A China Coloca Armas Nucleares Sob o Mar, Onde Os Olhos Curiosos Não Podem Ver

por David Tweed,

 

Foto de 28 de agosto de 2014, pescadores olham para um submarino nuclear chinês passando por Yalong Bay em Sanya, província de Hainan, no sul da China. [Andy Wong / AP Photo]

 

A China se prepara para armar seus furtivos submarinos com mísseis nucleares que poderiam atingir os EUA, disfarçando seu arsenal com a invisibilidade necessária para retaliar em caso de um ataque inimigo.

Cinquenta anos depois da China realizar seu primeiro teste nuclear, patrulhas feitas pelos submarinos nucleares classe JIN, que são quase impossíveis de se detectar e estão armados com mísseis balísticos JL-2, darão ao presidente Xi Jinping, maior agilidade para responder a um ataque.

Os submarinos de propulsão nuclear provavelmente vão conduzir patrulhas iniciais com os mísseis até o final deste ano, “dando à China credibilidade ao seu primeiro meio de intimidação nuclear baseada no mar”, de acordo com um relatório anual apresentado ao Congresso, em Novembro, pela Comissão de Análise de Segurança e Economia China-EUA.

Liberar as embarcações no mar irá lustrar o prestígio da China conforme Xi busca acabar com o que chama de mentalidade da “guerra fria”, o que resultou na dominação dos Estados Unidos na segurança da Ásia-Pacífico. Desde que chegou ao poder, Xi tem aumentado os gastos militares, com foco na capacidade de longo alcance, incluindo planos para adicionar o registro de um singular porta-aviões para o país.

“Pela primeira vez na história, o arsenal nuclear da China será invulnerável a um primeiro ataque”, disse o estrategista independente Nicolas Giacometti, que tem escrito análises para o Centro de Estratégias e Estudos Internacionais e para a revista “The Diplomat”. “É o último salto para assegurar a capacidade nuclear de retaliação da China”.

A estratégia de defesa nuclear da China é projetada para fornecer a capacidade de retaliação em caso de um ataque de nações com capacidade nuclear tão distantes como estão os EUA e também a Rússia e a Índia, de acordo com Felix Chang, membro sênior do Instituto de Pesquisa de Política Externa, na Filadélfia.

‘Barreira’ Nuclear

Enquanto a China não vê a Coréia do Norte como um risco nuclear direto, as autoridades do governo estão preocupadas com o que poderia acontecer se a Coréia do Norte ameaçasse a Coréia do Sul ou o Japão e a região poderia tornar-se instável, disse Chang.

Os submarinos nucleares da China serão “úteis como uma barreira para quaisquer ameaças nucleares potenciais, incluindo os da Coréia do Norte, mesmo se elas forem relativamente pequenos”, disse ele.

A implantação dos submarinos poderia pressionar a China para assegurar às forças armadas estrangeiras que os seus chefes de Marinha e os líderes políticos possuem capacidade para se comunicar e controlar estes submarinos. Os navios e aviões chineses e norte-americanos estão entrando em maior proximidade no Pacífico à medida em que a China afirma suas reivindicações de território no Mar do Sul da China e no Mar da China Oriental, arriscando que ocorram acidentes ou um confronto.

O ex-secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, disse em uma entrevista em janeiro que o ex-presidente Hu Jintao, “não tem o controle forte” do Exército Popular de Libertação. O “melhor exemplo”, disse Gates, foi a apresentação da China de seu caça stealth J-20, durante uma visita que fez em janeiro de 2010. Pareceu que o evento pegou Hu desavisado, disse Gates.

‘Controle Positivo’

Desde que chegou ao poder, Xi reforçou seu controle sobre as Forças Armadas, que assumiu como chefe da Comissão Militar Central, em novembro de 2012, quando ele se tornou chefe do Partido Comunista. Hu esperou cerca de dois anos, antes de se tornar presidente da comissão.

“A China vai ter de tranquilizar os seus adversários de que esses submarinos estão sob um ‘controle positivo’ em todos os momentos”, disse Malcolm Davis, professor assistente de relações China-Ocidentais na Bond University em Gold Coast na Austrália.

O “controle positivo” se refere aos procedimentos para garantir o controle absoluto do CMC de seus ativos nucleares, tais como os códigos de autorização que iria enviar para os submarinos, onde, após verificação por parte do comandante e, provavelmente, outros dois oficiais, seriam lançados os mísseis.

‘Inimigos em Potencial’

“Isso exige que a China tenha criado os comandos adequados e a infra-estrutura de controle para garantir que o CMC possa manter contato com os submarinos, mesmo quando estão no mar e sob a água”, disse Davis. “Os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e a Rússia possuem tais capacidades de comunicações para assegurar um ‘controle positivo’ dos seus submarinos no mar”.

Ao garantir aos inimigos potenciais de que as armas só serão disparadas se for ordenado pelo comando central, os militares da China aumentariam o valor de intimidação dos seus submarinos nucleares, disse ele.

“Essas garantias provavelmente serão dadas ao mais alto nível de reuniões de militares-para-militares por trás de portas fechadas”, disse Davis. De outro modo, é esperado que a China mantenha a sua capacidade nuclear secreta.

Falta de Transparência

“Avaliações de alta confiança do número de mísseis balísticos chineses com capacidade nuclear e das ogivas nucleares não são possíveis devido à falta de transparência da China sobre o seu programa nuclear”, diz o relatório do Congresso norte-americano. O Pentágono não fornece uma estimativa do tamanho do arsenal de ogivas nucleares da China desde 2006, de acordo com o relatório.

O Ministério da Defesa da China não respondeu as perguntas enviadas por fax sobre quando as patrulhas regulares dos submarinos da classe JIN com armas nucleares iriam começar, ou sobre a estratégia nuclear da China.

A modernização das forças nucleares da China estão focadas em melhorar a capacidade de intimidar outras potências nucleares, disse Giacometti, em entrevista por telefone a partir de Bruxelas.

Até 2006, o seu único míssil balístico, capaz de levar uma ogiva nuclear até os EUA era o de combustível líquido, silo DF-5A, disse ele. Estes eram considerados vulneráveis por causa do abastecimento que leva algumas horas, durante a qual o míssil deve permanecer em seu silo. Para protegê-los, a China construiu silos falsos e adotou uma política de sigilo que tornava mais difícil de executar o ato de desarmar um primeiro ataque.

Em 2006, a China introduziu os mísseis balísticos móveis terrestres, DF-31A, cujos 6.959 milhas (11.200 quilômetros) de alcance máximo, poderiam atingir os EUA. Os mísseis são de combustível sólido, por isso podem ser disparados quase que imediatamente se as ogivas são pré-montadas, disse Giacometti.

Satélites dos EUA

A capacidade de inteligência, vigilância e reconhecimento dos Estados Unidos – a partir de satélites para os drones de alta altitude, como a Northrop Grumman RQ-4 Global Hawk – pode monitorar vastas áreas do território e detectar lançadores de mísseis balísticos intercontinentais móveis, disse ele. Qualquer informação recolhida pode ser transmitida para os controles anti-ataques aos EUA, que vão desde mísseis de longo alcance de alta velocidade até Bombardeiros Spirit Stealth B-2, para eliminar os lançadores antes de dispararem.

Em comparação com os lançadores terrestres, os submarinos de mísseis balísticos de capacidade nuclear, raramente precisam subir à superfície e são muito melhores em se esconder.

Agora, a China tem três deles – da classe JIN – e é provável que acrescente mais dois até 2020, de acordo com o relatório da Comissão. Cada um poderia levar 12 mísseis JL-2, que depois de uma década de desenvolvimento “parecem ter atingido a capacidade operacional inicial”, disse.

Águas Costeiras

O alcance dos mísseis JL-2 é de cerca de 4.598 milhas (7.400 quilômetros), o que significa que a China poderia conduzir ataques nucleares contra o Alaska se disparar os mísseis de águas próximas da China; contra o Alasca e contra o Havaí, se disparar a partir de águas ao sul do Japão; contra o Alasca, o Havaí e o continente ocidental dos Estados Unidos se disparar de águas a oeste do Havaí; e contra todos os 50 estados norte-americanos, se disparar a partir de águas à leste do Havaí, diz o relatório.

“O grande furo jornalístico seria determinar onde essas patrulhas submarinas irão ocorrer”, disse Chang.

Espera-se que os submarinos limitem-se inicialmente às águas costeiras da China e do Mar do Sul da China, onde eles poderiam vagar com pouca chance de detecção. Para os mísseis atingirem o Havaí ou a região continental dos EUA, os submarinos precisariam fazer uma incursão no Pacífico ocidental e mais além, o que Davis, da Bond University, disse que seria “mais desafiante, porque eles teriam que transpor as capacidades anti-submarino dos EUA”.

Os avanços da China são motivo de preocupação em algumas áreas do sistema de defesa dos EUA.

Primeira Utilização

“Temos de continuar a modernizar nossas capacidades nucleares”, disse o almirante Harry Harris em 02 de dezembro em sua audiência de nomeação para se tornar comandante do Comando do Pacífico dos EUA, quando questionado sobre como os EUA devem responder aos desenvolvimentos da China. Harris disse que ele considerava a Coréia do Norte, que está desenvolvendo o seu próprio arsenal nuclear, a maior ameaça à segurança na Ásia.

Os analistas não esperam que a China modifique a sua política nuclear de longa data, chamada de “não fazer o primeiro uso”, que afirma que as suas armas só serão utilizadas se a China estiver sob ataque nuclear.

Após ter reforçado a sua capacidade nuclear para intimidação, a China pode começar a se comunicar mais sobre a evolução prevista das suas forças nucleares, disse Giacometti.

“Mais abertura do lado da China pode, em seguida, abrir mais espaço para medidas de confiança e preparar o terreno para futuras discussões sobre o controle de armas”, disse ele.

 

* Artigo traduzido por mim, link original aqui: China Takes Nuclear Weapons Underwater Where Prying Eyes Can’t See

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