Vociferando e Blefando no Báltico

Pat Buchanan acha loucura os EUA garantirem a defesa da Estônia contra a Rússia

Pat Buchanan

 

“Eu digo para as pessoas da Estônia e os povos dos países bálticos, hoje estamos ligados por nosso tratado de aliança… O artigo 5 é cristalino: Um ataque contra um é um ataque contra todos. Então, se… você perguntar novamente, ‘quem vai vir para ajudar?’, você vai saber a resposta — a aliança da OTAN, incluindo as forças armadas dos Estados Unidos da América”.

Pat Buchanan: colunista do WND e ex-assessor do presidente Ronald Reagan

 

Isso foi o que disse Barack Obama em Tallinn, Estônia, na semana passada, reeditando uma garantia de guerra dos EUA para a mais ínfima das repúblicas bálticas — que os presidentes americanos da época da Guerra Fria teriam considerado um atestado de insanidade.

De 1945 a 1989, nenhum presidente americano teria sonhado com a emissão de um cheque em branco para uma guerra na Europa Oriental. A linha vermelha dos EUA estava no coração da Alemanha. Dizia para Moscou: Atravesse o Elba e lutamos.

Essa linha vermelha foi feita crível por centenas de milhares de soldados americanos acampados permanentemente na Alemanha Ocidental.

No entanto, Harry S. Truman não usou a força para destruir o Bloqueio de Berlim. Dwight D. Eisenhower não usou a força para salvar os rebeldes húngaros. John Fitzgerald Kennedy censurou e ficou assistindo quando o Muro estava sendo erguido. Quando Leonid Brezhnev enviou exércitos do Pacto de Varsóvia à Checoslováquia, Lyndon Baines Johnson não fez nada.

Por que os presidentes americanos não agiram? Nenhum deles acreditava que havia algum interesse vital dos Estados Unidos na Europa Oriental que valia uma guerra com a Rússia.

E, verdade seja dita, não havia interesse vital lá então e não há nenhum interesse vital lá agora. Se os EUA não correram o risco de uma guerra nuclear com a Rússia por causa da Hungria e da Checoslováquia, há meio século, por que arriscariam agora por causa da Estônia?

Os presidentes americanos durante a Guerra Fria rotineiramente proclamavam resoluções para nações cativas, declarando a crença americana no direito dos povos que estavam atrás da Cortina de Ferro de serem livres. Mas nenhum presidente americano considerou que a libertação deles era digna de uma guerra.

O que mudou?

Quando é que a independência das repúblicas bálticas, por mais que seja miraculosa e bem-vinda, tornou-se tão importantes para os EUA que, se a Rússia se intrometer na Estônia, os americanos vão tratá-la como se fosse um ataque contra a pátria deles?

Em 1994, George Kennan chamou a expansão da OTAN no antigo bloco soviético de “um erro estratégico de proporções potencialmente épicas”.

No entanto, não só os EUA trouxeram para a OTAN todas as nações do Pacto de Varsóvia, mas George W. Bush também trouxe as repúblicas bálticas.

Para ver a loucura do que os EUA estão fazendo, considere a Ucrânia, que tem sido envolvida em uma colisão militar e política com a Rússia desde que os EUA foram coniventes com a derrubada de seu regime pró-russo.

Enquanto os “neoconservadores“, ou neocons, estavam comemorando a derrubada do corrupto e incompetente, mas democraticamente eleito, Viktor Yanukovych, Vladimir Putin estava agindo para garantir e anexar a Crimeia, e os separatistas pró-russos tentaram romper com Kiev e conseguir a independência ou reunificação com a Rússia.

A questão que surge é: Por que os separatistas pró-russos de Donetsk e Luhansk não têm o mesmo direito de se separar da Ucrânia, como a Ucrânia teve ao separar-se da União Soviética?
E por que essa disputa é da conta dos EUA? Era da conta do Czar Alexandre II, da Rússia, quando os 11 estados do Sul se separaram da União e, em seguida, a Virginia Ocidental se separou da Virginia nos EUA?

Sob o novo governo de Petro Poroshenko, a Ucrânia enviou suas forças militares para o sudeste para esmagar os separatistas. Eles fracassaram. O aumento de mortes e uma unidade separatista na cidade de Mariupol, aparentemente, convenceram Kiev a buscar um cessar-fogo e paz.

Desnecessário dizer que, aqueles que comemoraram a derrubada do regime pró-russo em Kiev estão agora muito irritados com a aparente derrota de Kiev.

No entanto, em 5 de setembro, o New York Times escreveu: “Os americanos não têm nenhuma ilusão de que a Ucrânia poderia prevalecer em uma guerra com a Rússia”.

Isso é realismo. Mas se a causa da Ucrânia é militarmente sem esperança, o que seria das chances da Estônia em um confronto com Moscou? A Estônia tem 3 por cento da população da Ucrânia e tem menos de um décimo de seu tamanho. Se Moscou decidir tomar a Estônia, pode fazê-lo em 48 horas.

E se Putin se envolver num ato tão precipitado, o que então a OTAN iria fazer?

Será que os 28 países da OTAN declarariam guerra e enviariam tropas? Será que os Estados Unidos declarariam guerra à Rússia e conduziriam ataques aéreos contra as forças russas dentro e fora da Estônia?

Será que os EUA enviarão porta-aviões no Mar Báltico? Será que os EUA vão começar uma guerra com a Rússia, que poderia levar ao uso precoce de armas atômicas táticas, devastando a Estônia e causando mortes em massa?

Como a OTAN poderia salvar a Estônia sem destruir a Estônia?

Para eliminar dúvidas sobre a garantia americana de guerra à Estônia, alguns em Washington estão pedindo bases permanentes dos EUA e o estacionamento de tropas americanas nos estados bálticos, de modo que qualquer incursão russa levaria a mortes de soldados americanos e definitivamente a um confronto com a Rússia.

Presumivelmente, essa ameaça dissuadiria a Rússia eternamente.

Mas se essa ameaça não impedir Putin, ou se um futuro governante russo considerar essa ameaça como um blefe e castigar a Estônia, o que os EUA vão fazer então? Colocar os B-2s em alerta e ir para DEFCON-2, como fizeram na crise dos mísseis em Cuba?

Pat Buchanan é colunista do WND e foi assessor do presidente Ronald Reagan.

 

Traduzido por mim do artigo do WND: Bluster and bluff in the Baltic

Fonte: www.juliosevero.com

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