A oferta para cooperar com o Irã contra o ISIS é infrutífera. O Irã e Assad querem jogar gasolina no fogo enquanto vestem roupas de bombeiro.
por Ryan Mauro,
O Secretário de Estado dos EUA, John Kerry (direita), e o Ministro das Relações Exteriores iraniano, Javad Zarif (esquerda) apertam as mãos com a enviada da UE, Catherine Ashton, e o Ministro das Relações Exteriores de Omã, Yussef bin Alawi, assistindo. Zarif iniciou conversações com Kerry e Ashton em Omã em 9 de novembro de 2014 para acabar com um impasse sobre o programa nuclear de Teerã. |
Como o prazo de 24 de Novembro para um acordo com o Irã se aproxima, o presidente Obama escreveu uma carta secreta ao líder supremo Khamenei supostamente sugerindo um vínculo comum contra o grupo terrorista Estado Islâmico (ISIS ou ISIL).
A carta, não publicada, teria oferecido uma cooperação com o Irã contra o ISIS se um acordo nuclear fosse atingido. O Secretário de Estado Kerry disse que isso é incorreto e que as negociações nucleares estão sendo tratadas como uma questão totalmente independente.
A evidência suporta o que Kerry diz, já que o Irã rejeitou publicamente uma cooperação com os EUA contra o ISIS em setembro. Já houve algum nível de coordenação indireta, como os ataques aéreos dos EUA que ajudou as forças iraquianas e duas milícias iranianas patrocinadas, Asaib Al-Haq e as Brigadas do Hezbollah, a romperem o cerco do ISIS de Amerli.
O presidente Obama disse, da mesma forma, que os EUA não estão se coordenando com o Irã e que a questão nuclear não está sendo emparelhada com a questão do ISIS. Ele não quis confirmar ou negar a carta, mas disse que ele falou ao Irã, “Não mexa com a gente, nós não estamos aqui para mexer com você. Estamos focados em nosso inimigo comum”.
A Casa Branca descartou a cooperação militar e o compartilhamento de inteligência com o Irã, levantando a questão de que tipo de relação que os EUA estão buscando com o Irã.
A carta ressalta uma das maiores falhas na estratégia dos EUA contra o ISIS: A incapacidade de enfrentar as milícias apoiadas pelos iranianos no Iraque, cuja atividade alimenta o ISIS e outros extremistas sunitas e prejudica ao governo iraquiano.
O Irã precisa do ISIS e da Al-Qaeda, assim como essas organizações “necessitam” do Irã. O Ayatollah Khamenei e seus aliados, o regime sírio, possuem uma estratégia para configurar a Al-Qaeda e o ISIS como os seus adversários para que eles possam se propor como uma alternativa “moderada”.
É por isso que o Irã ajuda a Al-Qaeda, até mesmo permitindo-lhes de utilizarem o território iraniano para enviarem combatentes para a Síria. E é por isso que, como o alto funcionário do Departamento do Tesouro americano, David Cohen, mencionou, o regime de Assad compra petróleo do ISIS.
No entanto, o ex-embaixador dos EUA no Iraque e na Turquia, James Jeffrey, acertou na mosca quando ele disse que o líder supremo Khamenei é, “basicamente, um crente em uma filosofia islâmica muito semelhante ao do ISIS … É uma força dobrada revolucionária pan-islâmica”.
Se um novo relatório da Anistia Internacional sobre as milícias xiitas radicais não identificasse os autores, você pensaria que ele estaria descrevendo o ISIS. As atrocidades incluem limpeza étnica, massacres em mesquitas, a tortura e a retórica da supremacia islâmica. Outro especialista escreve que os milicianos xiitas estão importando jihadistas estrangeiros e até mesmo realizando decapitações.
Estas milícias xiitas são ainda conhecidas por executarem prisioneiros depois de ser pago um resgate. Um pai sunita de 9 filhos foi seqüestrado em Bagdá, em julho. A família pagou o resgate de 60 mil dólares, o que não é uma tarefa fácil em um país com uma renda média anual de pouco mais de 6.000 dólares. Duas semanas depois, ele foi encontrado morto, assassinado por um golpe no seu crânio.
A única diferença entre o ISIS e essas milícias ligadas ao Irã é que o primeiro é sunita e o último é xiita.
O sunitas originalmente acolhem ou toleram o ISIS e, previamente, a Al-Qaeda e outros militantes sunitas, porque eles vieram em nome da jihad contra os xiitas radicais. O ataque de tribos sunitas pelo ISIS, como o recente massacre de 322 homens das tribos sunitas, resultou de uma cooperação com o governo sunita do Iraque, mas isso não vai durar. Outro grupo jihadista sunita surgirá enquanto os milicianos xiitas manterem o assassinato de sunitas inocentes, assim como o assassinato de cristãos.
Phillip Smyth, um especialista que acompanha de perto esses representantes iranianos, diz que há mais de 50 dessas milícias xiitas no Iraque. Os quatro grupos responsáveis principais são todos ligados ao regime de Khamenei: Asa’ib Ahl Al-Haq, as Brigadas Badr, o Exército Mahdi de Moqtada al-Sadr e Kata’ib Hezbollah.
Smyth assinala que esses quatro grupos, todos eles têm o sangue de soldados norte-americanos em suas mãos, mataram pelo menos 100 soldados dos EUA a até 1.000 das cerca de 4.500 mortes no total. Este número não inclui os ataques não rastreáveis realizados pelas milícias ou por todas as mortes devido a operações iranianas.
E agora os EUA estão indiretamente dando-lhes apoio aéreo, ainda que dois deles são designados pelos EUA como grupos terroristas e milícias que prometeram matar assessores norte-americanos que estivessem no solo auxiliando as forças iraquianas contra o ISIS.
Estas milícias são apoiadas pelo Corpo da Guarda Revolucionária do Irã e pelo Hezbollah, dois grupos sancionados pelo governo dos Estados Unidos devido às suas atividades terroristas. Dezenas de assessores de cada um está treinando 7.000 milicianos xiitas e soldados iraquianos. Um comandante do Hezbollah foi morto em julho.
O líder da organização Brigadas Badr, Hadi Al-Amiri, quase se tornou o ministro do Interior, neste chamado governo iraquiano “inclusivo”. O regime iraniano fez um forte lobby para a sua nomeação. Em última instância, os iraquianos escolheram um agente da Brigadas Badr que fosse menos temido, mas a verdade é que esta milícia controla este importante ministério.
Al-Amiri ostenta, “Eu trabalhei por quatro anos todos os dias e as pessoas nunca reconheceram isso. Agora, apenas quatro meses como um combatente e todas as pessoas estão falando sobre Amiri”. Então ele explicou o porquê:
“É porque as pessoas amam aquele que o defende”.
Estas forças xiitas radicais prosperam por causa do mesmo motivo que o ISIS prospera: sunitas e xiitas inocentes querem viver. As milícias xiitas são acolhidas por causa das preocupações com o ISIS, assim como o ISIS e similares são acolhidos por causa das preocupações com as milícias.
A abordagem da Irna para a questão nuclear não é muito diferente. O Irã está enganosamente buscando obter a capacidade de construir armas nucleares, sacrificando no curto prazo, a fim de terem sucesso no longo prazo. O objetivo é ter as sanções minimizadas ou retiradas, estabilizar o regime com os investimentos ocidentais e proteger o Irã de sanções futuras enquanto sua busca nuclear continua.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirma que o Irã ainda se recusa a conceder acesso total e a explicar a evidência com o trabalho em armas nucleares. Seu estoque de urânio pouco enriquecido aumentou 8% e o Irã não irá reduzir as suas 19 mil centrífugas até 4.000 ou 5.000 delas. Cerca de 10.000 delas estão operando neste momento.
O Irã diz que não vai desmontar uma única planta nuclear, incluindo a sua instalação em Qom, claramente projetada para a produção de armas. Ele continua a desenvolver centrífugas e mísseis balísticos e, com toda a probabilidade, terceirizam o trabalho das armas nucleares na Coréia do Norte. E, como a AIEA admite, o Irã pode ter trabalho nuclear secreto em curso.
Como retorno para esta cooperação insatisfatória, o Irã está exigindo que todas as sanções sejam retiradas e que um potencial acordo a ser finalizado só dure de 5 a 7 anos antes de expirar, ao passo que o Ocidente quer um período de 10 a 15 anos.
Balançando a perspectiva de cooperação contra o ISIS na frente do Irã não vai mudar nada. Khamenei está realmente conseguindo o que queria. O Irã e Assad querem jogar gasolina no fogo enquanto vestem roupas de bombeiro.
O envolvimento iraniano contra o ISIS deve ser reduzido, não aumentado.
* Artigo traduzido por mim, link original aqui: US Embracement of Iran Will Only Help the Islamic State