Meu comentário: Reproduzo um artigo que recebi através da minha assinatura no Clube Vienna e que, devido a sua relevância, publico aqui abaixo, na íntegra, para reflexão.
Um grande amigo mostrou-me recentemente, uma reportagem que chamou a atenção para uma pesquisa que demonstrava o quão significante é o analfabetismo financeiro da população, evidenciado os males que tal condição causa hoje na civilização.
Alto grau de endividamento das pessoas, vulnerabilidade perante aos grandes agentes financeiros e dificuldades na aposentadoria são apenas algumas das consequências de tal situação. O artigo completo do estudo encontra-se nesse link.
Nessa pesquisa, as economistas Annamaria Lusardi e Olivia Mitchell propuseram três questões simples, que versavam sobre o entendimento básico de juros, inflação e diversificação de investimentos, e foram propostas para pessoas em vários países do mundo.
Em tradução simplificada, as questões são as seguintes:
1) Suponha que você tenha $100 em uma conta de poupança que rende 2% ao ano de juros. Após 5 anos, se manter o dinheiro depositado, você terá nessa conta:
(a) mais do que $102
(b) exatamente $102
(c) menos do que $102
(d) Não sei / me recuso a responder
2) Imagine que a taxa de juros anual de sua poupança seja de 1% ao ano e a taxa de inflação anual de 2% ao ano. Depois de um ano, você poderia comprar com o dinheiro dessa conta:
(a) mais do que hoje
(b) exatamente o mesmo que hoje
(c) menos do que hoje
(d) Não sei / me recuso a responder
3) Você acha que a seguinte frase é verdadeira ou falsa? “Comprar ações de uma única companhia normalmente oferece um rendimento mais seguro do que comprar cotas em um fundo mútuo de ações?
(a) verdadeira
(b) falsa
(c) Não sei / me recuso a responder
Fácil? Considere-se então pertencente a uma minoria mundial.
Essas questões foram aplicadas durante vários anos, desde 2004, entre aposentados, jovens (+23) e adultos. Os resultados, para quem entende o básico de finanças, surpreende. Nos Estados Unidos, considerados a meca do capitalismo mundial, somente 30% da pessoas acertaram as três questões. Os melhores resultados ocorreram na Alemanha (53%) e Suíça (50%). Mesmo assim, é surpreendente que apenas metade dos respondentes tenham errado um teste tão óbvio. Os resultados continuam para os demais países que participaram do teste: 31% dos franceses acertaram as três questões, 27% dos japoneses, 25% dos italianos, 21% dos suecos (!!!) e somente 4% dos russos.
O mesmo estudo faz referências a outros trabalhos. Em um deles (Lusardi, Michaud, and Mitchell, 2011) foi demonstrado que, quando pessoas menos educadas financeiramente obtém essa sabedoria, melhoram sua situação econômica em cerca de 82%. Não é pouco. E em países com alto grau de benefícios sociais, outro estudo (Jappelli and Padula, 2011) sugeriu que o incentivo para se educar financeiramente é menor, em função do maior grau de dependência e a consequente transferência de responsabilidades ao Estado. Pobres brasileiros.
O estudo possui muitas outras considerações, como o alto percentual de mulheres que responderam a última alternativa em comparação aos homens, as variações de respostas em função do grau de renda ou ao tipo de emprego. Se o leitor preferir se aprofundar, o link da pesquisa está no primeiro parágrafo.
Falar em dinheiro ainda é tabu. Associado com egoísmo, inveja e maldade, é o tipo de assunto que não deve estar na mesa de jantar. Isso a despeito dos pilares da sociedade atual, que gira em torno de transações financeiras o tempo todo. Disseminações de cartões de plástico, empréstimos generosos, compras com parcelas a perder de vista, numerosas e acessíveis ofertas para aplicação do dinheiro, deveriam sensibilizar o cidadão de que esse conhecimento é necessário. Mas a resistência para empreender tal esforço é enorme.
Uma parte dessa resistência se deve ao conceito positivo que as pessoas se auto atribuem. Nos EUA, entre uma escala de conhecimento financeiro que vai de 1 (muito baixa) e 7 (muito alta), a média de pontuação é 4, mais do que a metade. Mas somente 30% responderam as questões (básicas) corretamente. É a oposição das palavras de Sócrates – “Só sei que nada sei”.
E no Brasil, assim como em outros países latino-americanos, aposto que a pesquisa traria resultados ainda piores. Aqui, o mesmo tabu parece que assume proporções maiores do que nos países anglo-saxões. O pensamento dominante é que a felicidade anda em estradas que nunca são estabelecidas a partir de uma confortável situação financeira. É óbvio que o dinheiro não traz, por si só, felicidade, e que ele não está presente nas melhores coisas da vida. Afinal, ele não é um fim, mas sim um meio. Mas também é óbvio que as pessoas em melhor condição financeira possuem um potencial maior para realizar seus desejos. Sejam eles materiais, familiares, turísticos ou de liberdade.
Qual a auto-avaliação do leitor para seus conhecimentos financeiros? Domina o assunto ou é dominado por ele? Prefere viver uma vida ao lado daqueles que recebem ou pagam juros? O que falta para aprendermos um pouco mais?
André Azevedo
Gestor Financeiro, Colaborador do Vienna Newsletter e autor do blog Viagem Lenta.