Israel, Gaza e a Teologia da Substituição

Como a operação de Israel para destruir a vasta rede de túneis, foguetes e depósitos de armas dos terroristas do Hamas que estão escondidos por toda Gaza não pára, poucos são surpreendidos pelo típico arranjo de esquerdistas e grupos muçulmanos que aproveitam a ocasião para mostrar seus profundos preconceitos e visões anti-Israel.

Mas nesta rodada do conflito, há um número crescente de evangélicos que também estão levantando suas vozes em protesto. Embora algumas dessas vozes são extremas em sua condenação de Israel, muitas outras vozes tem, pelo menos, se contido e tomado uma posição mais neutra, essencialmente argumentando que, como cristãos, não devemos tomar partido.

Brian Zahnd, um pastor e autor cristão usou o Twitter para expressar sua opinião de que “os cristãos que estão torcendo para que um dos lados ‘ganhe’ no conflito entre israelenses e palestinos já perderam a mensagem de Jesus e precisam repensar sua atitude (arrepender-se)”. Outros expressaram que Deus ama a criança palestina, tanto quanto a criança judia, e assim por diante. É claro que isso é absolutamente verdade! Jesus ama todos os povos. Será que isso realmente significa, porém, que os cristãos que tomam uma posição firme contra o Hamas, com seus objetivos claramente definidos de cometer outro Holocausto, devem arrepender-se?

Em um mundo em sã consciência, simplesmente não seria de senso comum para os cristãos que orassem para que as forças israelenses derrotem o Hamas tão rápido quanto possível, com o mínimo de vítimas civis palestinas? Eu diria que a resposta é um inequívoco sim. Eu iria mais longe ao dizer que qualquer informação, objetiva e misericordiosa da análise da situação atual, na verdade, exige que os cristãos fiquem firmes e em uníssono contra o Hamas.

Para fazê-lo, nós nos encontramos em pé não apenas com Israel, mas com o povo palestino também. No entanto, muitos são os cristãos que discordam. Qual é então o denominador comum entre aqueles que parecem tão tendenciosos contra Israel? Na minha própria observação pessoal, eu descobri que há quase que universalmente um viés teológico subjacente. Entre aqueles que se recusam a apoiar a auto-defesa de Israel há uma adoção aberta da Teologia da Substituição, bem como a rejeição, ou uma visão muito pequena de trechos proféticos das Escrituras.

Após o seu Tweet sobre a necessidade de os cristãos se arrependerem de seu apoio a Israel, não foi nenhuma surpresa que Zahnd escreveu no Tweet um comentário depreciativo sobre o Livro de Apocalipse: “Então você está dizendo que não podemos usar as estranhas e violentas imagens do Apocalipse para anular completamente o Sermão da Montanha?” é claro que este é um argumento falso. Ninguém está tentando “anular” as palavras de Jesus. Muito pelo contrário. Não há necessidade de usar um trecho da Palavra de Deus contra o outro. Além do livro “estranho e violento” do Apocalipse, cerca de um terço da Bíblia é composta de profecias, incluindo o último sermão de Jesus, o Sermão do Monte.

Cito Zahnd simplesmente para realçar o desdém para com trechos da Palavra de Deus que este pastor utiliza a fim de apoiar o seu próprio viés político (* Ver o meu comentário sobre isso no final deste artigo). A relação simbiótica entre o sentimento anti-Israel e uma postura teológica anti-profecia é comum de se observar entre a crescente esquerda evangélica.

Em um artigo recente, o Dr. Michael Brown debateu com Stephen Sizer, um vigário anglicano e autor bem conhecido. Sizer defende abertamente tanto a Teologia da Substituição quanto o Preterísmo (a visão de que a profecia bíblica já foi cumprida no passado). Em agosto de 2013, sentado diante de uma igreja lotada, ao falar de cristãos ou crentes judeus messiânicos que apóiam Israel, Sizer disse, “eles repudiaram Jesus, eles repudiaram a Bíblia, e eles são uma abominação”. Poucos negarão que tais comentários são altamente inflamatórios, divisionistas e extremos. Infelizmente, Sizer está longe de estar sozinho na sua retórica extremista.

Carl Medearis, outro autor e voz popular entre o crescente segmento de anti-Israel do evangelicalismo, também usou o presente conflito para vir, essencialmente, de forma explosiva para condenar Israel. Em sua página no Facebook, Medearis expressou sua incapacidade de esconder seu ânimo anti-Israel por mais tempo:

Você não pode imaginar quantos “amigos” me avisaram para não falar sobre isso que eu poderia ficar em apuros. Uau. É o bastante. Esta nação principalmente atéia e secular chamada Israel não é o povo de Deus e eu não irei apoiá-los e nem sua máquina de guerra. Que tal isso como direta? Quem é corajoso o suficiente para dizer a verdade e não se preocupar em agradar a homens?

Só para repetir: Carl não irá “apoiá-los” (aos israelenses) e nem sua “máquina de guerra”. No Twitter, ele escreveu para atacar aos cristãos que não concordam com a sua posição, afirmando: “A triste heresia chamada de ‘sionismo cristão’ tem muito na culpa por armar o exército de Israel que estão matando civis”.

Novamente, por que esse tipo de linguagem abusiva e inflamatória? Para Medearis é impossível que cristãos sensatos, informados e pensantes jamais poderiam simplesmente apoiar a presente operação de Israel de destruir o Hamas, sem ser conduzido principalmente por sua teologia. Olhe novamente para as suas palavras; um caso clássico de transferência.

É Medearis quem está usando seu viés teológico para justificar sua demonização das Forças de Defesa de Israel e, finalmente, o povo de Israel. Na estimativa de Medearis, as “Forças de Defesa de Israel” são na verdade uma “máquina de guerra” que ele se recusa a apoiar. Por que isso é tão profundamente racista? Como muitos têm afirmado corretamente, se o Hamas abandonar as armas, haveria paz. Se Israel abandonasse as armas, seria o seu genocídio.

Se alguém tem alguma intenção em tais sentimentos ou não, dizer que não apoia Israel é simplesmente uma maneira indireta de dizer que você apoia a morte de milhões de judeus. É exatamente assim que os israelenses ouvem. Apenas morram, vocês judeus. Que tipo de insensibilidade inimaginável se apoderou de alguns cristãos?

Voltemos ao Twitter, Medearis passou a incentivar seus seguidores a ler Efésios 3:10-11, onde supostamente vai encontrar,”a evidência bíblica mais clara de que os crentes é que são o novo Israel, não o estado atual chamado de ‘Israel’”.  O que é tão preocupante sobre o comentário é o fato de que Medearis colocou a palavra “Israel” entre aspas. Este é um ponto crítico. Se a Igreja é “o verdadeiro Israel”, como Medearis manifestou, então o que devemos fazer com o presente Estado de Israel? Se eles são apenas um povo e uma nação que foram rejeitadas e dissolvidos por Deus, então quem são eles, não devemos rejeitá-los também?

É precisamente aqui que a lógica profundamente perigosa da Teologia da Substituição, repetidamente, tomou a Igreja ao longo da história. Uma vez que a Teologia da Substituição é adotada, quase que universalmente leva à uma dissolução não apenas do Estado judeu, mas das próprias pessoas. É justamente essa teologia que fêz milhares de mortes pelas mãos de cristãos professos ao longo da história. No entanto, enquanto a maioria dos judeus estão bem conscientes disso, muitos cristãos parecem terem se esquecidos. Ao ler o comentário de Medearis, lembrei-me imediatamente das palavras de Albertus Pieters, que em sua obra, a Semente de Abraão, (citados por outros Teólogos da Substituição), fez a seguinte declaração terrível:

 “Deus quis que, depois da instituição da Nova Aliança não deveria haver qualquer povo judeu em todo o mundo – mas aqui estão eles! Isso é um fato, um fato muito triste provocado por sua rebelião ímpia contra Deus; mas não é monstruoso sustentar que, em virtude dessa maldade do referido grupo indesejado e indesejável somos agora herdeiros das muitas e mui preciosas promessas de Deus? “

 Como isso é nojento, é apenas um pequeno passo além do comentário de Medearis. Colocar Israel entre aspas é dizer que eles não tem verdadeiramente direito a assumir o seu próprio nome. Os judeus tornaram-se um não-povo. Quando se examina a história da Igreja, massacre após massacre foram realizados pelos cristãos que tinham chegado precisamente na mesma conclusão de Medearis, então procuraram terminar o que Deus tinha começado. Teólogos da  Substituição modernos como Medearis podem não ter a ousadia de buscar a eliminação dos judeus por eles próprios, mas todos eles parecem muito ansiosos para terceirizar esse trabalho através do Hamas.

Se a Igreja sempre deseja cumprir o nosso mandato de pregar o Evangelho “em primeiro lugar” (em grego: prótons: em primeiro lugar, especialmente) para os judeus (Rm 1:.16), então é chegada a hora de nós termos a nossa correta Teologia de Israel. Os primeiros 1.900 anos da história da Igreja têm sido uma constante falha colossal. Já é muito mais tarde do que a maioria pensa, e está no tempo de crescer como igreja e Corpo de Cristo. Eu estou estendendo o convite para Carl Medearis publicamente ao iniciar um diálogo sobre estas questões.

Em conclusão, passado poucas semanas, eu tenho procurado por um único ministro ou ministério bem conhecido que defenda a Teologia da Substituição ou que tem uma visão pequena da profecia bíblica e que, apesar disso, tem sido aberta e sonoramente firme em apoio a Israel na presente operação contra o terror genocida da organização Hamas. Eu não estou dizendo que não exista, como estou certo que alguns fazem, mas eu ainda tenho de encontrar algum. É imperativo que os cristãos informados, pensantes e compassivos de hoje rejeitem a Teologia da Substituição que consistentemente produziu ódio e perseguição ao povo judeu durante os últimos 1.900 anos. Sem dúvida, a maioria dos habitantes do Estado de Israel de hoje estão longe de Deus, mas como a controvérsia de Sião e a raiva de Satanás se espalha por todas as nações, que todos os cristãos que valorizam toda a Palavra de Deus estejam contra a crescente onda mundial de ódio aos judeus, como também ardentemente testemunhem da necessidade da chegada de Yeshua, o Messias, a única e verdadeira esperança de Israel.

* Atualização: o Pastor Brian Zahnd, que cito no início do artigo, não surpreendentemente, tem se incomodado com o meu comentário sobre o fato de que ele mostra desdém por trechos da Palavra de Deus. Zahnd sente-se como se eu tivesse desvirtuado as suas opiniões. Para ser justo com Zahnd, eu queria registrar o seu protesto. Embora seja certamente possível chamar o livro do Apocalipse de “estranho e violento” (e partes dele certamente são) e dizer que não devemos usá-lo para substituir as palavras de Jesus em outros lugares, ele poderia simplesmente ter feito um comentário a respeito e elucidá-lo com passagens claras para guiar nossa compreensão daquelas que não são claras (o que eu concordaria em princípio). No contexto no entanto, é muito difícil não ver nas suas palavras uma apresentação de desdém para com o livro do Apocalipse, em especial aos seus elementos violentos. À luz da do contexto da conversa, onde ele estava expressando a si mesmo, esta é, certamente, a forma como ele aparece. Claro, todos nós, às vezes, nos expressamos de maneiras que nós não desejamos que tivéssemos feito, e meu desejo não é, certamente, julgar os motivos de Zahnd. Eu geralmente gosto de dar aos outros o benefício da dúvida. Assim vou permitir que aqueles que lêem seus comentários decidam por si mesmos.

 

Artigo de Joel Richardson (original aqui), traduzido por mim do site www.joelstrumpet.com

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