 20.000 sírios receberam o status de asilados somente em 2014.

Fora isso, não é nem necessário ser cidadão sueco para votar nas importantes eleições municipais da Suécia. É por conta dessa peculiaridade que tão poucos suecos se aventuram a falar sobre antissemitismo árabe, apesar das diversas denúncias e documentários que mostram que o crescimento do antissemitismo foi, em grande medida, importado do Oriente Médio.

É também por essa razão que a maioria das organizações antiracistas na Suécia prefere falar de “islamofobia”. Praticamente todas as organizações antiracistas da Suécia são financiadas pelos contribuintes ou de alguma forma ligadas a partidos políticos, indicando que há um “entendimento” de compadrio entre partidos políticos e organizações antirracistas. A maioria dos partidos políticos não veem exatamente com bons olhos organizações antirracistas que falam de antissemitismo árabe. Essas organizações terão problemas em angariar fundos ou perderão financiamento ou então verão membros do conselho administrativo renunciarem.

Apesar de mais muçulmanos estarem ingressando e mais judeus estarem saindo da Suécia, ou justamente por esta razão, a maioria dos ativistas antiracismo na Suécia considera a “islamofobia” o problema mais sério. A influente organização antiracismo Expo confeccionou uma série de mapeamentos da “islamofobia”, mas apesar do preconceito, não fez um único mapeamento do antissemitismo.

Se for confeccionado um mapeamento do antissemitismo na Suécia, então também será necessário falar sobre a imigração do Oriente Médio. Não há muitas pessoas na Suécia dispostas a falar sobre isso: aqueles que falam sobre o antissemitismo árabe são chamados de racistas.

Em vez de falar sobre o novo antissemitismo sueco, o que se vê são artigos que entorpecem a mente com a mensagem de que as pessoas deviam falar menos sobre o Holocausto nas escolas suecas, para não ofenderem os adolescentes árabes. Ao desaprovar uma proposta do governo para combater o antissemitismo aprofundando a educação sobre o Holocausto, Helena Mechlaoui, uma professora de história, religião e filosofia do ensino médio assinalou:

“Se falamos sobre estudantes do Oriente Médio, pode ser que falamos porque muitos deles passaram por experiências traumáticas relacionadas com as políticas de Israel ou dos Estados Unidos. Não é raro ver os dois países como um só, o que não está totalmente errado. Eles podem ter perdido um ou mais irmãos, primos, pais ou colegas em um bombardeio israelense ou americano. Uma grande proporção deles está aqui na Suécia porque foi obrigada a deixar seus lares por causa da ocupação, guerra ou miséria em algum campo de refugiados. Seus pais podem estar feridos e não terem como enfrentar a vida, eles ainda podem ter familiares nas áreas de conflito. É bem provável que eles tenham encontrado hostilidade na Suécia. Nesse contexto talvez seja melhor não falar sobre o Holocausto”.

A imigração dos países árabes afetou profundamente a maneira pela qual a maioria dos suecos vê o antissemitismo. O antissemitismo não é mais algo que a sociedade sueca condena. Várias celebridades suecas fizeram declarações antissemitas sem que isso afetasse negativamente um tiquinho sequer da carreira deles. Dani M, artista sueco do rap dissemina teorias da conspiração antissemitas tanto nas redes sociais quanto em suas músicas. Depois que diversos veículos de mídia suecos, no final de 2014 e início de 2015, descreveram detalhadamente como Dani M dissemina teorias da conspiração antissemitas, ele apareceu em um reality show em setembro, em um dos maiores e mais consagrados canais de TV da Suécia, a TV4. Quando a TV4 foi criticada, o produtor executivo do programa Christer Andersson respondeu o seguinte:

“Os valores fundamentais da TV4 são Zero Racismo e sempre foi assim, desde que eu me entendo por gente, mas não podemos tolher as pessoas que não pensam assim. A TV4 é um portal onde se apresentam pessoas com as mais variadas opiniões e nós temos que ter uma ampla gama de aceitação”.

Aqui temos um dos veículos de mídia mais importantes da Suécia descrevendo o antissemitismo simplesmente como uma “diferença de opinião”. Nessa mesma época, uma funcionária da TV4 fez uso da “palavra N” em um clip do YouTube e foi demitida dois meses depois. Quer dizer, antissemitismo é aceitável, mas racismo contra afro-suecos não.

Em um outro exemplo, a celebridade da TV sueca Gina Dirawi de origem palestina, publicou em seu blog em 2010 que as ações de Israel podem ser comparadas às ações de Hitler. Depois em 2012 ela aconselhou as pessoas, novamente em seu blog, a lerem um livro que questionava a existência do Holocausto. A mensagem do livro era a de que quando os nazistas perseguiam os judeus eles agiam em legítima defesa. Estas foram apenas duas das muitas declarações antissemitas feitas por ela em seu blog. Hoje Gina Dirawi apresenta vários programas na SVT, a emissora pública de rádio e televisão da Suécia, inclusive ela apresentou o programa de Natal da SVT em 2015. Isso causou certa surpresa considerando-se que Dirawi é muçulmana. Ela também irá apresentar o concurso de música sueco Melodifestivalen de 2016, um dos mais consagrados eventos musicais da Suécia.

Infelizmente não deixa nenhuma margem de dúvida o fato de que na Suécia o antissemitismo não é algo que vá prejudicar a carreira de alguém. A mídia sueca, assim como o governo sueco, também não estão tão interessados em relação aos problemas da Suécia com o antissemitismo. Quando o instituto interdisciplinar de estudos Perspektiv På Israel apresentou evidências em maio de 2015 que o diretor do Islamic Relief na Suécia estava disseminando posts antissemitas no Facebook, ninguém se interessou em escrever sobre esse assunto, não obstante o fato do Islamic Relief receber apoio da Sida, a agência governamental sueca responsável pela ajuda oficial da Suécia aos países em desenvolvimento.

A mídia sueca nem ao menos permitiu que um editorial do Perspektiv På Israel sobre o assunto fosse publicado. Nyheter24, um dos veículos de mídia sueca que não publicou a matéria doPerspektiv På Israel sobre esse escândalo, enviou um email para o Perspektiv På Israel dizendo que seus “leitores não estão interessados nesse assunto em particular, isso para dizer o mínimo”.

Como colunista do jornal Samtiden, eu mencionei as declarações racistas do Islamic Relief em um artigo opinativo e as informações também foram publicadas no The Jewish Press. A mídia sueca não demonstrou nenhum interesse, muito embora houvesse evidências que uma organização que recebia fundos pagos com impostos suecos estivesse publicando matérias antissemitas nas redes sociais.

É importante salientar que todos esses incidentes ocorreram em um país onde o uso do termo “imigração em massa” normalmente é censurado simplesmente por soar racista. Somente o antissemitismo não é criticado na Suécia. Todas as outras formas de racismo, até mesmo aquelas que alguns dizem poderiam ser consideradas racistas, são criticadas e de maneira implacável.

Muito embora o novo antissemitismo na Suécia tenha suas origens no antissemitismo árabe ou muçulmano, acreditar que o antissemitismo de hoje na Suécia é puramente oriundo do Oriente Médio é ser simplista demais. O antissemitismo na Suécia virou um smorgasbord composto por uma série de fatores que se reforçam mutuamente. Alguns desses fatores são os seguintes:

  • imigração em larga escala de países onde o antissemitismo faz parte do cotidiano.
  • engajamento fortemente pró-palestino entre os políticos suecos que teve como consequência um debate totalmente surrealista em relação à questão israelense-palestina, na qual Israel é injustamente demonizado.
  • o desejo dos partidos políticos suecos de conquistarem os votos dos imigrantes.
  • o multiculturalismo sueco é tão sem reservas em relação às culturas estrangeiras que não é capaz de diferenciar cultura de racismo.
  • medo de parecer contrário à imigração.
  • importantes instituições suecas, como a Igreja da Suécia que legitima o antissemitismo ao endossar o documento Kairos da Palestina.

A conjunção desses fatores cria um ambiente no qual o antissemitismo tem condições de crescer sem encontrar nenhuma resistência ou crítica. O que vem a seguir aconteceu emKomvux, em um programa educacional para adultos na Suécia, na cidade de Helsingborg: um professor substituto estava sustentando fatos sobre o Holocausto durante uma aula depois que um estudante perguntou se o Holocausto realmente aconteceu. A administração da escola desaprovou a conduta do professor substituto com os seguintes argumentos: “o que é história para nós não é a história de outros. … Quando temos outros estudantes que estudaram em outros livros de história, não há razão para discutirmos fatos contra fatos”.

Isso aconteceu em fevereiro de 2015, em uma importante cidade sueca. Isso poderia ter acontecido em qualquer cidade sueca onde o novo antissemitismo sueco está avançando. Uma escola sueca já não sabe mais se o fato do Holocausto ter realmente ocorrido é um fato que vale a pena defender. O smorgasbord antissemita torna aceitável o antissemitismo na Suécia.

Quando foi noticiado em meados de novembro que a Ministra das Relações Exteriores da Suécia Margot Wallström, disse: “os judeus estão fazendo uma campanha contra mim”, isso não se tornou uma notícia importante na Suécia. Esta não foi a primeira vez que uma figura política de destaque na Suécia fez declarações antissemitas e não deu em nada e também não será a última.

Voltemos então ao dia 9 de novembro de 2015 em Umeå e à manifestação contra o racismo para lembrar a Noite dos Cristais para a qual os judeus não foram convidados, e para a apresentadora muçulmana do Natal deste ano que diversas vezes expressou pontos de vista antissemitas, e para as escolas que não têm certeza se devem ou não dizer que o Holocausto realmente aconteceu, e para um país onde passou a fazer parte da rotina do dia-a-dia não convidar judeus.

A mídia não faz reportagens sobre isso. Os políticos não dão a mínima. E todo mundo sabe que na Suécia os antissemitas se safam de tudo.

Fonte: Um Smorgasbord de Antissemitismo Sueco