A Indiferença

O que é indiferença? Etimologicamente, a palavra significa sem diferença. Um estranho e incomum estado no qual as linhas ficam borradas entre a luz e a escuridão, o crepúsculo e o amanhecer, o crime e a punição, a crueldade e a compaixão, o bom e o mau. Quais são os seus caminhos e inescapáveis consequências? É uma filosofia? Existe uma filosofia concebível de indiferença? É possível ver a indiferença como uma virtude? É necessário, às vezes, praticá-la simplesmente para manter a sanidade, viver normalmente, aproveitar uma boa refeição e uma taça de vinho, enquanto o mundo ao redor de nós está experimentando revoltas angustiantes?

É claro que a indiferença pode ser tentadora – mais do que isso, sedutora. É muito mais fácil não olhar para as vítimas. É muito mais fácil evitar as tão rudes interrupções a nosso trabalho, a nossos sonhos, a nossas esperanças. É afinal, estranho, perturbador, estar envolvido na dor e no desespero de outra pessoa. Ainda assim, para a pessoa que é indiferente, seus vizinhos ou vizinhas não são importantes. E, portanto, a vida delas não tem significado. Suas angústias, escondidas ou visíveis não são importantes. Indiferença reduz o outro a uma abstração.

Melhor um deus injusto a um indiferente, felizmente o verdadeiro Deus não é assim. O homem pode viver longe de Deus – não fora de Deus. Deus está em qualquer lugar onde estejamos. Até mesmo no sofrimento? Até mesmo no sofrimento.

De certa forma, ser indiferente a esse sofrimento é o que faz o humano ser desumano. A indiferença, no fim das contas, é mais perigosa que a raiva e o ódio. A ira, às vezes, pode ser criativa. Alguns escrevem um poema, uma grande sinfonia. Alguns fazem algo especial para a humanidade porque estão com raiva da injustiça que presenciaram. Mas a indiferença nunca é criativa. Até o ódio, às vezes, pode extrair uma resposta. Você luta com ele. Você o denuncia. Você o desarma.

A indiferença não extrai resposta. A indiferença não é uma resposta. A indiferença não é um começo, é um fim. E, portanto, a indiferença é sempre amiga do inimigo, já que beneficia o agressor – nunca a sua vítima, cuja dor é aumentada quando ele ou ela se sentem esquecidos. O prisioneiro político em sua cela, a criança faminta, os refugiados sem-teto – não responder à sua situação, não aliviar sua solidão por meio do oferecimento de um brilho de esperança é exilá-los da memória humana. E, ao negar a humanidade dessas pessoas, nós traímos a nossa.

A indiferença, então, não é somente um pecado, é uma punição. E essa é uma das mais importantes lições dos experimentos deste século com o bom e o mau.

Quando adultos travam guerras, as crianças perecem. Nós vemos os rostos delas, seus olhos. Nós escutamos os seus apelos? Nós sentimos as suas dores, suas agonias? A cada minuto uma delas morre de doença, violência, fome. Algumas delas – tantas delas – poderiam ser salvas.

E então, mais uma vez, eu penso no jovem garoto judeu das montanhas Cártapos. Ele acompanhou o homem que me tornei por todos esses anos de busca e luta. E, juntos, nós andamos em direção ao novo milênio, carregados por profundo medo e extraordinária esperança.

** Trechos retirados e adaptados do discurso de Elie Wiesel, Prêmio Nobel da Paz de 1986 em seu discurso realizado em 12 de Abril de 1999 na Sala Leste da Casa Branca.

Meu Comentário: Eu imagino hoje como Elie Wiesel atualizaria esse discurso e suas palavras finais após o que temos visto no mundo nos últimos anos. Com certeza ele enfatizaria que nada aprendemos com a história e que estamos caminhando para cometer erros ainda maiores que os do século 20, os quais ele pôde presenciar na carne quando era prisioneiro das forças alemãs em Auschwitz-Birkenau, na Polônia. Estamos vendo a indiferença dominar a maioria das pessoas no mundo e, ainda pior, essa mesma indiferença também alcançou a muitas igrejas e púlpitos, locais sagrados que deveriam ser o reduto último de tudo o que representa o Reino de Deus e a Sua justiça. Rogo ao Altíssimo que avive o seu povo e abrevie aos dias, do contrário nenhum de nós poderá se salvar!

4 thoughts to “A Indiferença”

  1. Esse discurso poderia ser feito no mês passado ou na semana que vem…
    Poderia ser na Casa Branca ou na ONU, ou talvez numa das reuniões do Conselho na União Européia, pois todos parecem indiferentes com o que está acontecendo com milhares de Cristãos.

    Eu tenho medo de ser indiferente, peço a Deus que envie o Espírito Santo para mim… Acredito que estamos mais perto do FIM do que do Início.

  2. É verdade, como é triste ver que o sofrimento ou até a alegria do outro já não importa mais para muitos. A banalização da morte, da fome, da violência, etc. está crescente. O amor realmente está esfriando na humanidade . Devemos suplicar : Maranata! Maranata! Maranata!

  3. 33 Em II-Tessalonicenses 2.7 e 8: O iníquo será revelado depois que seja tirado aquele que o resiste. Entendo que seja O MANÁ ESCONDIDO; ou seja o Espirito Santo. Em Sardes (apo 3.03) ele vem e fechará a porta para as 5virgens insensatas. (porta da graça) e muitos não perceberão! As virgens vencedoras “dignas” serão tomadas porque andaram com fé em Jesus pelo caminho (2000 anos +ou-). Depois do arrebatamento de Enoque os que morrerem nos 42 meses iniciais da semana de Daniel serão ressuscitados no 5°selo; estes são os mortos que JESUS traz consigo em I-Ts 4.14 (5°selo inicio da porta estreita e 6°selo final da porta estreita) e depois de 1260dias no arrebatamento de Elias ele transforma os vivos e ressuscita os que morrerem no final Grande tribulação; ou seja, são os mortos dos 3dias e meio; também são do 6°selo; São dois tipos de mortos diferentes naquela ocasião, os mortos que JESUS traz consigo e os mortos que ainda estão aqui (I-Ts 4.16). Mateus 7:03 e 04: alguns querem tirar o cisco do olho do irmão (arrebatamento – um piscar de olhos), mas ainda não enxergaram a trave que está no seu próprio olho (penhor do Espirito Santo – quase 2000 anos, Efésios 1.13 e 14 também II-Corintios 1.22). É por isso Paulo diz que desejava estar ausente do corpo (físico) para estar presente com o SENHOR que é o penhor do Espirito Santo, porém sabia que que estando ainda neste corpo estava ausente do altíssimo. (II-Corintios 5) E se não conseguem ver tanto, (a garantia do Espirito Santo) menos ainda encontrarão a porta que poucos encontram, (descanso para vossas almas) ou seja, a porta estreita. Porta estreita é o 5°selo do Apocalipse, ou seja vestes brancas para as almas. Paz!

  4. A indiferença não é normal, não é e nem deveria ser mesmo, mas infelizmente é o que ocorre no mundo hoje, o amor esfriou como profetizou o Senhor. A hipocrisia ou patologia da indiferença domina e nós os que amam a vinda do Senhor sabemos que o único antídoto será o Seu retorno para que haja restauração e cura plena, pois desde a queda de satã toda a criação jaz no maligno, a indiferença é um dos sintomas disto. Apesar de não sofrermos todos os momentos do dia pelo próximo que padece, seja qual for o mal, mesmo porque não suportaríamos tamanha empatia à dor, nossa natureza não consegue suportar tal fardo, foi por isto mesmo a primeira vinda de Jesus Cristo, mas vive sim, e isto é fato, o cristão, uma agonia constante de um desejo consumidor pela Plenificação em Cristo Jesus, quando se der a concretude de todas as coisas. E na verdade só ainda suportamos esses tempos, por causa da abreviação como é dito na Palavra, e, pela firme esperança na certeza do Seu retorno para o desfecho final. Que o Senhor continue a nos suster de pé até esta hora, nos suprindo com o combustível da perseverança na fé.

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