Vida Cristã – Como nos sairíamos nos requisitos de John Wesley?

O grande avivalista John Wesley, em 1756, apresentou “An Address to the Clergy” [Discurso ao clero] (pode ser lido aqui), texto esse que os futuros pastores de nosso tempo deveriam ler como parte de seu treinamento. Ao distinguir os tipos de habilidade que um pastor deveria ter, Wesley distinguiu-as entre “dons naturais” e “habilidades adquiridas”. Apesar de originalmente a lista de Wesley destinar-se aos que iriam seguir o pastorado, acredito que não deveríamos restringir essas considerações apenas às lideranças na Igreja de Cristo, mas a todos pertencentes ao Corpo de Cristo, pois em minha concepção somos todos sacerdotes, seja em nossas casas junto à família, seja no trabalho ou em outras atividades onde nossa luz deve brilhar.

Obviamente, deve-se levar em consideração as capacidades de acesso à informação e aos objetos de estudo que cada indivíduo consegue ter, assim como os seus dons naturais. Atualmente o nosso acesso às obras e objetos de estudo são muito mais vastos e acessíveis do que eram na época do século XVIII, mas ao ler a lista você, assim como eu, ficará tentado em criar alguma desculpa para diminuir a necessidade apontada por Wesley e dessa forma fugir de meditar sobre a real necessidade de crescimento e aprimoramento, mas tenha coragem de assumir que você pode e deve melhorar no mesmo aspecto em que a leitura do requisito lhe deixar desconfortável, pois a zona de conforto dificilmente pode gerar algum crescimento relevante. Segue então a lista de habilidades a adquirir, adaptada e resumida, conforme o texto de John Wesley, retirado da obra “Works”, volume 6 (páginas 217 – 231):

 

(1) Como alguém que se esforça para explicar a Escritura a outras pessoas, eu tenho o conhecimento necessário para que ela possa ser luz nos caminhos dessas pessoas? […] Estou familiarizado com as várias partes da Escritura; com todas as partes do Antigo Testamento e do Novo Testamento? Ao ouvir qualquer texto, conheço o seu contexto e os seus paralelos? […] Conheço a construção gramatical dos quatro evangelhos, de Atos, das epístolas; tenho domínio sobre o sentido espiritual (bem como o literal) do que eu leio? Conheço as objeções que judeus, deístas, papistas, socinianos e todos os outros sectários fazem às passagens da Escritura, ou a partir delas estou preparado para oferecer respostas satisfatórias a cada uma dessas objeções?

(2) Conheço grego e hebraico? De outra forma, como poderei (como faz todo ministro) não somente explicar os livros que estão escritos nessas línguas, mas também defende-los contra todos os oponentes? Estou à mercê de cada pessoa que conhece, ou pelo menos pretende conhecer, o original? Entendo a linguagem do Novo Testamento? Tenho domínio sobre ela? Se não, quantos anos gastei na escola? Quantos na universidade? E o que fiz durante esses anos todos? Não deveria ficar coberto de vergonha?

(3) Conheço meu próprio ofício? Tenho considerado profundamente diante de Deus o meu próprio caráter? O que significa ser um embaixador de Cristo, um enviado do Rei dos céus?

(4) Conheço o suficiente da história profana de modo a confirmar e ilustrar a sagrada? Estou familiarizado com os costumes antigos dos judeus e de outras nações mencionadas na Escritura? Sou suficientemente (se não mais) versado em geografia, de modo a conhecer a situação e dar alguma explicação de todos os lugares consideráveis mencionados nela?

(5) Conheço suficientemente as ciências? Fui capaz de penetrar em sua lógica? Se não, provavelmente não irei muito longe, a não ser tropeçar em seu umbral ou, ao contrário, minha estúpida indolência e preguiça me fizeram crer naquilo que tolos e cavalheiros simplórios afirmam: “que a lógica não serve para nada”? Ela é boa pelo menos para fazer as pessoas falarem menos – ao lhes mostrar qual é, e qual não é, o ponto de uma discussão; e quão extremamente difícil é provar qualquer coisa. Conheço metafísica; se não conheço a profundidade dos eruditos – as sutilezas de Duns Scotus ou de Tomás de Aquino – pelo menos sei os primeiros rudimentos, os princípios gerais dessa útil ciência? Fui capaz de conhecer o suficiente dela, de modo que isso clareie minha própria apreensão e classifique minhas idéias em categorias apropriadas; de modo que isso me capacite a ler, com fluência e prazer, além de proveito, as obras do Dr. Henry Moore, a “Search After Truth” [A busca da verdade] de Malebranche, e a “Demonstration of the Being and Attributes of God” [Demonstração do ser e dos atributos de Deus] do Dr. Clark? Compreendo a filosofia natural? Compreendo Gravesande, Keill, o “Principia” de Isaac Newton, com sua “teoria da luz e das cores”? Além disso, tenho alguma bagagem de conhecimento matemático? Se eu não avancei assim, se ainda sou um noviço, que é que eu tenho feito desde os tempos em que saí da escola?

(6) Estou familiarizado com os Pais [da Igreja]; pelo menos com aqueles veneráveis homens que viveram nos primeiros tempos da igreja? Li e reli as preciosas obras póstumas de Clemente Romano, de Inácio e Policarpo, e dei uma lida, pelo menos, nas obras de Justino Mártir, Tertuliano, Orígenes, Clemente de Alexandria e de Cipriano?

(7) Tenho conhecimento adequado do mundo? Tenho estudado as pessoas (bem como os livros), e observado os seus temperamentos, máximas e costumes? Esforço-me para não ser rude ou mal-educado: sou afável e cortês para com todas as pessoas? Se sou deficiente mesmo nas capacidades mais básicas, não deveria me arrepender frequentemente dessa falta? Quão frequentemente […] tenho sido menos útil do que eu poderia ter sido!

 

Agora medite … quantos membros e líderes do Corpo de Cristo que você conhece que se enquadram nesse modelo, ou que pelo menos se aproximam dele? Obviamente essa lista não engloba a vida cristã e, muito menos, é algum requisito para a Salvação, mas que pode sim nos ajudar a sair da zona de conforto e buscar o crescimento em graça e sabedoria, diante de Deus e dos homens. Devemos dar sempre o melhor para Deus … é o que temos feito? Ou o que temos dado são muitas desculpas?

Em que a lista lhe deixou mais desconfortável? Comece por aí!

Deus o abençoe e resplandeça Sua Face sobre você!!!

 

3 thoughts to “Vida Cristã – Como nos sairíamos nos requisitos de John Wesley?”

  1. É bom o conhecimento, mas o orgulho do conhecimento não acrescenta.
    O conhecimento (ciência) incha,mas o amor edifica.
    É bom um equilibro saudável nesse quesito.
    Paz!

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